Mostra em SP traça painel sobre a memória de regimes autoritários

Evento tem exibições de filmes gratuitas ou a preços módicos e realiza debates sobre as violações ocorridas no Brasil e em outras partes do mundo

“Ação entre Amigos” é um dos filmes selecionados para a Mostra. Direitos de reprodução foram cedidos por produtoras (Foto: Divulgação)

Ocorre a partir desta terça-feira (4) em São Paulo a mostra “Espectros em retrospecto: o cinema como memória de regimes autoritários”. Como o nome diz, trata-se de ver como o cinema tratou os governos arbitrários na América Latina.

Organizado pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (Nevusp), o evento tem exibições e debates no Cinusp, na Zona Oeste paulistana, e na Galeria Olido, no centro.

Nascido na fase de redemocratização, o Nevusp intensificou nos últimos anos a discussão sobre os regimes autoritários. Chama atenção dos pesquisadores a diferença do Brasil em relação aos vizinhos. Ou melhor, o atraso em julgar os envolvidos em violações e, além disso, reconstruir a história.

“Tem todo um movimento que a gente está vendo agora para recolocar essa questão. Há várias questões da Corte Interamericana de Direitos Humanos no sentido de punir esses países”, afirma Roberta Astolfi, uma das organizadoras da mostra.

Ação Entre Amigos (Foto: Divulgação)

Recentemente, intensificou-se entre os integrantes do Nevusp a discussão sobre a necessidade de atrair mais gente para o debate, “não ficar apenas falando para aquela plateia de convencidos”, na palavra de Astolfi. A ideia é, com um debate democrático, mostrar que a ideia de enterrar o passado está equivocada.

Ao longo dos últimos meses, foram selecionados filmes de vários países que narram fatos ocorridos durante regimes autoritários. Todas as produções a serem exibidas tiveram os direitos autorais cedidos por diretores e por produtoras. Roberta Astolfi aponta que a ideia é “fazer um grande panorama sobre o tema. A gente, batendo nas portas, viu que muitas se abriram imediatamente”.

Ação Entre Amigos (Foto: Divulgação)

Além dos filmes, há debates com estudiosos do assunto, diretores e arqueólogos – a intenção é debater arqueologia forense, modalidade que existe em países vizinhos, mas tem pouco relevo no Brasil. Alguns deles ocorrem depois de sessões duplas de curtas e média-metragens. Uma dessas sessões exibe “15 filhos” e “Sônia viva e morta”, produções que narram os terrores da ditadura, respectivamente, pela visão dos filhos e dos pais.

Outra exibição em destaque é “Trás los pasos de Antígona”, produção argentina que mostra justamente os trabalhos de arqueologia forense e motiva o debate sobre o assunto. A Equipe Argentina de Arqueologia Forense foi criada em 1984 com o fim de buscar os desaparecidos durante a última ditadura (1976-1983).

E como explicar que, no país vizinho, tenha-se buscado imediatamente a condenação dos repressores, ao passo que no Brasil o caminho foi de buscar indenizações, com anistia generalizada? Os fatores, aponta Roberta Astolfi, são vários: “qualquer pessoa na Argentina conhece alguém que sofreu uma atrocidade, o que não é o caso do Brasil. O número acaba fazendo a pressão social. Logo na queda do regime começou o movimento por Justiça, diferentemente do Brasil, em que primeiro houve a conciliação”.

Espectros em retrospecto:
o cinema como memória de regimes autoritários

3 a 9 de agosto
Cinusp Paulo Emílio e Galeria Olido
Entrada gratuita no Cinusp e R$ 1 e R$ 0,50 (meia entrada) na Galeria Olido
www.nevusp.org/mostra

 

PROGRAMAÇÃO: 

Ação entre Amigos
BRA, 1998. Dir.: Beto Brant. Ficção, 76 min.
4 de agosto, 16h (Cinusp)
5 de agosto, 19h30 (Galeria Olido)

Cavallo entre Rejas
ARG/MEX, 2006. Dir.: Susana Erenberg Rotbard, Laura Imperiale, María Inés Roqué. Doc, 50 min.
6 de agosto, 16h (Cinusp)
7 de agosto, 19h30 (Galeria Olido)

Cidadão Boilesen
BRA, 2009. Dir.: Chaim Litewski. Doc. 92 min.
8 de agosto, às 19h (Galeria Olido) Sessão seguida de debate

O Caminho Irracional – Inédito
ALE, 2005. Dir.: Thorsten Trimpop. Doc., 95 min.
4 de agosto, 17h (Galeria Olido)
5 de agosto, 19h (Cinusp)

A História Oficial
ARG, 1985. Dir.: Luis Puenzo. Fic., 112 min.
4 de agosto, 19h30 (Galeria Olido)
7 de agosto, 16h (Cinusp)

Matar a todos: La verdad duele pero cura
UY/CH/ARG/ALE, 2007. Dir.: Esteban Shoroeder. Fic. 92 min.
6 de agosto, 19h (Cinusp)
9 de agosto, 17h (Galeria Olido) Sessão de Encerramento, com debate.

Memória para uso diário
BRA, 2007. Direção: Beth Formaggini. Doc., 94 min.
4 de agosto, 15h (Galeria Olido)
7 de agosto, 19h (Cinusp)

A Morte e a Donzela
EUA/INGL/FRA, 1994. Dir.: Roman Polanski. Fic. 103 min.
6 de agosto, 15h (Galeria Olido)

Em minha Terra
ING/RSA, 2004. Dir.: John Boorman. Fic., 100 min.
6 de agosto, 17h (Galeria Olido)

Que Bom te Ver Viva
Brasil, 1989. Direção: Lucia Murat. Doc./Fic. 100 min.
3 de agosto, 19h (Cinusp)
8 de agosto, 17h (Galeria Olido)

Los Rubios
ARG, 2003. Dir.: Albertina Carri. iFc./Doc., 89 min.
7 de agosto, 17h (Galeria Olido).

O Último a Saber – Inédito
ALE, 2006. Dir.: Marc Bauder, Dörte Franke. Doc. 72 min.
3 de agosto, 16h (Cinusp)
6 de agosto, 19h30 (Galeria Olido)

Vlado: 30 anos depois

 

BRA, 2005. Dir.: João Batista de Andrade. Doc., 90 min
5 de agosto, 17h (Galeria Olido).

SESSÃO DUPLA 01

Vala Comum
BRA, 1994. Dir.: João Godoy. Doc., 30 min.

Trás los pasos de Antígona
ARG, 2002. Dir.: Matt Aho. Doc., 37 min.
5 de agosto, 16h (Cinusp)
7 de agosto, 15h (Galeria Olido)

SESSÃO DUPLA 02

Sônia Morta e Viva
BRA. 1985. Doc. Dir.: Sérgio Waisman. Doc, 45 min.

15 filhos
BRA, 1996. Dir.: Maria Oliveira, Marta Nehring. Doc.,  20 min.
4 de agosto, 19h (Cinusp) Sessão com debate
5 de agosto, 15h (Galeria Olido)