Ativistas em SP defendem estado laico em protesto contra artigo de reverendo sobre homofobia

Manifestantes em rua na frente da Mackenzie (Foto: Andre Fisher/Twitpic) São Paulo – Centenas de pessoas participaram nesta quarta-feira (24) de um protesto na região central da capital paulista contra […]

Manifestantes em rua na frente da Mackenzie (Foto: Andre Fisher/Twitpic)

São Paulo – Centenas de pessoas participaram nesta quarta-feira (24) de um protesto na região central da capital paulista contra a homofobia. Convocado para a região da Universidade Mackenzie, estudantes e ativistas de movimentos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) ocuparam ruas próximas, com bandeiras e palavras de ordem.

Com o lema “A homofobia mata, a impunidade remata”, o protesto foi convocado por ativistas por meio de redes sociais na internet. No Facebook, a mobilização contava com o apoio de 3,7 mil pessoas. A manifestação foi uma resposta a um artigo de um reverendo da Igreja Presbiteriana que defendia questões polêmicas, com críticas à lei que pretende criminalizar a homofobia no país e a defesa do direito de a instituição, ligada à Igreja, manifestar suas posições. O reverendo Augustus Nicodemus Gomes Lopes, chanceler do Mackenzie, foi um dos principais alvos de crítica, acusado de ter endossado o conteúdo.

Pierre Freitaz, coordenador do Grupo Jovem de Ativistas da Associação da Parada GLBT, avalia que instituições de ensino não podem se manifestar de maneira retrógrada sobre orientação sexual. “O grande problema de a gente conseguir levar a diante a nossa luta é o pensamento conservador religioso. O nosso estado é laico”, completa.

Ao microfone, as manifestações indicavam que nenhuma religião deve ser maior que os direitos humanos e que é preciso assegurar que os homossexuais deixem de ser alvo de violência. Nas últimas pessoas, jovens foram agredidos na Paulista e um rapaz acabou baleado por policiais militares no Rio de Janeiro. Para os manifestantes, isso aumentou a importância de aprovar o Projeto de Lei 122 de 2006, originado na Câmara, que transforma a homofobia em crime. 

Eddie Oliveira, da Associação da Parada GLBT, é inaceitável a postura defendida pelo chanceler e por setores da imprensa que têm classificado o PL como “AI-5 gay”. “A violência contra homossexuais é fruto de ignorância, de falta de conhecimento da realidade, de um pensamento que mais parece da Idade Média.”

Para a estudante Victoria Namur, a manifestação é importante não apenas pela luta por igualdade, mas também contra os atos de violência cometidos nas últimas semanas. Namur acredita que a intolerância é fruto da perda de cultura da sociedade. “Precisamos mudar a ideologia porque o pensamento atual provoca atos que geram violência”, finalizou.

Andressa Muniz, estudante de Ciências Sociais, empunhava a faixa “A Maria Antônia está de volta. Contra a homofobia”, uma recordação à mítica rua paulistana, sede do Mackenzie, em que foram travados embates entre os estudantes desta universidade e da Universidade de São Paulo durante a ditadura. “Essa situação mostra que, apesar das liberdades que conquistamos, ainda há muito preconceito, algo que está ligado a machismo, homofobia, uma série de problemas.”

Pelo local, conhecido por manifestações conservadoras, a manifestação transcorreu sob certa tensão. O portão da universidade chegou a ser fechado e, do alto de um apartamento, foram atirados objetos contra os manifestantes, mas sem atingir ninguém. Depois disso, o ato seguiu em marcha pela Rua Augusta, tradicional reduto democrático da cidade, até a Avenida Paulista, ponto simbólico das lutas pelas conquistas LGBT e que, nas últimas semanas, tornou-se motivo de temor para a comunidade homossexual.

A manifestação desta quarta confirmou esses temores. Quando o ato se aproximava do final, na altura do Masp um rapaz usando roupas que imitam um uniforme militar tentou agredir os integrantes da passeata. Por fim, acabou contido pelos policiais, que até o fechamento desta reportagem não haviam confirmado se o agressor foi levado à delegacia para registro da tentativa de agressão.

Durante o protesto, gritos como “Abaixo o Chanceler” e “Homofobia não!” foram entoados pelos manifestantes. As aulas do Colégio Mackenzie também foram suspensas durante a tarde em função do ato. Lideranças políticas como o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL) e a ex-vereadora de São Paulo Soninha Francine (PPS) participaram da manifestação.