Manifestantes relatam ação violenta da Brigada Militar em audiência na Câmara de Porto Alegre

Porto Alegre – Integrantes do movimento “Defesa Pública da Alegria” estiveram na Câmara Municipal de Porto Alegre ontem (30) para relatar as agressões sofridas pela Brigada Militar na noite de […]

Porto Alegre – Integrantes do movimento “Defesa Pública da Alegria” estiveram na Câmara Municipal de Porto Alegre ontem (30) para relatar as agressões sofridas pela Brigada Militar na noite de 4 de outubro, quando centenas de jovens se reuniram em frente à prefeitura para protestar contra a privatização dos espaços públicos da cidade. Na ocasião, os policiais acabaram reprimindo os manifestantes presentes quando do final do ato, que se dirigiram ao largo Glênio Peres para uma dança em volta do mascote da Copa do Mundo de 2014.

Uma audiência da Comissão de Direitos Humanos do Legislativo da Capital ouviu depoimentos dos manifestantes e convocou também as autoridades envolvidas no caso. Estiveram presentes o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Fabiano Pereira (PT), o subdiretor-geral do Instituto Geral de Perícias (IGP), Paulo Leonel, o comandante da Guarda Municipal de Porto Alegre, Eliandro de Almeida, o advogado Marcelo de Almeida e os manifestantes Ricardo Bordin, Pedro de Camillis e Rayne Barcelos.

A reunião foi uma iniciativa da vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), que contou com o apoio da presidente da Comissão de Direitos Humanos, Maria Celeste (PT). Elas foram as únicas parlamentares presentes. O secretário estadual de Segurança Pública, Airton Michels (PT), foi convidado, mas não compareceu.

Estudante de Música da UFRGS, Ricardo Bordin participou do protesto do dia 4 de outubro em frente à prefeitura e foi um dos primeiros a chegar perto do mascote da Copa do Mundo no Largo Glênio Peres. Na reunião desta terça-feira (30) na Câmara Municipal, ele contou que atravessou a grade de contenção logo após duas meninas terem feito o mesmo.

“Para finalizar o ato, que tinha iniciado às 16h, fomos dar uma volta ao lado do boneco, de uma forma bastante sarcástica e divertida, cantando músicas do Luiz Gonzaga”, relembrou, ressaltando que não havia intenção de derrubar o Tatu-Bola. “Nisso, a tropa de choque chegou pelo outro lado e iniciou a agressão. Em nenhum momento alguém atacou o boneco”, comentou. Com o início da repressão, Ricardo foi agredido e levado para o posto da Brigada Militar no largo Glênio Peres. “Fiquei uma hora dentro de uma viatura e, nesse meio tempo, por sadismo dos policiais, apanhei mais um pouco”, disse.

Além de diversos hematomas, o músico teve um dedo mindinho da mão quebrado. Como não obteve atendimento adequado no Hospital de Pronto-Socorro (HPS), a fratura lhe trará danos permanentes. “Quando fui fazer uma revisão, o médico me disse que eu deveria ter sido operado naquele dia. A falange estourou e a fratura está calcificando”, lamentou Ricardo.

Assim como diversos manifestantes, ele também relatou ter sido intimidado e humilhado pelos policiais dentro do HPS. “Passei cinco horas no hospital ouvindo os policiais, que nos insultavam na frente dos médicos e de outros pacientes. Disseram que da próxima vez eu iria quebrar muito mais do que um osso e me chamaram de comunistinha de merda”, recordou.

Pedro de Camillis não estava na manifestação do dia 4 de outubro. Ele foi ao local apenas no final da noite para buscar uma amiga, mas acabou chegando justamente no momento em que o conflito já estava instaurado. Ele começou a ajudar as pessoas que estavam desnorteadas em meio a tiros e bombas de gás lacrimogêneo. “Fui atender uma amiga que havia aspirado gás e depois começamos a subir em direção à Borges de Medeiros”, contou.

Na tentativa de se afastar do tumulto, Pedro foi perseguido por dois brigadianos. Ele assegura que não reagiu à abordagem. “Quando percebi que eles estavam vindo, me abaixei e coloquei as mãos na nuca, num claro sinal de que eu não apresentaria qualquer resistência. Mesmo assim, me bateram com chutes e cassetetes. Minha amiga disse que aquilo era um absurdo, também apanhou e foi chamada de vadia e de vagabunda”, comentou.

Os golpes que levou na cabeça deixaram dois cortes, totalizando nove pontos. Por conta desses ferimentos, Pedro precisou fazer uma tomografia no HPS. Com a demora do procedimento, os policiais começaram a se irritar no hospital e xingaram ainda mais o jovem.

“Disseram que eu era uma boneca e estava fazendo aquilo para me safar. Disseram que eu seria a bonequinha do Central”, recordou. Após os exames, ele ainda recebeu a notificação de que estava sendo indicado por “lesão corporal” a um brigadiano.

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