Agro é veneno

MST ocupa áreas de empresa no sul da Bahia em protesto contra agrotóxicos e êxodo rural 

Uso de agrotóxicos pela Suzano Papel e Celulose e expansão do eucalipto no sul da Bahia prejudica áreas cultivadas pelas famílias, denuncia MST

Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
MST exige que empresa de celulose "arque com os graves passivos ambientais, sociais e econômicos"

São Paulo – Cerca de mil e quinhentos militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, na madrugada desta segunda-feira (27), três áreas da empresa Suzano Papel e Celulose próximas aos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no extremo sul da Bahia. O ato é uma denúncia contra a monocultura de eucalipto na região, que vem sendo incessantemente expandida pela companhia nos últimos 30 anos. 

De acordo com o MST, a empresa faz uso de agrotóxicos que prejudicam as poucas áreas cultivadas pelas famílias camponesas. Sem permitir a expansão de outras plantações, a monocultura do eucalipto também vem provocando êxodo rural.

Os agricultores familiares apontam que os municípios já enfrentam problemas relacionados à crise hídrica devido à contaminação dos solos e assoreamento dos rios. O território, segundo o movimento, sofre com a “destruição sistemática dos recursos naturais”. Tanto pela produção em grande escala de eucalipto quanto pela pulverização de venenos nas áreas dos monocultivos. 

Fundada em 1924, a Suzano é uma das maiores empresas de celulose e papel do mundo. Somente no terceiro bimestre de 2022, a produtora lucrou R$ 5,44 bilhões, de acordo com faturamento divulgado em outubro. As vendas de celulose no período totalizaram 2,8 milhões de toneladas.

Desse modo, a alta foi de 5% ante o segundo trimestre e também de 5% frente a igual período de 2021. Em seu site, a Suzano se descreve como uma “empresa comprometida com as pessoas, a natureza e o planeta”. 

MST cobra reparação

O MST, no entanto, contesta e exige que a produtora de celulose “arque com os graves passivos ambientais, sociais e econômicos” causados no extremo sul baiano.  “Como contabilizar o custo social das milhares de famílias que foram expulsas de suas terras e hoje vivem na vulnerabilidade social das periferias das cidades e nas beiras das estradas? Como justificar o fato de nossos municípios amargarem as maiores taxas de concentração fundiária do país, e com eles graves indicadores sociais?”, questionou o movimento. 

Integrante da direção estadual do MST na Bahia, Eliane Oliveira afirmou que o protesto nesta segunda leva em conta a missão e a luta por terra, moradia e alimentação saudável que caracterizam o movimento. “Enquanto tiver gente sem terra, passando fome e sem moradia essa será a nossa tarefa de fazer valer a Reforma Agrária. Reafirmamos nossa disposição de luta e construção de um país mais justo e soberano, que num país de proporções continentais, não haja tanta terra para pouca empresas e tanta gente sem terra, nosso compromisso é lutar e conquistá-la para produção de alimentos saudáveis”, destacou a dirigente. 

RBA procurou pela empresa, questionando sobre as ações de reparação dos passivos ambientais, sociais e econômicos causados na região e apontados pelo MST. Sem responder objetivamente se reconhece essas demandas e, principalmente, se pretende saná-las, a Suzano repete padrões em sua nota. Chama o movimento de “invasão ilegal”, cita o patrocínio de “projetos sociais” e busca afirmar a legitimidade de suas ações sob o argumento de que “gera empregos”.

Por fim, sinaliza que vai judicializar o caso da ocupação de parte de seu “deserto verde”, como são chamadas pelos ambientalistas as grandes áreas plantadas exclusivamente com eucaliptos. “Confiança nas leis e no Estado brasileiro (…) na busca pela defesa e preservação dos direitos de quem produz, trabalha e, com isso, gera e compartilha valor com toda a sociedade”, diz a empresa.

Confira a reação da Suzano à ocupação do MST

A empresa confirma que três áreas produtivas de sua propriedade, localizadas nos municípios de Mucuri, Teixeira de Freitas e Caravelas, no estado da Bahia, foram invadidas e danificadas ilegalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nesta segunda-feira (27/2). Tais atos violam o direito à propriedade privada e estão sujeitos à adoção de medidas judiciais para reintegrar a posse dessas áreas.

A companhia reitera que cumpre integralmente as legislações ambientais e trabalhistas aplicáveis às áreas em que mantém atividades, tendo como premissas em suas operações o desenvolvimento sustentável e a geração de valor e renda, reforçando assim seu compromisso com as comunidades locais e com o meio ambiente.

Especificamente no sul da Bahia, a empresa gera aproximadamente 7 mil empregos diretos, mais de 20 mil postos de trabalho indiretos e beneficia cerca de 37 mil pessoas pelo efeito renda, conforme metodologia adotada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).

Além disso, por meio de seus projetos sociais, programas e iniciativas na região, a empresa alcançou mais de 52 mil participantes diretos e indiretos, em 82 comunidades e mais cinco sedes municipais.

Por fim, a companhia reconhece a relevância da sua presença nas áreas onde atua e reforça seu compromisso por manter um diálogo aberto e transparente, de maneira amigável e equilibrada. Também reafirma a confiança nas leis e no Estado brasileiro, na busca pela defesa e preservação dos direitos de quem produz, trabalha e, com isso, gera e compartilha valor com toda a sociedade.