Dominação

Pesquisa mostra que atuação de facções e milícias no Rio está cada vez mais parecida

A exploração econômica por meio de extorsão e cobrança de taxas para serviços torna-se o denominador comum na relação desses grupos com os moradores das comunidades

Fernando Frazão / Ag. Brasil
Fernando Frazão / Ag. Brasil
Pesquisa descreve o funcionamento das dinâmicas de controle territorial de grupos armados e o efeito causado na rotina dos moradores de bairros periféricos

São Paulo – Pesquisa lançada ontem (22) pelo Núcleo de Pesquisa Urbana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostra que o comportamento entre facções e milícias na capital carioca está cada vez mais parecido em relação às dinâmicas cotidianas com os moradores de comunidades onde esses grupos armados atuam.

A pesquisa, financiada pela Fundação Heinrich Böll, foi realizada por cinco pesquisadores em territórios dominados por facções e grupos de milicianos. Foram considerados seis pontos críticos da cidade do Rio de Janeiro: Batan, Caju, Campo Grande, Ilha do Governador, Praça Seca e Tijuquinha.

O título da pesquisa é “Milícias, facções e Precariedade: um estudo comparativo sobre as condições de vida nos territórios periféricos do Rio de Janeiro frente ao controle de grupos armados”.

Na pesquisa, o que mais chamou a atenção dos pesquisadores é a superexploração econômica, que hoje não é mais “privilégio” das milícias em algumas comunidades. Outros dois pontos da pesquisa que merecem atenção é o que os pesquisadores nomearam como “operação consorciada” entre milícias e facções e o “Empreendedorismo parasitário”, quando todos os grupos armados compartilham do mesmo método de domínio dos territórios de pobreza por meio do uso da violência generalizada para garantir o pagamento de taxas sobre atividades econômicas.

O principal objetivo do estudo, feito através de trabalho nas áreas escolhidas, é descrever o funcionamento das dinâmicas de controle territorial de grupos armados e o efeito causado na rotina dos moradores de bairros periféricos.

O trabalho de campo, realizado por cinco pesquisadores da UERJ, investigou diferenças e semelhanças na relação de grupos armados com moradores e suas organizações. O principal resultado da pesquisa aponta que a atuação desses grupos é determinada pela presença ou ausência de confrontos nos territórios onde a pesquisa de campo foi realizada.

Além disso, o estudo também aponta que, em regiões onde não há confronto policial, os grupos armados têm uma presença mais difusa no território e, diante disso, os moradores sentem o impacto do controle de forma diferente dos moradores de locais onde a presença de grupos armados é mais ostensiva.

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O que também chamou a atenção dos pesquisadores foi o fato de que a frequência dos confrontos ou a ameaça constante de que eles aconteçam acabam produzindo uma sociabilidade local mais conflituosa, através de altos graus de vigilância e monitoramento por parte dos grupos armados, fato que tem gerado constante reclamação de moradores por conta da ausência da  “paz” que teria caracterizado momentos anteriores, seja em regiões dominadas por grupos de milícias ou por facções de traficantes de drogas.

Superexploração econômica

Nos locais considerados “mais tranquilos” (Campo Grande e Tijuquinha), os pesquisadores conseguiram identificar que a superexploração econômica por parte das milícias (cobrança de taxas abusivas e monopólio de serviços) tornou a relação desses grupos com os moradores muito mais violenta e conflituosa.

Nas áreas onde as milícias são consolidadas, além da exploração econômica, também foram expandidos os tipos de recursos explorados por esses grupos, ou seja, não existem mais atividades econômicas que não sejam cobradas por eles.

Confira a íntegra da pesquisa