‘Liberdade que tem existido até agora não está garantida’, diz pioneiro das redes

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Bernardo Jardim/Sul21

Para Howard Rheingold, mais gente acessa a internet, mas ela não se tornou mais democrática

Porto Alegre – Professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Howard Rheingold, 66 anos, é um dos pioneiros no estudo das redes sociais na internet. Em 1993, ele cunhou o termo “comunidade virtual” ao lançar o livro The Virtual Community.

Desde a década de 1980, o acadêmico estuda temas relacionados à interação social por meio da internet, em um período em que, para se ter acesso à Web, era preciso estar dentro de uma universidade. Em 2002, o professor lançou o livro Smart Mobs, em que previu a integração entre telefonia móvel e informática.

Howard Rheingold esteve em Porto Alegre nesta semana para participar do 12º Seminário Internacional de Comunicação realizado pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação Social da PUC-RS. O professor recebeu a reportagem do Sul21 para falar sobre seus estudos e as implicações políticas e sociais do uso da internet no século 21.

Em que sentido as redes sociais existentes hoje são diferentes das comunidades virtuais que o senhor estudou na década de 1990?

Hoje, quando se fala em comunidades virtuais, a maioria das pessoas pensa em Twitter, Facebook e Tumblr. As comunidades virtuais daquela época eram baseadas somente em textos. A lógica era o compartilhamento de interesses. Isso ainda existe sob várias formas. Em algumas comunidades que estudei no passado, como The Weel (Whole Earth ‘Lectronic Link) e UseNet, as pessoas discutiam diferentes assuntos. Hoje, na maioria das comunidades – a não ser Twitter e Facebook -, os debates são focados em interesses específicos, como jogos, doenças ou animais de estimação.

Essas comunidades têm crescido desde a década de 1990?

Nos anos 1990, havia muito menos gente online e não era em qualquer lugar que estavam conectados. Embora a UseNet exista desde 1980, era preciso estar em uma universidade para acessá-la. Hoje em dia, não são apenas estudantes universitários, professores e pesquisadores que podem estar nas redes.

A internet se tornou uma ferramenta mais democrática?

Se usarmos a palavra “democratizar”, entenderemos que algo que era disponível somente a uma elite se tornou disponível a um maior número de pessoas. Já a palavra “democrático” diz respeito a pessoas decidindo como devem se governar. O Facebook, por exemplo, não é democrático – seus usuários não possuem voz na determinação de suas políticas. No UseNet, quando um novo grupo estava para ser criado, havia debates e votação.
“A combinação entre telefone, internet e computador pessoal – o que hoje chamamos de SmartPhone – está diminuindo as barreiras para a ação coletiva”

Como o senhor avalia o papel da internet e das redes sociais nas grandes manifestações que ocorreram no Egito, na Turquia, na Espanha e no Brasil?

Escrevi um livro em 2002, há quase 14 anos, chamado “Smart Mobs: The Next Social Revolution”. Nele, eu dizia que o futuro já estava acontecendo. Nas Filipinas, as pessoas utilizaram SMS para organizar manifestações e derrubar um presidente. Na Coreia do Sul, em 2000, jornalistas cidadãos utilizaram o site Oh My News, o que acabou modificando o resultado da eleição presidencial naquele ano. Então é algo que vem ocorrendo há bastante tempo. O motivo pelo qual demorou um pouco para chegar ao Egito, ao Brasil e ao Chile se deve à aprendizagem das pessoas no manejo desses mecanismos. O que escrevi naquele livro foi que a combinação entre telefone, internet e computador pessoal – o que hoje chamamos de SmartPhone – está diminuindo as barreiras para a ação coletiva.

Esse processo se intensificou desde então?

As pessoas são capazes de organizar ações de uma maneira que era impossível. Não são sempre manifestações pacíficas ou democráticas, mas, pela primeira vez, as pessoas são capazes de organizar protestos de massa muito rapidamente. Particularmente no Egito e no norte da África, o YouTube foi uma ferramenta muito importante. Quem tinha medo de ir às ruas percebia, pelos vídeos, que outras pessoas estavam se manifestando. Não sei qual o resultado dos protestos aqui no Brasil. Não sei se é algo que irá se transformar em um movimento ou se terá alguma influência política. Mas sei que o que aconteceu aqui atraiu muita atenção e não teria ocorrido na velocidade e escala que ocorreu sem as redes sociais.

Leia a entrevista completa no Sul21.