Voz ferida

Jornalistas de SP protestam contra violência e pedem audiência com secretário de Segurança

Desde junho ao menos 100 profissionais foram feridos por policiais durantes manifestações. Violência é fruto do descontrole e sentimento de vingança da PM, acredita sindicato

arquivo RBA

A jornalista da Folha de S.Paulo Giuliana Vallone, uma das vítimas da violência policial durante protestos de junho

São Paulo – Jornalistas e fotojornalistas irão realizar hoje (28) um ato no centro de São Paulo em repúdio à violência policial contra profissionais de comunicação durante a cobertura de manifestações. Segundo levantamento preliminar do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, desde junho ao menos 100 comunicadores foram agredidos em todo o estado enquanto trabalhavam. Houve casos em que alguns deles chegaram a perder a visão, atingidos por balas de borracha.

Desta vez, eles irão sem crachá para rua e não vão poder apelar para o fato de estarem trabalhando para tentar escapar das balas de borrachas e golpes de cassetete.

O objetivo dos profissionais que organizam o ato é, além de demonstrar indignação, conseguir o compromisso do secretário de Segurança Pública paulista, Fernando Grella Vieira, a comparecer a uma audiência em data a ser definida sobre a postura da polícia.

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Os manifestantes sairão da praça Roosevelt, no bairro da Consolação, região central da capital, por volta das 17h e caminharão até a sede da secretaria, na rua Líbero Badaró, 39, próximo ao Largo São Francisco. Antes, às 15h30, alguns dos profissionais feridos durante manifestações irão participar de uma coletiva de imprensa na sede do Sindicato dos Jornalistas, na Rua Bento Freitas, 530, desta vez como entrevistados.

Para os profissionais a violência é reflexo da falta de preparo da corporação para lidar com manifestações populares “Tem o despreparo de uma polícia que vê todo mundo como inimigo e tem a intenção clara de calar. É possível ver em algumas imagens profissionais sendo agredidos sozinhos, longe de aglomeração. E dá para ver que os policiais gritam que não é para filmar”, exemplifica o fotógrafo Mário Palhares, um dos organizadores do evento.

Para o presidente do sindicato, José Augusto Camargo, o Guto, falta comando na Polícia Militar. “Não é que eles saiam com a ordem de um comandante para bater. Mas eles não têm controle. Porque, claro, se pudessem controlar isso, para não ter essa repercussão negativa, eles fariam, eles controlariam”, acredita. Guto também vê a atuação de uma “banda podre” da polícia interessada em se vingar da imprensa, por conta de reportagens sobre má conduta, violação de direitos, atos violentos etc. “Aí não é contra o repórter específico, mas contra a ‘corja de jornalistas'”, afirma.

“A gente quer saber da secretaria de Segurança Pública, do comando da polícia o que está provocando essa violência. A nossa opinião a gente já tem, agora queremos a deles”, afirma o fotógrafo Sérgio Silva, que perdeu a visão de um olho em 13 de junho passado, dia marcado pela extrema violência policial durante manifestação pela redução das tarifas de transporte público em São Paulo.

Para ele, além das consequências pessoais, a agressão aos profissionais atinge o direito de acesso à informação. “Muitos colegas vêm me dizendo isso, que não vão mais para manifestação, para concentração de pessoas, com medo de tomar bala de borracha. O profissional, tamanha violência, não vai mais querer fazer esse tipo de trabalho”, afirma.

O sindicalista defende a manifestação justamente para impedir “a instalação do clima de medo”. “Atos como esse são essenciais para que essa coisa não atinja o objetivo de instalar o terror e subjugar os jornalistas e fotojornalistas.”

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