'Não é tragédia, é crime'

Manifestantes pedem responsabilização da Braskem pela destruição de bairros em Maceió

Na região central da capital de Alagoas, chamaram atenção para o maior crime ambiental em curso no Brasil, cujo afundamento do solo devido à mineração já levou à retirada de mais de 60 mil pessoas de suas casas

Mykesio Max/Comunicação MST
Mykesio Max/Comunicação MST
A empresa também pode ser questionada em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional

São Paulo – Moradores dos bairros afetados pelas atividades de mineração da Braskem e apoiadores fecharam a Avenida Fernandes Lima, uma das principais vias de Maceió, em protesto contra a empresa, na manhã desta quarta-feira (6). Com faixas e cartazes, o grupo cobrou do poder público medidas necessárias para que responsabilizar a Braskem pelo afundamento do solo em diversos bairros da capital alagoana.

“A Braskem é criminosa”, destacou a integrante da brigada urbana do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Alana Barros. “Vem destruindo bairros, destruindo o ecossistema dessa região e nós dizemos não a todo processo de destruição e exigimos não só o processo digno para as vítimas, mas a criminalização dessa empresa”, disse.

Além dos que tiveram que evacuar os bairros, moradores da área dos Flexais também participaram do protesto para cobrar a inclusão no mapa de risco e o pagamento de indenizações. Eles denunciaram que a mineradora, ao afundar Maceió, “está destruindo sonhos e vidas”. E cobraram também o encerramento da operação da Braskem. “Quantas vidas teu lucro carrega?”, questionava um cartaz.

A situação é tensa desde a semana passada, quando a prefeitura de Maceió decretou situação de emergência devido ao risco iminente de colapso da mina n° 18, da Braskem, no bairro Mutange. De acordo com a Defesa Civil municipal, em caso de um colapso, poderia se abrir uma cratera maior do que o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. A gravidade exigiu a evacuação de residências e até de um hospital de prontidão na região. Cerca de 60 mil pessoas tiveram de deixar suas casas.

O clima de insegurança da população, porém, vem desde 2018. O que foi lembrado no ato desta quarta. Mais de 14 mil imóveis em cinco bairros de Maceió precisaram ser desocupados nos últimos anos por conta das atividades da Braskem. E somente as famílias que viviam na área de risco direto foram incluídas no programa de compensação financeira da mineradora.

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Caso é o maior desastre ambiental em curso no país

O caso é considerado o maior desastre ambiental urbano em curso no país, atingindo uma área equivalente a 20% do território de Maceió. Na região existem mais de 30 poços poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica e explorado pela Braskem. O uso do minério começou em 1979 e se manteve até maio de 2019, quando foi suspensa pela mineradora um dia após a divulgação do laudo pelo Serviço Geológico.

O órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia concluiu, na época, que as atividades da Braskem em uma área de falha geológica causaram tremores e o afundamento do solo. No laudo, os cientistas afirmam que o tremor de terra de 2018 aconteceu em razão do desmoronamento de uma das minas. E que havia a existência de outras minas deformadas e desmoronadas.

Pedido de CPI da Braskem no Congresso

A empresa também pode ser questionada em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional. O pedido de instalação foi feito pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), que tenta a abertura dos trabalhos já neste ano. O objetivo é investigar quem teria deixado de fazer seu papel e, assim, contribuído para o possível desmoronamento do solo no bairro. O pedido, porém, é questionado por parlamentares que apontam também um suposto conflito de interesses entre “investigado e investigador”, na figura de Calheiros, que já foi presidente da antiga sal-gema, adquirida pela Braskem.

Em entrevista ao programa Central do Brasil, transmitido pela TVT, a ativista Evelyn Gomes, integrante do Observatório Caso Braskem, defendeu que uma CPI no Congresso sobre o caso pode ser um passo importante para a responsabilização da empresa. Ela ressaltou, no entanto, que a investigação precisa envolver setores da sociedade civil e abrir perspectivas sobre novos comportamentos da mineração no Brasil. Mas disse temer que a comissão, em Brasília, acabe se transformando numa disputa entre forças políticas de Alagoas.

“Essa CPI precisa mirar em como responsabilizar essa empresa e como achar caminhos para que a mineração não seja tão predatória no Brasil como ela foi aqui em Maceió”, afirmou.

Redação: Clara Assunção