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Coletivo de estudantes quer ampliar luta contra machismo e violência em toda a USP

Denúncias de agressões e estupros na Faculdade de Medicina fomentaram debate sobre violência contra a mulher e homofobia entre jovens estudantes em todo o campus e em outras universidades

Divulgação/USP Imagens

Para estudante da FMUSP, a “lei do silêncio” também precisa ser quebrada em outras universidades

São Paulo O coletivo feminista Geni, que denunciou os recentes casos de estupro na Faculdade de Medicina da USP e acolheu as vítimas, está otimista com a reação da instituição, que reconheceu os problemas e promete mudanças, segundo afirmou a integrante do coletivo Ana Luiza Cunha, em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã de hoje (25). Porém, ela destacou que uma coisa é reconhecer e outra é saber se providências serão tomadas de fato.

O diretor da faculdade, José Otávio Costa Auler, chamou os integrantes do coletivo para conversar. “Ele mostrou pra gente um projeto, que é esse Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos. É um projeto muito, muito bom. A gente gostou porque engloba não só um acolhimento e uma ouvidoria, que é urgente, mas também tem um apoio psicológico, psiquiátrico e médico, tem o acompanhamento do aluno na prática médica, um assunto que não é muito debatido. Ele trata de inserir a ética na medicina desde o primeiro dia de aula. Isso é essencial, a gente tem um currículo muito pouco humanizado na medicina.”

A estudante sugere que os debates sobre homofobia, preconceito, racismo e classismo sejam inseridos nas aulas da Faculdade de Medicina, ressaltando que a saúde da mulher e de pessoas LGBT é deficitária no Brasil.

Segundo Ana Luiza, o coletivo procurou resolver os problemas de violência internamente, mas só conseguiu alguma resposta quando o assunto ganhou espaço na mídia: “A gente não tinha resposta da instituição, que ignorava ou às vezes até rechaçava a gente, o que sobrou foi partir pra mídia”.

Mas a visibilidade das denúncias não é bem vista por todos os alunos. Felipe Scalisa, membro do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da USP, divide a reação estudantil em quatro grupos. Um grupo de pessoas que saiu publicamente para apoiar o coletivo feminista Geni em relação às denúncias; outro formado por vítimas dos abusos, que sofria em silêncio. Apoia a iniciativa do coletivo em denunciar, mas não se posiciona publicamente. Tem estudantes que são contra tudo o que o coletivo fez, alegando que as denúncias prejudicam a imagem da faculdade e negam que exista machismo e homofobia. O outro grupo assume que ocorreram casos de estupros, mas que foram pontuais e não reconhecem a institucionalização da violência.

Ana Luiza relatou que depois de o coletivo publicar a primeira nota sobre a denúncia, as participantes do grupo receberam respostas muito violentas de grande parte dos alunos da faculdade. “Essa violência era tão grande que chocou, foi muito marcante. Receber realmente golpes, gente falando que a gente deveria ser expulsa da faculdade.”

“Esse caldo de ódio aos coletivos é engrossado por algumas ações proibicionistas da faculdade, tudo por causa das denúncias dos estupros na Faculdade de Medicina, que acabam pressionando a diretoria a tomar algum tipo de atitude”, enfatizou Andressa de Oliveira Galo, do coletivo feminista Geni. A estudante explica que os coletivos levam a culpa pelas proibições de festas e álcool, por exemplo. Para ela, existe uma sociopatia institucional, ou seja, uma inversão da vítima e do opressor.

Embora os casos de agressões na instituição de ensino tenham ganho ampla repercussão na mídia, o estudante Augusto Ribeiro Silva afirma que esse tipo de violência não é exclusividade da FMUSP. “Eu imagino que a lei do silêncio ainda precise ser quebrada nesses outros lugares também.”

O coletivo feminista Geni e a Frente Feminista devem ampliar esse debate sobre machismo e violência para todo o campus da USP, que para Ana Luiza Cunha é ainda pior. “Porque é um campus gigantesco, escuro, acontecem muito mais festas, tem muito mais gente e sequer existem números sobre os ataques, sobre a violência contra as mulheres. Se ao mesmo tempo a FMUSP é muito visibilizada pela mídia para falar mal, as ações de vanguarda que ela toma também podem ser muito bem visibilizadas. Então vamos usar esse momento para tomar ações de vanguarda e tentar espalhar para outras faculdades, para o resto da USP e para outras universidades.”