Diálogo

Dilma recebe Passe Livre. Movimento publica carta com ironias e críticas

Movimento questiona por que Dilma vetou pontos do plano de mobilidade urbana, pede tratamento melhor a manifestantes e cobra responsabilidade por mortes provocadas pela Força Nacional

Antonio Cruz/ABr

Em texto, MPL diz que reunião com Dilma não sacia anseios e espera solução para as reivindicações

São Paulo – Integrantes do Movimento Passe Livre de São Paulo estão sendo recebidos pela presidenta Dilma Rousseff. Na manhã de hoje (24) o MPL divulgou uma carta aberta direcionada a Dilma. Os ativistas, responsáveis pela convocação dos atos exigindo a revogação dos aumentos em trens, metrô e ônibus da cidade, são os primeiros líderes de organizações sociais a serem recebidos no Palácio do Planalto após o início das manifestações.

Participam também da reunião, que começou por volta das 14h, o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o secretário executivo da Secretaria-Geral, Diogo de Santana, a secretária nacional da Juventude, Severine Carmem Macedo. Os representantes do MPL são Mateus Preis, Marcelo Caio Nussenzweig Hotimsky, Mayara Longo Vivian e Rafael Bueno Macedo Siqueira.

Os atos organizados pelo Passe Livre foram o estopim para uma série de outros protestos por todo o país. Agora, a carta cobra um posicionamento de Dilma em relação à proposta da tarifa zero, bandeira histórica do movimento e em relação à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 90, de 2011, que inclui o transporte no rol dos direitos sociais e outras legislações que incentivam o transporte público. “Embora priorizar o transporte coletivo esteja no discurso de todos os governos, na prática o Brasil investe onze vezes mais no transporte individual, por meio de obras viárias e políticas de crédito para o consumo de carros”, diz o documento.

“O dinheiro público deve ser investido em transporte público! Gostaríamos de saber por que a presidenta vetou o inciso V do 16º artigo da Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei nº 12.587/12) que responsabilizava a União por dar apoio financeiro aos municípios que adotassem políticas de priorização do transporte público”, acrescenta.

A carta sugere que o governo federal tome a frente do processo de transformar o transporte em realmente público e condena a política de desoneração de impostos, o que, afirmam, significa perder o controle sobre a locomoção e pontencializar o lucro dos empresário do setor. “A municipalização da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), e sua destinação integral e exclusiva ao transporte público, representaria um passo nesse caminho em direção à tarifa zero.”

Na carta, o MPL reafirma sua posição apartidária e de esquerda, mas se diz surpreso com o convite da presidenta classificando como um tratamento diferente do que tem sido destinado a outros movimentos sociais. E lembra situações em que houve repressão a manifestações populares e defende a desmilitarização da Polícia Militar. “No Mato Grosso do Sul, vem ocorrendo um massacre de indígenas e a Força Nacional assassinou, no mês passado, uma liderança Terena durante uma reintegração de posse; no Distrito Federal, cinco militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram presos há poucas semanas em meio às mobilizações contra os impactos da Copa do Mundo da Fifa.”

O texto termina sinalizando que a reunião não sacia todos os anseios do movimento, que espera solução para as reivindicações postas. “Mais do que sentar à mesa e conversar, o que importa é atender às demandas claras que já estão colocadas pelos movimentos sociais de todo o país. Contra todos os aumentos do transporte público, contra a tarifa, continuaremos nas ruas! Tarifa zero já!”