12 de abril

BH: pesquisa mostra que manifestantes foram às ruas contra o PT e os avanços sociais

Segundo estudo da UFMG, um terço dos que foram ao centro da capital mineira considera que mulheres, negros e homossexuais têm 'direitos demais' e mais da metade é contra cotas sociais

Alberto Wu/Futura Press/Folhapress

Manifestações de ódio ao PT têm sido a tônica dos protestos organizados por grupos conservadores pelo país

São Paulo – Os cerca de 2,5 mil manifestantes que foram à Praça da Estação, no último domingo (12),  em Belo Horizonte, foram motivados por um forte sentimento de rejeição ao PT, mas também por severa intolerância às políticas de inclusão social implementadas nos últimos 12 anos. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa realizada pelo grupo de estudos Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com 348 manifestantes, cujo objetivo foi traçar um perfil ideológico dos participantes.

“Existe muita resistência à ideia de avanços sociais e de extensão de direitos às minorias. A rejeição ao PT deriva também de ser, até então, o partido mais comprometido com a ideia de igualdade”, avalia a professora de Ciências Políticas e coordenadora do grupo, Helcimara Telles. A maior parte dos manifestantes era branca, com ensino superior completo e renda acima de cinco salários mínimos. Esse último dado, no entanto, acabou não sendo compilada, porque as pessoas começaram a evitar revelar a renda “para não parecer que só tem rico protestando”, disse a professora.

Pelo menos um terço dos manifestantes (36,1%) acha que negros, mulheres e homossexuais “têm direitos demais”. A pesquisa mostra que 70,1% são contra as cotas raciais, 77,8% avaliam que os programas assistências deixam as pessoas preguiçosas e 70,7% são contra o programa Mais Médicos. A maioria do grupo também avalia que pobres são desinformados (75,6%) e que os nordestinos têm menos consciência política (56,8%).

Para 78%, o Brasil está pior do que estava há dez anos, o que seria culpa do PT, que faz “um grande mal para o país”, segundo 90,6% dos que protestavam domingo. Somente 33,6% declararam ter ido protestar contra a corrupção e 92% querem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

“O sentimento é derivado de uma falha do partido, do próprio governo, de ser mais efetivo no combate à corrupção. Mas existe uma parcela dos manifestantes que resiste fortemente ao PT por conta das políticas desenvolvidas nesse tempo no poder. O partido é odiado pelo que fez de ruim, mas também pelo que fez de bom”, explicou Helcimara.

Para a professora, chama a atenção a inserção de pautas conservadoras no discurso dos manifestantes, ao mesmo tempo em que defendem certos valores tidos como democráticos. São 92,6% os que consideram a liberdade de expressão fundamental para a sociedade e 91,2% são contra o fechamento do Congresso Nacional.

Ao mesmo tempo, 46,6% defendem que seja aplicada pena de morte no país, e 61,4% do total defendem o porte de armas para os cidadãos. Defendem a redução da maioridade penal 81,5% e 42% apoiam uma intervenção militar em caso de caos social. Outros 30% acreditam que todos os partidos políticos deviam ser extintos para a criação de novas legendas.

“Temos um perfil, ideologicamente, bastante conservador. É clara a descrença no sistema político, inclusive no próprio resultado da eleição. Temos um caldo autoritário que está crescendo no país e que pode levar ao surgimento de lideranças e de candidatos ‘outsiders’, que consigam articular esses sentimentos”, explicou a professora.

Segundo Helcimara, é difícil saber quem seria o herdeiro político dessa insatisfação, caso os protestam cresçam e atinjam o objetivo declarado, que é o impeachment da presidenta Dilma.

O candidato derrotado à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, foi o escolhido na última eleição por 81% dos manifestantes. Mas, no domingo, somente 50% declararam que votariam nele novamente. Ao mesmo tempo, são expressas intenções de voto no ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e no deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).

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