Subprefeito da Sé elogia iniciativas culturais no centro e convida: ‘Venham dialogar’

Em entrevista à RBA, Marcos Barreto, que tem violão no gabinete, afirma ainda que desafio é requalificar áreas urbanas da Sé: 'Queremos nos transformar em instância local de governo'

Festival Baixo Centro inunda a região da Sé com atividades culturais até o próximo domingo, 14 (Foto: Divulgação)

São Paulo – O subprefeito da Sé, Marcos Barreto, espera que os movimentos culturais que defendem uma maior ocupação do centro de São Paulo devem mudar sua atitude em relação à prefeitura. “Esse grupos nasceram num momento de não diálogo”, lembra, fazendo referência à gestão Gilberto Kassab (PSD), que governou a cidade entre 2006 e 2012. “A orientação do prefeito Fernando Haddad (PT) é inversa: manter as portas abertas.”

O subprefeito entende que é da natureza de movimentos como Baixo Centro – que esta semana organiza um festival autônomo na região da Sé – ocupar espaços públicos sem pedir autorização a ninguém. “É a proposta deles”, reconhece. “A gente respeita, mas quer frisar que está junto: nosso papel é estimular a ocupação do centro com cultura, e não vetá-la. Se precisarem de alguma contribuição, a gente pode ajudar.”

Com um violão no canto do gabinete, Marcos Barreto afirma que, nestes 100 primeiros dias de governo, tem conversado muito com os diferentes setores sociais interessados no centro. Apenas em março, garante, manteve mais de 120 reuniões com grupos, entidades e movimentos.

Em entrevista à RBA, o subprefeito pontua que os maiores desafios de sua gestão passam pela requalificação do espaço urbano na região, enquanto a grande prioridade é fazer da subprefeitura uma instância de governo local. “As políticas públicas devem ser elaboradas pelas secretarias, mas quem deve executá-las são as subprefeituras.”

Como o sr. vê os movimentos culturais que pregam uma maior ocupação do centro?

Vejo com bons olhos: é um desejo legítimo de retomar os espaços públicos para manifestar arte, música, dança, fazer esportes, caminhar, andar de bicicleta etc. Esses movimentos nasceram num momento de não diálogo. A orientação do prefeito Fernando Haddad é inversa: manter as portas abertas para o diálogo. Isso vai sugerir uma mudança de comportamento desses movimentos. Por exemplo, estivemos conversando com o pessoal do Festival Baixo Centro, que tenta fazer as coisas no limite do que não precisa de autorização.

Eles acreditam que, sim, podem ocupar os espaços sem pedir autorização. Por isso, se resguardam a fazer eventos com características que se encaixam nesse desenho. A gente está respeitando isso, claro, mas estamos juntos. Se precisarem de alguma contribuição, nossa intenção não é vetar, mas aprovar e ajudar a organizar no que for possível e no que eles acharem que precisam do nosso apoio. Porque também é importante respeitar a autonomia do movimento: eles nasceram com essa característica e nós vamos respeitar isso sempre.

A retomada do carnaval de rua na cidade faz parte dessa estratégia?

Quando chegamos, nos deparamos com a véspera do carnaval. A orientação inicial era de que a gente só reconheceria os blocos legalizados, que estão ligados a duas associações. Mas chamamos todos os blocos que pretendiam desfilar e sentamos com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana (GCM) e São Paulo Transportes (SPTrans) para organizar tudo. Isso não significa dar apoio de recurso ou logística a todos os blocos, porque não estava programado, mas se a gente sabe que eles vão sair, tem que, no mínimo, organizar o trânsito para dar segurança aos foliões.

A gente também tem de garantir limpeza adequada, policiamento e fiscalização pra que não tenha venda de bebida alcoólica para menores de idade. É uma série de ações que podemos fazer, e diria, que é obrigação do poder público fazer. Essa postura foi bastante acertada. Não podemos fingir que os blocos não existem, como acontecia antes. É uma questão de bom senso: estabelecer diálogo e organizar as coisas. É melhor pra cidade porque é bom que tenha carnaval no centro. O carnaval do sambódromo é midiático, é pra televisão. O carnaval que as pessoas podem brincar é o carnaval de rua. Então, que bom que existe.

Agora que há tempo para planejar, o que a subprefeitura pretende fazer?

No próximo ano, a ideia é começar mais cedo, fazer um edital no modelo do Rio de Janeiro. A gente acredita que este ano houve cerca de 80 blocos na cidade. No Rio foram 450. Talvez isso seja demais e nem tenhamos fôlego pra tanto, mas certamente temos espaço pra ter mais blocos. Vamos fazer algo sem conflito com os moradores, negociar tudo. Algumas pessoas ficam descontentes? Ficam, a cidade tem seu dinamismo. Mas negociar é sempre muito melhor do que ser surpreendido com movimentos da noite para o dia. O que estamos fazendo é dar uma racionalidade, apoiando esse movimento geral que vemos com muito bons olhos. É uma ocupação positiva do centro, que tem como carro-chefe a cultura, seja dança, música, teatro. Isso humaniza o centro, faz o centro ser melhor.

Nesse processo de diálogo, vocês mapearam alguns setores que se colocam contra esse tipo de ocupação cultural do centro?

Contra não. Às vezes alguns grupos de moradores pedem que haja mais diálogo com eles. Na Praça Roosevelt, por exemplo, eles reclamam não exatamente dos eventos que ocorrem por ali, mas de outras coisas: por que a caixa de som, em vez de ficarem viradas para os prédios, não ficam viradas para o outro lado da praça? São sugestões desse tipo, simples de solucionar, e que fazem sentido. Até porque eles sabem que moram numa praça e que a praça é de todos. Não é um condomínio fechado. Mas eles querem interagir e fazer sugestões.

Não há movimentos de moradores – pelo menos que se manifestem publicamente como uma maioria ou com força política – contrários aos skatistas, por exemplo. Mas querem preservar espaços onde possam caminhar sem serem atingidos por skates voadores. Por isso, acho que o diálogo vai fazer bem pra cidade. As pessoas têm de perceber que devem convencer os demais com suas ideias e abrir mão de algumas posturas pra garantir o que é mais importante: a convivência. Assim haverá entendimento.

Quais os maiores desafios da sua gestão?

São imensos. Por exemplo, não estou nada feliz com o padrão de zeladoria urbana que temos aqui. Acho que a Sé tem muito que melhorar em termos de coleta de lixo, varrição das ruas e na limpeza de uma forma geral. Em relação às áreas verdes, estamos longe de ter um padrão satisfatório. Ainda mais nesta época de chuvas, o mato está numa altura que não se justifica. Ao mesmo tempo, temos o desafio de fazer a subprefeitura ser aquilo que ela estava destinada a ser quando foi colocada na Lei Orgânica do Município, em 1991, e quando foi criada, em 2002: ser efetivamente uma instância local de governo.

Hoje, não é esse o papel da subprefeitura. As secretarias desenvolvem e executam as políticas. Cabe às subprefeituras apenas a regulação de uso e ocupação do solo e ações de zeladoria urbana, quando, na verdade, acho que a gente precisava ter no âmbito das subprefeituras a execução das políticas públicas. Claro, a formatação da política de habitação, saúde e educação tem de ser feita pelas secretarias, mas a execução dessa política poderia ser feita no âmbito da subprefeitura.

Outro desafio é requalificar determinadas áreas. Temos ruas comerciais incríveis no centro, com uma riqueza e faturamento muito grandes: 25 de Março, Santa Ifigênia, José Paulino. São ruas com muita força, mas que ainda não têm o padrão urbano que deveriam. A calçada é estreita, a iluminação deveria ser um exemplo, mas é ruim. A sujeira é grande. Temos de requalificar esses espaços e também os calçadões, que estão muito deteriorados: há vários buracos, alguns pedaços solapados pelo próprio peso dos carros que passam por ali pra levar mercadoria. E é um calçadão só de passagem, quando acho que deveria convidar o cidadão a permanecer por ali alguns momentos: não há bancos nem floreiras nem iluminação à altura.