Estreia

‘Amor, Plástico e Barulho’ escancara o universo da música brega

Trama do primeiro longa-metragem de Renata Pinheiro mostra sucesso instantâneo, declínio relâmpago, sexo e intriga. Filme chega aos cinemas nesta quinta-feira (22)

Divulgação

Filme mostra embate entre a condição de estrela decadente da cantora e o sonho do estrelato da dançarina

“Quem sabe cantar, canta, não fica aí só se rebolando. (…) Comecei de baixo, minha filha. Mas o dia que eu cantei a primeira música foi um estouro. Aí, começou o inferno. (…) Esse negócio de sucesso é descartável, feito um copinho de plástico bem vagabundo, quando tu tá usando ainda, ele se rasga todo. E tu vai usando até a última gota, até a última gotinha. O tempo vai, amassa mais ainda e joga fora.” A frase é de Jaqueline, protagonista do filme Amor, Plástico e Barulho, que estreia nesta quinta-feira (22) em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Maceió.

O primeiro longa-metragem dirigido pela pernambucana Renata Pinheiro é uma ficção que conta a história de Jaqueline (Maeve Jinkings), cantora de música brega que já emplacou alguns sucessos e agora amarga o declínio de sua carreira, e de Shelly (Nash Laila), uma jovem dançarina que sonha em se tornar cantora. Já nos primeiros minutos, quando a banda Amor com Veneno entra em uma boate, encabeçada por Jaque, fica claro que ela e Shelly vão disputar os holofotes.

Os ambientes que as duas frequentam são casas de shows populares cuja precariedade fica evidente na cena em que dividem um banheiro sujo para vomitar. Deslumbrada com “tanto glamour”, Shelly inveja Jaque e, ao perceber que esta começa a perder espaço no “show business”, pinta o cabelo de loiro e ataca Allan (Samuel Vieira), ex de Jaque e cantor que acaba de virar o novo astro da música brega romântica.

O trunfo do filme é mostrar o universo da música brega do jeito que ele realmente é, sem maquiagem nem julgamento. E expor o embate entre a condição de estrela decadente de uma e o sonho do estrelato da outra. Porém, no meio caminho, Renata tenta ambientar o espectador na Recife de hoje em dia com imagens do YouTube que mostram as mudanças arquitetônicas pelas quais a cidade vem passando.

Sobressaem as danças sensuais, o sexo, os closes indiscretos… Amor, Plástico e Barulho não tem medo de explorar o corpo, porém a maior parte das cenas picantes parece gratuita já que elas não ajudam a contar a história, cheia de intrigas e de frustrações. Além de bons atores, o filme tem um ótimo argumento (a cena brega na periferia do Nordeste); roteiro e montagem não bastam para prender o espectador.

O que compensa a ida ao cinema são alguns momentos muito fortes, como quando Jaque canta, chorosa, o clássico brega Chupa que é de Uva, do grupo Aviões do Forró. Há também a cena em que Shelly e Allan se beijam no meio da boate e, como em um passe de mágica, caem em uma cama vermelha de motel. É emocionante ver a atuação de Maeve e Nash Laila durante todo o filme, e em especial a cumplicidade que alcançam numa cena no final do filme, quando dançam abraçadas ao som de Amendoim Torradinho, na voz de Ângela Maria, gravada em 1958.

Para quem não gosta desse estilo musical, atenção: prepare-se para sair do cinema cantando o “sucesso” de Allan, da banda Amor com Mel: “Tchau-tchau, bye-bye, amor, eu tô fora. Não te quero mais, vou viver a minha história. Ha-ha, de você só tenho pena. Gostei quando você falou ‘Sou gostosa loira ou morena’”.

Amor, Plástico e Barulho
Direção:
Renata Pinheiro
Diretor assistente: Sergio Oliveira
Roteiro: Sergio Oliveira e Renata Pinheiro
Produção executiva: Sergio Oliveira e Iván Granovsky
Direção de fotografia: Fernando Lockett
Direção de Arte: Dani Vilela
Montagem: Eva Randolph
Elenco: Nash Laila, Maeve Jinkings, Samuel Vieira, Leo Pyrata, Rodrigo García
Produção: Aroma Filmes
Coprodução e distribuição: Boulevard Filmes
Ano: 2013
Duração: 86 minutos
País: Brasil
Classificação: 18 anos