Falta negociação nacional com policiais, diz especialista em segurança
Guaracy Mingardi descarta a possibilidade de movimento orquestrado e diz que se tratou de uma ação conjunta combinada publicamente pela aprovação da PEC 300 (Foto: Christian Rizzi/ ©Folhapress) São Paulo […]
Publicado 13/02/2012 - 18h39
Guaracy Mingardi descarta a possibilidade de movimento orquestrado e diz que se tratou de uma ação conjunta combinada publicamente pela aprovação da PEC 300 (Foto: Christian Rizzi/ ©Folhapress)
São Paulo – Para o especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, as paralisações de policiais militares da Bahia e do Rio não deveriam surpreender os governadores e seriam evitadas com negociação antecipada. “Todo mundo sabia da greve”, afirmou em entrevista à Rede Brasil Atual. “Não faltou informação. Talvez não tenham dado credibilidade a ela”, afirmou. Para ele, mais algumas greves devem ocorrer este ano.
Diante da informação das paralisações, Mingardi esperava que os governos abrissem o processo de negociação, mas, para ele, o que se viu e culminou nas greves foi o desprezo ao diálogo com a categoria. Outro equívoco é o jogo de empurra-empurra entre governos estaduais e o federal e a falta de negociação nacional. “Os governos deveriam ter começado uma negociação nacional e o governo federal deveria ser o grande mediador dessa conversa”, avaliou.
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“Tudo isso criou um caldeirão fervendo”, cujo quadro só mudará se a pressão for retirada aos poucos, pela negociação e diálogo, enfatizou. “Esse caldeirão é feito de achatamento salarial nos últimos 40 anos e a insatisfação profissional de estarem em uma carreira em que não ganham bem e ainda não têm respeito social”, descreveu o especialista.
O dia a dia dos policiais é uma amostra do caldeirão. “Em São Paulo, um policial honesto, a não ser que tenha bens de família, é obrigado a ter duas profissões ou mais para sobreviver”, disse. “Na Polícia Militar, eles trabalham 12 horas e folgam 36. Na folga, eles fazem 12 horas de bico. Ou seja, eles trabalham 12 horas por dia, sete dias por semana. O sujeito está estressado o tempo todo. Assim você comprime e cria pressão na categoria.”
Demora
Na Bahia, o pesquisador sobre segurança pública destacou como problema adicional a demora em negociar as gratificações reivindicadas pelos policiais. “Se o governo estadual tivesse dado as Gratificações por Atividade Policial (GAPs ) antes, não teria adesão e o movimento seria esvaziado”, demonstrou. No Rio, não foram as prisões que reduziram o movimento, mas a aprovação de aumento salarial pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
O especialista refuta a tese de orquestração de greves, como se tratasse de algo combinado às escuras. Segundo ele, a movimentação dos policiais em defesa de melhores salários é uma discussão nacional e pública das associações militares, principalmente em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 300, que cria um piso nacional para a categoria e um fundo para o custeio do aumento de gastos. “Nada acontece por um motivo só. Há as questões locais, especialmente os baixos salários, e a discussão da PEC no fundo”, disse.
Modelo ruim
Além dos baixos salários, o analista criminal é contrário ao modelo de segurança público brasileiro, dividido em duas forças policiais: uma que realiza a investigação e outra que faz o trabalho preventivo e ostensivo. “Nosso modelo é ruim. Temos dupla polícia em uma mesma área, mas com orientações diferentes”, apontou. “É difícil contentar as duas. Estão sempre discutindo.” Faltaria ao país uma polícia que trabalhe o “círculo completo”. Mas a discussão já dura 30 anos.
No estado de São Paulo, onde Mingardi atuou como secretário municipal de Segurança Pública de Guarulhos, ele sugere a unificação das polícias civil e militar, com divisão por regiões geográficas. “Aposto em uma mesma polícia, com todas as funções.” Mas o modelo pode mudar de estado para estado. O ponto essencial, chama a atenção, é que exista uma discussão séria sobre o assunto, sem empurra-empurra.