Direito Social

Ex-secretário sugere que Haddad tire transporte dos técnicos e passe à população

Lúcio Gregori, que comandou o setor na gestão Erundina, afirma que modelo atual de gestão é tecnocrata, não tem controle do poder público e desrespeita a população

Danilo Verpa/Folhapress

Gregoi considera equivocado o sistema atual de remuneração, que dá muito às empresas

São Paulo – Na zona leste da capital paulista a empresa de ônibus Itaquera Brasil, antiga companhia Novo Horizonte, sofre reclamações de passageiros diariamente, que relatam casos de ônibus quebrados e frotas sucateadas. A empresa opera 230 ônibus que servem 24 linhas, e já foi multada pela prefeitura mais de nove mil vezes.

O ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo, Lúcio Gregori, autor da proposta da Tarifa Zero, apresentada durante a gestão da então petista Luiza Erundina (1989-93), afirmou, em entrevista à TVT, que um novo modelo de gestão de transportes na cidade de São Paulo deve ser pensado em conjunto com a população, e não apenas por técnicos em transportes.

“Tem de mudar o jeito de planejar a linha de São Paulo, tira isso da mão dos técnicos, pelo amor de Deus, técnico é bom para resolver problema técnico, mas ele tem de estar junto com a população, que é quem vive isso o dia inteiro, tem de estar junto com o movimento social popular para saber o que a linha de ônibus vai fazer, e nem sempre vai ser aquela linha que o técnico acha ideal.”

Ele também afirma a necessidade da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 90, que garante, constitucionalmente, o transporte como direito social, equivalente a educação, trabalho e saúde, e tem autoria da hoje deputada Luiza Erundina (PSB/SP). A PEC já passou pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e agora será debatida em uma comissão especial criada para analisá-la.

“Não é difícil mudar essa situação, em primeiro lugar é preciso ter respeito pela população, repeitar os direitos da população, coisa que em geral se esquece. Tem que aprovar a PEC 90 que está no Congresso Nacional, porque aí o transporte passa a ser direito e não um dever do trabalhador, como é hoje. O trabalhador tem de se virar e pagar caro pelo transporte.”

Segundo ele, o modelo de contratação das empresas que operam na cidade é abusivo. “É fundamental que mude o jeito de contratação. Não é possível que a cidade de São Paulo, uma das mais ricas do mundo, tenha um padrão de serviços como esse, com 9 mil multas, isso é ridículo. Isso é a falência total da capacidade de controle do poder público. O modo de contratar serviço na cidade está errado, os contratos incluem os empresários de ônibus nas decisões do padrão de serviço. Isso deve ser apenas estabelecido pela prefeitura.”

Após as manifestações de junho, o prefeito Fernando Haddad (PT) voltou atrás no reajuste de R$ 0,20 no valor das passagens e criou um conselho para debater a questão dos transportes. Além disso, cancelou as licitações em curso para a contratação das novas operadoras do sistema de ônibus da cidade.

Confira aqui a reportagem da TVT.