Campina Grande

Após escândalo com pastor evangélico a favor da escravidão, prefeito libera carnaval

Decreto do prefeito Bruno da Cunha Lima (União Brasil) não resistiu à pressão popular e a um escândalo envolvendo um pastor que participaria de evento que a prefeitura queria favorecer

Divulgação/Sede-PB
Divulgação/Sede-PB
Povo de Campina Grande e a Justiça local garantiram a festa na íntegra

São Paulo – A prefeitura de Campina Grande (PB) recuou e revogou nesta quinta-feira (18) decreto municipal de segunda-feira (15) que proibia desfile de blocos carnavalescos nos principais pontos da cidade. “Acabamos de anular o decreto que nasceu de um TAC (termo de ajustamento de conduta) assinado com o Ministério Público (MP) e que regulamentava os locais dedicados aos festejos de carnaval”, escreveu o prefeito Bruno da Cunha Lima (União Brasil) em sua conta pessoal na rede social X, antigo Twitter.

Segundo o prefeito, o decreto anterior não visava proibir a festa. Mas “garantir segurança e organização para a população em geral”. O decreto revogado impedia os blocos de sair pelas ruas de alguns bairros entre os dias 8 e 13 de fevereiro. E também de se reunir próximo a hospitais, clínicas, instalações policiais, terminais rodoviários e shoppings.

“Não vejo problema em voltar atrás de uma decisão/solução quando se tem uma solução ainda melhor”, acrescentou o prefeito, revelando ter discutido a medida com organizadores do maior grupo local e “chegado a um consenso que permitiu compatibilizar os horários/itinerários do bloco com o Carnaval da Paz”; o evento religioso é realizado anualmente durante o carnaval, no centro da cidade, ponto reservado pelo decreto.

Na tarde de ontem (17), o juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública de Campina Grande, Ruy Jander Teixeira, atendeu a uma ação popular e suspendeu os efeitos do Decreto municipal 4.813/2024, que proibia o desfile de blocos carnavalescos nos principais pontos da cidade.

Carnaval prejudicado em favor de evangélicos escravagistas

O recuo coincide também com o escândalo envolvendo um participante no evento religioso: o pastor evangélico Douglas Wilson, da congregação americana Igreja de Cristo, que defende o direito de cristãos escravizarem negros. A organização do congresso “Consciência Cristã” cancelou o convite a Wilson.

Apoiador do ex-presidente Donald Trump, o pastor usa trechos da Bíblia que supostamente embasariam a defesa da escravização de outros seres humanos. Ele publicou recentemente dois livros que buscam “tirar o estigma” do sistema escravista do sul dos Estados Unidos, popularmente conhecido pela forte influência da extrema-direita sob os governos locais.

Wilson sustenta seus argumentos na tese de que a vitória do Norte abolicionista impediu a ida de africanos escravizados para o estado da Virgínia, onde supostamente encontrariam “mestres piedosos”. Sua produção acadêmica visa produzir elementos de que a escravidão seria algo “positivo”.

O presidente da organização, Euder Faber, disse por meio de nota, ontem, ue as causas do cancelamento foram a distorção na interpretação de falas sobre o tema sensível da escravidão, que acabou gerando “polêmicas”. E também o risco de “incitação de crime de ódio e uma escalada de violência física” contra os participantes do evento.

Após recuo, nova convocação para a festa

Após anunciar a revogação da proibição, a prefeitura, por sua vez, publicou em sua página na internet uma nova convocação para que blocos, escolas de samba, “bois” e demais grupos carnavalescos se cadastrem na Secretaria de Desenvolvimento Econômico para participar do Campina Folia e Carnaval Tradição 2024.

O cadastramento será realizado até as 12h do próximo sábado (20), por meio de formulário on-line. “Vale frisar que os já cadastrados no período de 8 a 12 de janeiro não necessitam realizar novo cadastro. A reabertura do cadastro visa à identificação de possíveis novos eventos na cidade”, explicou a prefeitura ao listar os requisitos necessários. Amanhã (19), a partir das 9h, haverá reunião no Teatro Municipal Severino Cabral, na qual a prefeitura promete ampliar as tratativas com os representantes dos grupos interessados.

“O compromisso da gestão municipal é de sempre promover um diálogo contínuo com a sociedade. Sendo assim, após realizarmos o período de credenciamento entre os dias 8 e 12 de janeiro, a prefeitura reabre o cadastramento até o próximo sábado, garantindo um prazo maior para o cadastro de novos blocos e eventos carnavalescos”, salientou a secretária de Desenvolvimento Econômico, Tâmela Fama.

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Redação: Cida de Oliveira, com Agência Brasil e CartaCapital