MST ocupa áreas de empresa no sul da Bahia em protesto contra agrotóxicos e êxodo rural
Uso de agrotóxicos pela Suzano Papel e Celulose e expansão do eucalipto no sul da Bahia prejudica áreas cultivadas pelas famílias, denuncia MST
Publicado 27/02/2023 - 12h56
São Paulo – Cerca de mil e quinhentos militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, na madrugada desta segunda-feira (27), três áreas da empresa Suzano Papel e Celulose próximas aos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no extremo sul da Bahia. O ato é uma denúncia contra a monocultura de eucalipto na região, que vem sendo incessantemente expandida pela companhia nos últimos 30 anos.
De acordo com o MST, a empresa faz uso de agrotóxicos que prejudicam as poucas áreas cultivadas pelas famílias camponesas. Sem permitir a expansão de outras plantações, a monocultura do eucalipto também vem provocando êxodo rural.
Os agricultores familiares apontam que os municípios já enfrentam problemas relacionados à crise hídrica devido à contaminação dos solos e assoreamento dos rios. O território, segundo o movimento, sofre com a “destruição sistemática dos recursos naturais”. Tanto pela produção em grande escala de eucalipto quanto pela pulverização de venenos nas áreas dos monocultivos.
Fundada em 1924, a Suzano é uma das maiores empresas de celulose e papel do mundo. Somente no terceiro bimestre de 2022, a produtora lucrou R$ 5,44 bilhões, de acordo com faturamento divulgado em outubro. As vendas de celulose no período totalizaram 2,8 milhões de toneladas.
Desse modo, a alta foi de 5% ante o segundo trimestre e também de 5% frente a igual período de 2021. Em seu site, a Suzano se descreve como uma “empresa comprometida com as pessoas, a natureza e o planeta”.
MST cobra reparação
O MST, no entanto, contesta e exige que a produtora de celulose “arque com os graves passivos ambientais, sociais e econômicos” causados no extremo sul baiano. “Como contabilizar o custo social das milhares de famílias que foram expulsas de suas terras e hoje vivem na vulnerabilidade social das periferias das cidades e nas beiras das estradas? Como justificar o fato de nossos municípios amargarem as maiores taxas de concentração fundiária do país, e com eles graves indicadores sociais?”, questionou o movimento.
Integrante da direção estadual do MST na Bahia, Eliane Oliveira afirmou que o protesto nesta segunda leva em conta a missão e a luta por terra, moradia e alimentação saudável que caracterizam o movimento. “Enquanto tiver gente sem terra, passando fome e sem moradia essa será a nossa tarefa de fazer valer a Reforma Agrária. Reafirmamos nossa disposição de luta e construção de um país mais justo e soberano, que num país de proporções continentais, não haja tanta terra para pouca empresas e tanta gente sem terra, nosso compromisso é lutar e conquistá-la para produção de alimentos saudáveis”, destacou a dirigente.
A RBA procurou pela empresa, questionando sobre as ações de reparação dos passivos ambientais, sociais e econômicos causados na região e apontados pelo MST. Sem responder objetivamente se reconhece essas demandas e, principalmente, se pretende saná-las, a Suzano repete padrões em sua nota. Chama o movimento de “invasão ilegal”, cita o patrocínio de “projetos sociais” e busca afirmar a legitimidade de suas ações sob o argumento de que “gera empregos”.
Por fim, sinaliza que vai judicializar o caso da ocupação de parte de seu “deserto verde”, como são chamadas pelos ambientalistas as grandes áreas plantadas exclusivamente com eucaliptos. “Confiança nas leis e no Estado brasileiro (…) na busca pela defesa e preservação dos direitos de quem produz, trabalha e, com isso, gera e compartilha valor com toda a sociedade”, diz a empresa.
Confira a reação da Suzano à ocupação do MST
A empresa confirma que três áreas produtivas de sua propriedade, localizadas nos municípios de Mucuri, Teixeira de Freitas e Caravelas, no estado da Bahia, foram invadidas e danificadas ilegalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nesta segunda-feira (27/2). Tais atos violam o direito à propriedade privada e estão sujeitos à adoção de medidas judiciais para reintegrar a posse dessas áreas.
A companhia reitera que cumpre integralmente as legislações ambientais e trabalhistas aplicáveis às áreas em que mantém atividades, tendo como premissas em suas operações o desenvolvimento sustentável e a geração de valor e renda, reforçando assim seu compromisso com as comunidades locais e com o meio ambiente.
Especificamente no sul da Bahia, a empresa gera aproximadamente 7 mil empregos diretos, mais de 20 mil postos de trabalho indiretos e beneficia cerca de 37 mil pessoas pelo efeito renda, conforme metodologia adotada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).
Além disso, por meio de seus projetos sociais, programas e iniciativas na região, a empresa alcançou mais de 52 mil participantes diretos e indiretos, em 82 comunidades e mais cinco sedes municipais.
Por fim, a companhia reconhece a relevância da sua presença nas áreas onde atua e reforça seu compromisso por manter um diálogo aberto e transparente, de maneira amigável e equilibrada. Também reafirma a confiança nas leis e no Estado brasileiro, na busca pela defesa e preservação dos direitos de quem produz, trabalha e, com isso, gera e compartilha valor com toda a sociedade.