Entrevista

Oded Grajew: extrema direita sobrevive das estruturas que sustentam as desigualdades

Para empresário, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, o coletivo humano, para dar certo, exige relação harmoniosa entre as pessoas. Mas onde há desigualdade há desarmonia

Divulgação/Ethos
Divulgação/Ethos

São Paulo – O sistema econômico e as estruturas que comandam as sociedades são o que sustentam todas as desigualdades. E a manutenção dessas desigualdades é o que abastece, hoje, os movimentos de extrema direita pelo mundo. Desse modo, avalia o empresário Oded Grajew, o caminho para se combater a extrema direita, a violência política e os ataques às democracias é construir sociedades menos desiguais.

O cálculo parece óbvio, mas nem sempre a humanidade enxerga o óbvio. Segundo o empresário, o mundo e a história estão cheios de bons e maus exemplos a serem estudados.

“A humanidade existe há muitos anos e nos oferece oportunidade de aprender com a história. Muita coisa boa aconteceu, e muita coisa ruim. Mas parece que a gente se esquece de se realimentar com as experiências que a história nos oferece. Se você olhar hoje o mundo, você tem países de melhores qualidades de vida e outros de pior qualidade de vida”, diz.

“Tem países com ótimos indicadores sociais, econômicos, ambientais, culturais, políticos, mas outros com péssimos indicadores. E eu sempre na minha vida me interessei por bons exemplos, porque bons exemplos nos dão uma pista de que poderia ser feito para melhorar as coisas.”

O Brasil, no entanto, está entres os países mais ricos do mundo, mas é um dos mais desiguais. “E são desigualdades, no plural, porque são várias: de gênero, de raça, financeira, cultural, política. A desigualdade se alimenta de várias, e uma tem tudo a ver com outra”, explica Oded Grajew.

O empresário é pioneiro no engajamento empresarial em ações para se combaterem injustiças sociais. “Porque coletivo humano, para dar certo, precisa ter relação harmoniosa entre as pessoas”. Com essa convicção, Oded participou da criação do Instituto Ethos de Responsabilidade Empresarial, da Fundação Abrinq para os Direitos da Criança e foi um dos idealizadores do Fórum Social Mundial.

“Por exemplo, os países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Islândia) eram muito pobres, miseráveis no começo. Eu me aproximei, visitei conversei com as pessoas, governos, sindicatos de trabalhadores, empresários. E, no fundo, eles falaram o seguinte: nós chegamos a um consenso. E qual é esse consenso? É que o coletivo humano – pode ser a nossa família, nossa organização, o sindicato, o partido político; pode ser uma cidade, e pode ser um país –, qualquer coletivo humano, para dar certo, para ser bem-sucedido, precisa ter uma relação harmoniosa entre as pessoas”, resume Oded Grajew.

“E uma relação harmoniosa entre as pessoas é o mapa do sucesso dos coletivos humanos. Mas o que causa desarmonia é a desigualdade.”

Na conversa com Gustavo Conde, no Entre Vistas, da TVT, o empresário segue tentando simplificar a definição do insucesso da humanidade. “A desigualdade é a fonte da desarmonia e dos conflitos. Então, para termos um coletivo humano bem-sucedido neste país, é fundamental construir uma sociedade com a menor desigualdade possível. E aí montamos uma agenda conhecida para tornar a sociedade menos desigual: educação de qualidade para todos, sistema tributário redistribuidor de riquezas e progressivo”, exemplifica.

Mas não deixa de entrar em uma das razões da desarmonia: uma sociedade menos desigual exige uma representação política que espelhe a sociedade, para que esta encontre equilíbrio em sua representação nos poderes. “Então, o caminho para se combater a extrema direita, a violência política, o autoritarismo, os ataques às democracias, é construir sociedades equitativas. Esse é o caminho, não só para o Brasil, mas para o mundo. Infelizmente, hoje, no Brasil e no mundo, predominam sistemas econômicos e estruturas que sustentem as desigualdades.”

Acompanhe a íntegra da entrevista de Oded Grajew à TVT