Manifestantes voltam à prefeitura para protestar contra repressão em Porto Alegre

Porto Alegre – Centenas de pessoas voltaram a se reunir ontem (5) em frente à prefeitura de Porto Alegre para protestar contra a repressão sofrida na noite anterior pela Brigada Militar […]

Porto Alegre – Centenas de pessoas voltaram a se reunir ontem (5) em frente à prefeitura de Porto Alegre para protestar contra a repressão sofrida na noite anterior pela Brigada Militar (BM). Os manifestantes levaram flores e velas e gritaram palavras de ordem na Praça Montevidéu.

Com um efetivo de cerca de 40 soldados, a Brigada acompanhou tudo de perto, portando armas de calibre 12 com munição de borracha. Havia pelo menos dois ônibus nas redondezas do Centro com reforços de prontidão e corria entre os manifestantes o burburinho de que havia policiails militares até mesmo dentro da prefeitura.

Uma fileira do pelotão de choque estava posicionada, com escudos, no largo Glênio Peres – local onde, na noite de quinta-feira (4), manifestantes derrubaram o boneco inflável do mascote da Copa do Mundo de 2014, patrocinado pela Coca-Cola. Diferentemente da noite anterior, na sexta-feira havia uma intensa cobertura da imprensa no local, com a presença, inclusive, de redes de televisão.

Desta vez, o governo gaúcho também se fez presente na praça. A ouvidora da Secretaria de Segurança Pública, Patrícia Couto, e Célio Golin, também da Ouvidoria, estavam no local. Patrícia tentou falar com o secretário Airton Michels (PT) antes, mas não conseguiu.

Também estava presente no local o chefe do Comando de Policiamento Ostensivo da Capital, coronel Alfeu Freitas. Ele conversou com a ouvidora e com um manifestante durante o ato.

A conversa passou, por várias vezes, por momentos de tensão. O manifestante, identificado como Guilherme, cobrou do coronel explicações sobre a conduta da polícia na noite passada. “Foi um grave crime cometido pelo Estado contra as pessoas. A Brigada Militar foi contra a ordem pública”, disse.

O coronel rebateu dizendo que, na sua concepção, “houve agressões das duas partes”. Ele considerou que o interlocutor dos manifestantes estava exaltado. “Tu tens um sentimento de raiva, eu estou tranquilo”, criticou.

Guilherme garantiu que o protesto transcorreria de forma pacífica. “Queremos deixar aqui o registro de uma intenção de alegria e paz. Qualquer incidente que ocorrer, vamos ser sensatos, resolver pontualmente e com paz, sem acontecer o que houve ontem, quando deram tiros na cara das pessoas e espancaram covardemente as mulheres”, condenou.

O policial se irritou com as palavras do manifestante. “Tu não estás levando para uma boa”, disse. Ele ainda perguntou, em tom irônico, se o jovem conhecia a ouvidora de Segurança Pública, que estava ao lado dele.

“Conheço e acredito muito no trabalho dela. E acredito também que aquele batalhão de choque é criminoso e agrediu a população de Porto Alegre ontem”, rebateu. O coronel Alfeu Freitas reforçou que “a Brigada Militar vai defender a paz pública, independentemente dos meios”.

Durante a conversa, alguns manifestantes berraram frases como “RBS mente” e “não tem negociação!”. Um integrante do coletivo Utopia e Luta também se dirigiu ao coronel e disse, em castelhano: “Quieren hacernos creer que acá hay dos demonios. Acá hay solamente un demonio, que es el Estado, representado por la Brigada”.

Após o diálogo, em entrevista aos jornalistas presentes, o coronel Alfeu Freitas assegurou que a Brigada Militar já instaurou um inquérito para apurar a atuação dos policiais envolvidos na ação de quinta-feira. Ele disse, ainda, que há limites para manifestações na rua. “A maioria dessas pessoas são jovens. São pessoas, em tese, esclarecidas e que sabem da função constitucional da Brigada. Eles sabem que o direito à manifestação tem um limite, e esse limite é a bagunça”, orientou.

As centenas de pessoas que se reuniram em frente à prefeitura de Porto Alegre na noite desta sexta-feira (5) para protestar contra a repressão sofrida na noite anterior pela Brigada Militar fizeram um discurso contra a privatização dos espaços públicos da cidade. A organização do ato seguiu o exemplo das grandes manifestações que eram realizadas na época da ditadura (1964-85), quando uma pessoa fala uma frase e a multidão inteira a repete em voz alta. Os manifestantes também fizeram uma caminhada pelo centro da cidade.

“A derrubada do boneco da Coca-Cola foi consequência da truculenta ação da tropa de choque e da Guarda Municipal a uma manifestação pacífica”, gritaram os manifestantes. Eles ainda criticaram a maneira como estão sendo feitas as obras necessárias para a realização da Copa do Mundo, com remoções de famílias pobres para a construção de avenidas.

“Repudiamos uma segurança pública que defende o patrimônio privado ao invés de garantir a integridade física da população. Em nossas veias não corre Coca-Cola, somos a carne e não o plástico. Deveríamos ser protegidos, mas sangramos no chão”, criticaram.