15M

Termina em confusão dia de mobilizações contra a Copa em São Paulo

Protesto coordenado por movimentos sociais teve bombas de gás e balas de borracha depois de atrito entre PM e adeptos da tática black bloc. Organizadores decidiram encerrar ato após episódio

Dário Oliveira/Código19/Folhapress

Confusão começou na Consolação, quando manifestantes encapuzados e PM entraram em atrito

São Paulo – Terminou em confusão o Dia Internacional de Luta contra a Copa, o 15M, em São Paulo. Após uma série de manifestações durante o dia, o ato realizado no fim da tarde na Avenida Paulista acabou reprimido pela Polícia Militar. Não ficou claro o motivo de um atrito entre adeptos da tática black bloc e policiais, iniciado na Rua da Consolação, quando a marcha caminhava em direção ao centro.

Já durante a concentração para a manifestação, na Praça do Ciclista, havia tensão entre os agentes públicos e um grupo de participantes. A Polícia Militar de São Paulo anunciou ter detido 20 pessoas que estariam portando coquetéis-molotovs e martelos na Rua Augusta. O local para onde eles foram encaminhados não foi divulgado.

Adiante, após um novo atrito, a PM passou a disparar bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, o que dividiu a marcha em dois grupos. Depois disso, manifestantes com o rosto coberto passaram a depredar uma concessionária e fecharam a rua posicionando um ônibus no meio da via.

Os organizadores decidiram dar a marcha por encerrada, mas seguiu a ação de black blocs e da PM. Manifestantes destruíram uma concessionária e os carros. A Tropa de Choque fechou a rua e ninguém pôde passar.

Black blocs deixaram a Consolação e começaram a circular pelas ruas, depredando fachadas e ateando fogo a sacos de lixo, acompanhados pela PM.

Enquanto isso, um grupo chegou a se reunir novamente na Paulista e caminhou em direção ao estádio do Pacaembu. A Praça Charles Miller teve todos os acessos fechados pela PM. Circulam por ali grupos pequenos, com no máximo dez pessoas.

Além de São Paulo, uma série de manifestações nas maiores cidades do país fecha o que ficou conhecido como Dia Internacional de Luta contra a Copa, promovido por movimentos sociais. Mobilizações foram vistas desde a manhã, com tamanhos variados e diferentes motivações, desde reivindicações trabalhistas até pedidos por controle dos valores dos aluguéis nos grandes centros.

Em São Paulo, a manifestação organizada na Avenida Paulista tinha como mote a oposição ao Mundial da Fifa. Segundo os organizadores, cerca de 3 mil pessoas participaram do ato, tendo à frente os movimentos Juntos! e Comitê Popular da Copa, acompanhados do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e da Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (Anel).

“O movimento não é contra um governo em especifico, mas a favor dos direitos sociais dos mais pobres”, disse Tiago Aguiar, do Juntos!, um movimento de jovens. O tom dos líderes da manifestação foi similar ao que havia sido adotado durante todo o dia no sentido de afirmar que não se trata de uma união contra a Copa 2014, mas contra a maneira como ela foi organizada. “A Copa acabou sendo um momento onde várias reivindicações confluíram. Temos uma pauta definida e vamos realizar mobilizações para que seja ouvida e atendida. Não diz respeito somente ao movimento se vai haver manifestações durante o evento. Isso depende da postura dos governos”, explicou o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, que admitiu a necessidade de realizar um trabalho para evitar que setores conservadores se apropriem das manifestações, como ocorreu em junho do ano passado.

Em Brasília, integrantes do Comitê Popular da Copa fincaram cruzes num canteiro próximo ao Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, em homenagem aos nove operários mortos nas obras dos estádios da Copa do Mundo. De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, de 150 a 200 pessoas participaram do ato.

Segundo Thiago Ávila, integrante do Comitê Popular da Copa, este é apenas o primeiro de uma série de protestos na capital federal. “Planejamos atos em todos os dias de jogos em Brasília, sempre com um foco de protesto diferente”, declarou. A manifestação teve o reforço de partidos políticos e sindicatos.

Em Belo Horizonte, as críticas giraram em torno do que os manifestantes classificam de higienização. A denúncia é de que moradores de rua foram ameaçados e retirados de locais de maior visibilidade da capital mineira durante a Copa das Confederações, no ano passado.

De acordo com Fidélis Alcântara, integrante do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa (Copac), os moradores de rua foram abordados com violência e não tiveram seus direitos respeitados. “No ano passado, às vésperas da Copa das Confederações, nós conseguimos flagrar várias situações de abuso, de violência policial, de violência, principalmente, da fiscalização municipal aqui em Belo Horizonte, que age brutalmente contra eles, recolhendo cobertor, papelão, muitas vezes levando a mochila com roupa, molhando o lugar onde eles dormem.”

Morador de rua há quase 20 anos, Carlos Levi, de 56 anos, diz que a população de rua teme a repressão durante a Copa do Mundo. “Já passamos muita repressão policial, mas eu estou com medo, porque eu acho que vai aumentar, eu vejo uma reclamação geral do pessoal, por causa de negócio de Copa do Mundo, do “Não vai ter Copa”. Eu vejo reclamações gerais das pessoas que vivem nas ruas, de repressão muito forte e eu acho que vai haver na Copa também, ninguém vai ficar na rua. E onde que vão nos colocar?”

De acordo com Alcântara, também há relatos de prisão de usuários de crack, acusados de tráfico, e casos suspeitos de assassinatos de moradores de rua nos últimos dois anos. “Apesar de a polícia relatar todos os casos como acertos de contas por causa de drogas ou como brigas, esse tipo de crime guarda algumas características que não são da população de rua, que, normalmente, não tem arma de fogo. No final de 2011, duas moradoras de rua foram alvejadas por tiros na região da Lagoinha, uma sobreviveu e anotou o número da viatura.”