Desmoronamento em rio engole rua de favela e ameaça casas na zona leste de SP

Sem intervenção do governo do estado, responsável pela área, moradores se organizam para reconstruir encosta e evitar que moradias caiam no rio

Desde novembro, pelo menos oito famílias convivem com um buraco de três metros a 80 centímetros da porta de casa (Fotos: Paulo Pepe/RBA)

São Paulo – Um desmoronamento no córrego Oratório, afluente do rio Tamanduateí, de responsabilidade do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), causou a erosão de uma rua e ameaça oito casas ribeirinhas da favela Barbeiro de Sevilha, na zona leste de São Paulo. Em algumas moradias, o buraco, de cerca de três metros, está a apenas 80 centímetros da porta de entrada.

Em frente à casa da auxiliar de enfermagem Alcineide da Cruz, antes passavam dois carros, agora passa só uma pessoa a pé, segundo ela. “Eu já deixo separada uma pasta com documentos e roupas do meu bebê. Quando começa a chover eu pego tudo e saio de casa, porque tenho medo que ela desmorone no rio. A água faz um barulho assustador. Não temos paz.”

Alcineide

A situação se arrasta desde 16 de novembro do ano passado, quando a primeira parte da rua começou a ceder. De lá para cá os moradores têm procurado recorrentemente a subprefeitura da Vila Prudente e o governo do Estado, que não chegam a um acordo para resolver a situação.

O DAEE afirma que as causas do acidente ainda estão em análise. Segundo o órgão, só será possível fazer uma intervenção no local depois que a subprefeitura retirar as famílias. Não houve inscrição dos moradores em programas sociais do governo do estado. 

A subprefeitura da Vila Prudente afirmou por meio da assessoria de imprensa que ofereceu auxílio aluguel de R$ 300 mensais, caso as famílias deixem suas casas. Argumenta que não foi feita inscrição em programas de moradia definitiva porque não se trata de uma área de risco. “É a irregularidade da ocupação que provoca o risco”, diz a nota.

“Como vamos deixar nossas casas por R$ 300?”, questiona Alcineide, que mora há 30 anos na residência de três andares, com mais nove pessoas da família, entre elas duas crianças. “Temos medo de sair enquanto o governo do estado faz a obra e nisso eles derrubarem nossas casas.”

De acordo com o DAEE, o córrego Oratório esta inserido em um projeto de canalização, que prevê a cobertura de 8.100 metros do rio, até a divisa com o município de Santo André, no ABC paulista.

Maurílio

O pintor Maurílio José da Rocha, que também mora em frente ao buraco com a esposa e as duas filhas, conta que sente medo que a casa desmorone com as chuvas. “Quando chove a água do rio sobe quase até a rua e aqui no buraco forma um grande redemoinho, que vai fazendo a encosta ceder cada vez mais.”

Para garantir a segurança da família, ele conta que já procurou casas para alugar na favela, mas que os preços são elevados. “Uma de dois cômodos esta entre R$ 600 ou R$ 700. Uma de três fica entre R$ 800 e R$ 900. E eu não tenho fiador, por isso teria de adiantar três meses de aluguel. Com que dinheiro?!”

Sem um acordo entre o poder público, os moradores começam a se organizar para tentar, eles mesmos, reforçarem a encosta do rio e impedirem desabamentos. “Vamos sair pedindo dinheiro para as pessoas da comunidade. Já consegui dois sacos de cimento. Vamos acabar gastando o que não temos, mas é o jeito. Temos de preservar nossas casas”, diz Alcineide.