Transporte Público

Organizadores celebram mobilização contra reajuste, mas não conseguem deter ‘radicais’

Movimento Passe Livre convoca quarta manifestação em menos de uma semana para barrar aumento da passagem na capital; protestos têm conseguido adesão cada vez maior

Danilo Ramos/RBA

Organizadores orientam manifestantes a não agirem com agressividade nem entrarem na provocação de policiais

São Paulo – Em atividade desde 2005, quando foi oficialmente constituído durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, o Movimento Passe Livre (MPL) comemora aquela que avalia como a maior mobilização popular contra o reajuste da tarifa do transporte público já vista na cidade de São Paulo em toda sua trajetória. “Isso é fruto dos aumentos constantes e da qualidade lastimável do serviço prestado por ônibus, trens e metrôs”, avalia Rafael Siqueira, 38 anos, militante do MPL desde 2006. “Cada vez mais os cidadãos consideram injustos esses reajustes.”

A atual jornada de protestos contra o aumento da passagem – que passou de R$ 3 para R$ 3,20 no último dia 2 – começou há menos de uma semana, com uma passeata na última quinta-feira (6). De lá para cá, foram mais duas manifestações: no dia seguinte, sexta-feira, e ontem (11). E o número de participantes só fez aumentar. “Já não somos apenas um pequeno grupo de pessoas que defende o passe livre”, continua Siqueira. “Agora temos sindicatos, partidos de esquerda, organizações estudantis e movimentos sociais indo para as ruas contra o aumento. A maioria é de jovens.”

A forte repressão policial que ontem acossou os manifestantes no Terminal Parque Dom Pedro II, na região central, não assustou o movimento. Está confirmada para amanhã (13) uma nova marcha para barrar o reajuste, com concentração às 17h em frente ao Teatro Municipal. “Transporte público acessível e de qualidade não pode ser uma reivindicação apenas do MPL. O direito de ir e vir envolve todos os cidadãos”, argumenta o militante, lembrando que uma pesquisa da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (ANTU) divulgada em 2010 detectou que 37 milhões de brasileiros não podem se locomover de forma regular pelas cidades pelo simples fato de não terem como custear as tarifas.

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Porém, a pluralidade que vem enchendo cada vez mais as ruas para pedir o cancelamento do reajuste acaba trazendo alguns efeitos colaterais. O MPL é quem costuma convocar os protestos e assumir a negociação dos trajetos da marcha junto à polícia. Também é o movimento que geralmente senta na mesa de negociações com o poder público – quando as autoridades municipais se dignam a recebê-lo. Mas não é responsável por todos os integrantes da passeata. “Não podemos nem queremos impedir ninguém de participar”, relata Mateus Preis, 19 anos, militante do MPL. “E nem sempre conseguimos controlar totalmente o que acontece durante as manifestações.”

Preis se refere aos episódios de violência, vandalismo e confrontos com a polícia que regularmente coroam os atos públicos contra o reajuste das tarifas. Foi o caso de duas das três manifestações realizadas até agora em São Paulo. “Quando os ânimos esquentam, esses episódios são muito dificilmente controláveis”, analisa, lembrando que a orientação do MPL é sempre pedir calma aos manifestantes, mesmo quando provocados e agredidos pela PM. “Tentamos a todo custo evitar confronto com os policiais. Às vezes dá certo, como na sexta-feira. Às vezes dá errado, como ontem.”

De acordo com os militantes do Passe Livre, os atos de vandalismo são obra de uma minoria, um grupo ínfimo e inexpressivo de manifestantes. Destacadas pelas tevês e jornais de grande circulação, porém, as imagens de pessoas com rosto encoberto, ônibus quebrados e lixo pegando fogo pelas ruas acabam suplantando a verdadeira razão dos protestos – e criando na opinião pública a ideia de que os manifestantes não passam de baderneiros que merecem mesmo é ser reprimidos pela força.

“Dá para ver claramente quais pessoas saem quebrando tudo”, continua Preis. “Em geral, não há diálogo com eles. Sequer são grupos organizados. A impressão é que se juntam para aproveitar a manifestação e colocar em prática suas desavenças ideológicas com a polícia.” A divisão do protesto entre a maioria não violenta e a minoria incendiária ficou patente ontem quando um grupo de manifestantes, entre eles o próprio Preis, salvou um policial do linchamento. “Ele estava tentando, sozinho, deter um punk com o revólver apontado para as pessoas”, lembra. “Nós interviemos, pedimos para abaixar a arma, tomamos pedrada, mas conseguimos retirá-lo da passeata.”