Violência

Jornalista vive momentos de terror com ameaças de bolsonarista: ‘Ou você muda, ou morre’

Desde antes de seu mandato no posto mais alto da República o próprio Bolsonaro incentiva a violência: “vamos fuzilar a petralhada”, disse em 2018

Reprodução/Redes Sociais
Reprodução/Redes Sociais
Em seu governo, o ainda presidente facilitou a compra de armas e munições e sistematicamente defendeu armar a população

São Paulo – A jornalista Débora Pinho viveu momentos de terror durante o período eleitoral, quando foi ofendida, pressionada e recebeu ameaças de morte pelo bolsonarista Luís Fernando Fray. Vizinho de andar, Fray reagiu com fúria aos adesivos na porta do apartamento de Débora, no bairro de Mirandópolis, zona sul de São Paulo.

O pior momento – relata reportagem do Brasil de Fato – foi em 15 de outubro, quando as ameaças cresceram tanto que a jovem de 33 anos procurou a polícia. Fez um boletim de ocorrência e pediu uma medida protetiva no 16º Distrito da Polícia Civil de São Paulo. 

Como a escrivã saiu de férias sem antes digitalizar nem a petição nem o depoimento de testemunhas, Débora e seu advogado, Bruno de Oliveira, não sabem dizer como está o inquérito. O advogado solicitou a instauração de um inquérito policial com base na acusação contra Luis Fernando Fray Ferreira por injúria qualificada ao chamar Débora de “baianinha” e por ameaça. 

Débora relata ter sofrido quatro ataques, nos dias 9 de setembro, 15 e 26 de outubro e 26 de novembro. “Nesse 15 de outubro, que foi o mais grave, eu vivi cenas dignas de um filme de terror, porque ele chegou no prédio já gritando, bem transtornado. Aí ele chegou no hall falando um monte de besteira, provocando a minha cachorra e continuou falando dentro da casa dele. Isso começou por volta da meia-noite e meia e foi até cerca de 2h da manhã”, afirma.

Incentivos do alto

A jornalista gravou o som próximo à porta de seu apartamento e se fechou no quarto com a sua cachorra. Acionou a síndica, os vizinhos e familiares. Entre as frases Luis Fernando Fray Ferreira disse ser “militar há 15 anos” e que é “Bolsonaro”. “Você vai ver se eu não sento o dedo, bando de filha da puta, baianada do caralho. Seu cachorrinho vai rodar, viu, baianinha. Você é locatária. Eu sou proprietário, baianinha. Vou te ensinar quem é gente aqui”, continuou, seguindo-se uma série de palavrões.

Atitudes como essa, como analistas fartamente vêm analisando, são incentivadas pelo próprio presidente da República antes e durante seu mandato no posto mais alto da República. Em 2018, em manifestação na cidade de Rio Branco (AC), ele segurava o tripé de uma câmera para simular um fuzil quando disse: “vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, hein?”

Em julho deste ano, o tesoureiro do PT Marcelo Arruda foi assassinado um Foz do Iguaçu (PR) por um bolsonarista que chegou à nfesta de aniversário da vítima gritando: “Aqui é Bolsonaro”.

“Eu já matei dois”

“Seu cachorrinho vai rodar, viu, baianinha. Ou você muda, ou você morre”, ameaçou ainda o desequilibrado. Disse mais:  “Vai… Eu já matei dois. Dois. Se eu trombar, o bagulho vai ficar estranho. Cai para dentro, filha da puta. Mano, é 40 anos de área. Vamos ensinar a baianada aqui a ser gente.”

Débora Pinho decidiu deixar o apartamento naquela madrugada e só voltou para fazer as malas para uma viagem e em outras ocasiões para fazer a mudança.

Nos dias em que a jornalista esteve fora de seu apartamento, os vizinhos afirmaram que os episódios de ameaças, xingamentos e gritos cessaram. O que, para Débora, reforça que os ataques são dirigidos a ela, a única mulher do andar.

No 16º Distrito da Polícia Civil de São Paulo, Débora Pinho afirma que foi vítima mais uma vez. Além dos documentos que não foram digitalizados, a escrivã responsável pelo caso teria “ficado o tempo todo ressaltando que estava saindo de férias” e que, portanto, não teria tempo para transcrever as gravações das agressões, relata o BdF. De acordo com a reportagem, o trabalho de ouvir todo o áudio e transcrevê-lo ficou sob responsabilidade da própria Débora. O BdF procurou Ferreira, que ainda não se manifestou.

Leia a reportagem do Brasil de Fato