5 anos

Para pesquisadora, UPPs têm balanço positivo, mas devem reavaliar atuação

Governador avalia que ataques contra unidades são reação desesperada do crime e não abalam atuação dos policiais

Governador avalia que ataques contra unidades são reação desesperada do crime e não abalam atuação dos policiais

São Paulo – A política de segurança das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na cidade do Rio de Janeiro precisa ser reavaliada para garantir a manutenção da pacificação das favelas, em vista dos recentes ataques de criminosos às sedes dos grupamentos. A avaliação é de Silvia Ramos, cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, que considera essa situação uma mudança no padrão de comportamento do crime quanto à atuação do Estado.

“A reação dos criminosos nos primeiros anos das UPPs foi um pouco de imobilismo e estarrecimento. Nós tínhamos uma tradição no Rio de Janeiro em que se anunciava uma política de segurança que não durava. Depois desse período e agora, com a expansão, certos setores de grupos criminosos saíram do imobilismo e resolveram fazer uma política de enfrentamento mais direto”, explicou Silvia. A pesquisadora acompanhou a implantação das primeiras UPPs. Ela estuda o fenômeno da criminalidade no Rio de Janeiro há mais de uma década.

Para Silvia, a principal questão deve ser a transição da polícia de ocupação para a comunitária. “Está mais do que óbvio que a polícia não tem sido capaz de manter canais permanentes de diálogo, de escuta da população local, de criação de fóruns comunitários, de canais de queixas e reclamações. Em muitas comunidades, o comandante da UPP ainda se arvora a direitos, missões e coisas que não são da alçada da polícia”, avaliou.

No entanto, ela considera que o balanço dos cinco anos de implementação da política é positivo, pois houve uma queda significativa na taxa de homicídios na maior parte das áreas onde há UPPs. “A maior decepção é a falta de políticas sociais. Hoje o que caracteriza uma favela é a quantidade de lixo na entrada. Isso para não falar no esgoto, saneamento e desordenamento urbano”, destacou Silvia.

Para o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, os recentes ataques às unidades não são motivo de preocupação. “É a reação do crime organizado a uma mudança inesperada para eles, tanto da milícia quanto do tráfico, que durante 30 ou 40 anos viveram basicamente na impunidade. No Complexo do Alemão, até a nossa chegada, fazia dez anos que não havia uma operação policial efetiva. Essa mudança de paradigma modifica a correlação de forças para o crime organizado, que se enfraquece, deixa de ter o domínio territorial, e a venda da droga fica muito mais difícil”, avaliou.

Cabral pretende deixar o governo com 40 UPPs entregues. Atualmente são 36, com a primeira unidade instalada em 2008, no Morro Dona Marta, em Botafogo, zona sul da cidade. Para ele a política é um caminho sem volta. “Vamos avançar com as companhias pacificadoras, que é um estágio entre a companhia convencional e a UPP. Vamos avançar com mais UPPs. Continuar contratando policiais militares, prosseguir com concursos públicos na Polícia Civil. É um processo que não para e eu tenho certeza de que é um caminho sem volta”, disse.

O secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, considera que as UPPs não são garantia de que a violência vai desaparecer, mas de que será combatida. “Os casos de violência infelizmente existem e vão existir. Não há garantias de que isso nunca mais vá acontecer. Se isso existe em vários lugares do país e do mundo, imagine em lugares historicamente conflagrados. O que nós temos que estar é atentos. Essas incidências, eu posso garantir, são muitíssimo menores do que eram há sete ou oito anos. Nós não temos ilusão de que esse é um trabalho fácil”, afirmou.

Beltrame ponderou também que os avanços sociais não são responsabilidade da Secretaria de Segurança e que os demais setores precisam se articular e agir. “A UPP é a vanguarda do Estado dentro desse lugares. A pacificação é a janela de oportunidade para que as coisas aconteçam. Nossa função é proporcionar que outras instituições façam o que já deveria ter sido feito há muito tempo. Se o Rio de Janeiro não procurar integrar a favela ao asfalto, não vira a página da violência”.

Com reportagem da Agência Brasil