‘Caro Francis’ recupera figura do jornalista

São Paulo – Jornalista de formação, Nelson Hoineff tornou-se cineasta em 2006, quando assinou o documentário “O Homem Pode Voar”, sobre o pioneiro da aviação, Santos Dumont. Depois disso, especializou-se […]

São Paulo – Jornalista de formação, Nelson Hoineff tornou-se cineasta em 2006, quando assinou o documentário “O Homem Pode Voar”, sobre o pioneiro da aviação, Santos Dumont. Depois disso, especializou-se em filmes sobre temas e personalidades polêmicas. Um deles foi o recente “Alô, Alô, Terezinha”, sobre o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha. O outro, “Caro Francis”, sobre o jornalista Paulo Francis (1930-1997), chega nesta sexta ao cinema em São Paulo.

No Rio, sua estreia está prevista para o dia 22. Crítico de teatro e colunista dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, depois comentarista de televisão, Francis tornou-se conhecido por uma disposição para criticar tudo e todos sem meias palavras. Como quando afirmou na Folha, durante a campanha presidencial de 1989, que, caso Lula ganhasse a presidência, “o Brasil voltaria para o tempo do carro de bois”.

Na época, ele também escreveu no mesmo jornal que se deveria votar em Fernando Collor de Mello porque era “branco como nós”.

Alguns consideravam este estilo agressivo um sinal de independência e pensamento original. Outros o julgavam irresponsável – como ele foi, efetivamente, ao fazer acusações que não podia provar contra a Petrobras. Francis dizia na TV que a diretoria da Petrobras “punha dinheiro na Suíça” e era “a maior quadrilha que já existiu no Brasil”. Em resposta, o então presidente da empresa, Joel Rennó, processou-o em Nova York, numa ação em que o pedido de indenização alcançava 100 milhões de dólares.

Amigo pessoal de Francis, Hoineff defende a tese de que esta ação judicial “matou” Francis, que morreu em decorrência de problemas cardíacos. Além disso, insinua ter havido algum tipo de negligência do médico do jornalista, Jesus Cheda, ouvido no filme.

O documentarista incorre em procedimento antiético ao deixar um microfone ligado na sala em que conversava com Joel Rennó e usar este áudio no filme. Em debate sobre o filme no Festival de Paulínia, em julho de 2009, o próprio Hoineff admitiu ter feito isto sem o conhecimento de Rennó, que não quis dar-lhe entrevista.

Tomando nitidamente o partido de seu amigo morto, Hoineff também edita de forma um tanto maldosa a entrevista concedida por Caio Túlio Costa, ex-secretário de redação da Folha de S. Paulo, que manteve com Francis uma disputa que causou a saída do colunista do jornal. Em resposta, na época, Francis chamou Túlio de “lagartixa”, entre outras coisas.

A maior falha deste documentário é não se encontrar lugar para declarações dos críticos de Francis, apenas para os seus amigos e admiradores, caso de Sergio Augusto, Daniel Piza e Diogo Mainardi, e sua viúva, a jornalista Sonia Nolasco.

Por tudo isto, o documentário não consegue traçar um perfil abrangente de seu biografado. Quem não conheceu Paulo Francis não pode realmente avaliar quem foi e o papel que exerceu na imprensa brasileira a partir do material apresentado, que inclui participações do próprio jornalista na televisão.

Fonte: Reuters

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