‘Deixa Ela Entrar’ não é o típico filme de vampiro

(Foto: Divulgação) São Paulo – Não se engane. “Deixa Ela Entrar”, que estreia em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre nesta sexta-feira (2), não é o típico filme de vampiros. […]

(Foto: Divulgação)

São Paulo – Não se engane. “Deixa Ela Entrar”, que estreia em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre nesta sexta-feira (2), não é o típico filme de vampiros. A presença de um personagem com caninos longos e sugador de sangue pode fazer este filme sueco parecer uma obra de terror, mas esse drama triste e angustiante passa longe das convenções cinematográficas estabelecidas para esse tipo de personagem.

O único horror aqui é sobreviver às crises da adolescência. Também não se encontra um retrato romantizado, como na série “Crepúsculo”.

O drama sueco está mais interessado em explorar as dificuldades do amadurecimento e a forma como um amor pode entrar na vida das pessoas do que paixonites juvenis – embora os protagonistas estejam na adolescência.

Dirigido pelo sueco Tomas Alfredson, a partir de um roteiro assinado por John Ajvide Lindqvist, baseado em seu romance, “Deixa Ela Entrar” é um filme que confia mais em seus visual poderoso para conduzir a narrativa do que em contar uma história pelo simples fato de contar uma história.

A neve é uma constante numa paisagem gélida, assim como os ambientes interiores sempre parecem frios e claustrofóbicos. Em meio a esses tons de branco e azul acinzentado, sempre que o sangue irrompe é um vermelho forte que se destaca e nos faz lembrar da condição humana dos personagens e de nós mesmos.

Oskar (Kåre Hedebrant) tem 12 anos e parece viver no seu próprio mundo. Na escola, é atormentado pelos meninos mais velhos e maiores. Seu único amigo também logo o abandona para ficar com os outros garotos. Em casa, passa boa parte do tempo sozinho enquanto a mãe trabalha. Não é a toa, que a chegada de Eli (Lina Leandersson), sua nova vizinha, é um acontecimento em sua vida.

Do estranhamento inicial entre esses dois solitários nasce uma forte ligação e um senso de proteção mútua. Mesmo sem muito entender quem é Eli e por que ela age de forma estranha – nunca vai à escola, só aparece à noite, parece não tomar banho – Oskar abre o seu mundo para ela. Há uma figura estranha na vida da menina: Hakan (Per Ragnar), com quem ela divide o apartamento.

Aos poucos, Oskar, acompanhado do público, começa a desvendar quem é Eli. Num momento, ela quer entrar no apartamento do menino, mas ele não a convida. Ela insiste para ser convidada, mas ele se faz de difícil. A menina cruza a porta mesmo assim. O que se segue então é visualmente tão belo quanto assustador, e emocionalmente ressonante.

É nesse momento que Oskar parece, finalmente, descobrir que está diante não de uma criança como ele, mas de uma figura ímpar. Uma desconfiança que pouco depois será confirmada.

Essas dores dos jovens personagens de “Deixa Ela Entrar” podem ser lidas metaforicamente como as dores do crescimento, as dificuldades do amadurecimento psicológico e de encontrar o seu lugar no mundo. Para a maioria das pessoas, a adolescência é a fase mais complicada da vida, repleta de indefinições e com forte pressão para a tomada de decisões que terão um peso grande no futuro.

Os personagens enfrentam problemas típicos desse período e são obrigados a fazer opções cujas conseqüências terão que carregar por toda a vida. Num momento, ele pergunta para a menina se ela é um vampiro. Mas o que ele diz depois transforma o filme em algo tão comovente quanto tocante: Quer ser minha namorada?

Ao dirigir “Deixa Ela Entrar”, Alfredson conseguiu não apenas um apuro visual, em seus tons frios, fotografado por Hoyte Van Hoytema, e câmera elegante, mas também duas performances memoráveis dos jovens atores.

Sem medo de lidar com questões controversas, como a identidade sexual de Eli, o longa faz retrato honesto e tocante de adolescentes problemáticos que, no fundo, guardam as aflições de todos nós – independentemente da idade. E é melhor ver o original antes que chegue o remake hollywoodiano que, certamente, vai deixar de fora tudo aquilo que importa nesse filme e o banalizá-lo numa simples história de vampiros.

Fonte: Reuters

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