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Vannuchi pede que agressão a coronel não leve a revide da PM de São Paulo

Para analista da RBA, espancamento ocorrido na última sexta-feira (25) foi grave e desumano. Apesar disso, ele espera que a morte de adolescente no Jaçanã não seja início de vingança

Gabriela Batista/Mídia NINJA

A arma do policial foi roubada durante a manifestação e ele teve a clavícula quebrada pelos agressores

São Paulo – O analista político da Rádio Brasil Atual, Paulo Vannuchi, pede para que a agressão ao coronel da Polícia Militar Reynaldo Simões Rossi não seja motivo para revide violento da instituição. A tática black bloc se misturou ao Passe Livre e promoveu esse condenável linchamento. Foi um espancamento, justiça com as próprias mãos, o que é uma brutal violação do respeito ao ser humano e dos direitos humanos”, afirma.

Na sexta-feira (25), o Movimento Passe Livre (MPL) convocou um novo grande ato em São Paulo a favor da Tarifa Zero do transporte público. A manifestação foi marcada pela ação paralela de black blocs que agrediram o coronel da PM na entrada do terminal de ônibus Parque Dom Pedro, no centro. A arma do policial foi roubada durante o protesto e ele teve a clavícula quebrada pelos agressores.

Na tarde de ontem (27), um jovem de 17 anos foi morto por um policial militar na Vila Medeiros, no Jaçanã, zona norte da capital paulista. Segundo a PM, o oficial teria ido atender a uma ocorrência de perturbação de sossego na região, por volta das 14 horas, e disparou a arma acidentalmente. Douglas Rodrigues foi baleado na região do tórax e faleceu minutos depois.

“Esse tiro que se diz acidental ocorreu 48 horas depois da PM dizer para a imprensa que ia reagir com dureza”, recorda Vannuchi. “Esse tiro pode não ter sido acidental. O tiro que matou o adolescente no Jaçanã pode ser a primeira resposta que a PM, que se sentiu agredida pelo condenável linchamento de um coronel, já começou na primeira chance que teve, 48 horas depois.”

A morte do adolescente causou revolta nos moradores e desencadeou uma série de protestos na região. Três ônibus e um carro foram incendiados, e outros, depredados. O fogo atingiu a rede elétrica do bairro, que ficou sem luz durante algumas horas.

O policial responsável pela morte do jovem foi detido na noite de ontem e será indiciado por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. Para o analista político, é necessário que haja uma investigação rigorosa da ação do oficial nesse domingo. “É gravíssimo atacar um agente do estado, como fizeram os fascistas que lincharam o coronel Reynaldo Simões Rossi, mas é mais grave ainda a violência criminosa do próprio policial que desacata ordens. Ou pior ainda, que obedece eventuais ordens de vingança e retaliação, olho por olho, dente por dente”, argumenta.

Vannuchi ainda compara o atual contexto com as chacinas promovidas pela Polícia Militar na capital e na Baixada Santista em maio de 2006. Segundo o movimento Mães de Maio, que agrega famílias de vítimas de violência policial, cerca de 500 jovens foram assassinados na época, em meio aos ataques criminosos do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra civis e policiais.

Participaram do ato pela tarifa zero cerca de 1.500 pessoas, segundo o MPL. Dessas, 92 foram detidas pela PM e levadas para os distritos policiais de Bom Retiro, Jardins, Liberdade e Mooca.

A presidenta Dilma Rousseff repudiou a agressão ao militar em sua conta no microblog Twitter. “Agredir e depredar não fazem parte da liberdade de manifestação. Pelo contrário. São barbáries antidemocráticas. A violência cassa o direito de quem quer se manifestar livremente. Violência deve ser coibida.” O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) também manifestaram apoio ao coronel e reforçaram a importância de aplicar punições cabíveis aos agressores.

Eu tenho solidariedade completa ao coronel da PM Reynaldo Simões Rossi, que representa o esforço policial, na luta pelos direitos humanos, para mudar completamente a imagem de séculos que a instituição tem no Brasil”, afirma Vannuchi.

Black Bloc

A tática black bloc consiste em atacar símbolos do capitalismo global, como shoppings e bancos, e confrontar a polícia, que é eleita a representação do estado. A ação nasceu na Europa, no final dos anos 70, com uma posição autonomista e autogestionária, que se voltava contra os próprios partidos de esquerda.

Em tese, a tática não é previamente combinada entre os participantes, mas a ação nas manifestações brasileiras tem sugerido a existência de um grupo organizado. “O black bloc não se constitui como movimento, mas como uma tática, um jeito de agir. As pessoas não se reuniriam, não se organizariam antes. Eu acho muito difícil que isso seja plenamente verdade”, questiona Vannuchi.