Para Kassab, crítica sobre demora de tratamento a usuários em São Paulo é ‘equivocada’

Três meses após o início da operação na 'cracolândia', o Complexo Prates foi inaugurado. Espaço conta com unidades de assistência social e saúde, e tem como prioridade dependentes vindos da Luz

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, Gilberto Kassab, minimizaram as críticas à Operação Sufoco, tida como um exemplo de política higienista (Foto: Fábio Arantes/Secretaria de Comunicação da Prefeitura)

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), criticou hoje (27) as análises feitas em torno do atraso do município em organizar espaços de saúde para dependentes químicos. A abertura do Complexo Prates, na região central, com capacidade de atendimento de saúde e assistência social para 1,2 mil pessoas por dia, foi adiada duas vezes desde o início da Operação Sufoco, em 3 de janeiro, na Luz. Desde então, a ação de repressão ao tráfico de drogas tem sido o eixo principal da ação integrada entre as administrações municipal e estadual.

“É uma análise equivocada esta da demora para implementação do espaço. Falta boa vontade de algumas pessoas em avaliar. As ações de segurança pública poderiam acontecer normalmente porque temos outros equipamentos no centro, como albergues. O Complexo é um a mais”, defendeu. Questionado sobre a migração dos usuários de crack da região da Luz com a ação policial desencadeada nos primeiros dias do ano, o prefeito novamente se esquivou das críticas. “Cada dia é um novo momento. É evidente que é uma região que passa por um avanço. Se comparado a ontem, hoje está melhor. Se comparado há dois meses, melhor ainda”, disse.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) também saiu em defesa da operação, traçada em conjunto. “A operação está indo muito bem. Os esforços que foram feitos na região da Luz trouxeram muitos benefícios”, disse ele, prendendo-se aos números dos últimos balanços sobre prisões e internações voluntárias. De acordo com ele, o movimento de usuários no local, chamado de “cracolândia”, diminuiu “muito” graças aos esforços da prefeitura em revitalizar a Luz. “Nas ruas Helvétia e Dino Bueno não tinha como passar. Hoje é uma outra realidade na região”, disse o governador, que em janeiro circulou pela região em um automóvel, sem caminhar. A ação de dispersão de dependentes químicos coleciona denúncias de abuso da Polícia Militar, além de ser duramente criticada por movimentos de direitos humanos, que a consideram higienista.

Presente à inauguração, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, enalteceu a “união de forças” entre as esferas públicas para a realização do projeto. “A abertura deste centro é prova de que não é possível combater o crack sozinho, com ações isoladas”, disse. Logo após o início da Operação Sufoco, Padilha também havia se posicionado a favor da integração dos governos –em especial dos municípios – para o enfrentamento ao crack e outras drogas. Além dos R$ 6,4 milhões do governo federal anunciados para o investimento do município em janeiro, o ministro confirmou aporte adicional de R$ 30 milhões para a finalidade. Ao todo, são R$ 560 milhões disponíveis aos municípios de todo o estado provenientes do pacote de ações do governo federal contra o crack.

Padilha reforçou também a necessidade de apostar no tratamento especializado com os dependentes químicos, recurso ainda carente no estado. “Cada um entrou na droga por um motivo diferente, e precisa ter tratamento especial”, afirmou. Além das unidades de atenção psicossocial, serão colocados à disposição 500 leitos de comunidades terapêuticas em São Paulo. O ministro defendeu novamente a internação involuntária sob avaliação de profissional em casos graves, embora acredite que o recurso não seja o “centro” da recuperação do usuário.

O Complexo Prates, que inicia trabalhos a partir de hoje, conta com centro de acolhimento de adultos, abrigo para menores, espaço de convivência, Centro de Atenção Psicossocial III Álcool e Drogas (Caps-AD) e Assistência Médica Ambulatorial (AMA) 24 horas. Os espaços oferecidos são abertos, com destaque ao galpão de 3,2 mil metros quadrados da área de convivência, com quadra para esportes. A proposta é de que o espaço seja a “continuidade das ruas” aos usuários que ainda resistem ao tratamento, nas palavras da vice-prefeita e secretária municipal de Assistência Social, Alda Marco Antônio.

Para o padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, a expectativa com a oferta é que o local garanta a oportunidade à maior quantidade possível de usuários. “Esperamos agora que as pessoas não sejam trazidas em camburão da Polícia Militar, e tenham sua cidadania respeitada e direito à saúde assegurado”, disse.