Memória

Intervenções artísticas contam passado e presente da ‘greve dos queixadas’, que completa 60 anos

Exposição de esculturas de animais estilizados e “renomeação” de ruas vão lembrar movimento grevista e refletir sobre a história do bairro paulistano de Perus

Arquivo Edgar Leuenroth/Unicamp
Arquivo Edgar Leuenroth/Unicamp
Greve dos trabalhadores na fábrica de cimento foi de 1962 a 1969: marco sindical

São Paulo – A partir desta sexta-feira (13), a memória coletiva dos chamados queixadas, em Perus, será contada a partir de uma série de intervenções no bairro paulistano da zona noroeste. As atividades, que vão durar quatro meses, até o aniversário de Perus, começam amanhã com uma festa de abertura na Comunidade Cultural Quilombaque, criada em 2005. A greve dos queixadas, como ficou conhecida, está completando 60 anos. Ocorreu na Fábrica de Cimento Portland Perus, inaugurada nos anos 1920.

Diante das más condições de trabalho, os funcionários fizeram uma série de protestos e greves, a mais conhecida em 1962. Teve duração de sete anos e tornou-se um marco da história sindical. Parte dos empregados foi reintegrada. Com falência decretada nos anos 1970, a fábrica fechou definitivamente na década seguinte. Foi tombada em 1992. O nome do movimento faz alusão a um porco selvagem e sua resistência, sempre em grupo, contra os inimigos.

“A memória é criada através do espaço, no coletivo. É ela que direciona a sociedade, suas  ideias e valores, e principalmente cria uma identidade alimentando de imagens, sentimentos, É a memória coletiva que, nas grandes cidades, se perpetua de diversas formas: na construção de monumentos, estátuas e, também, de modo mais comum, no nome das ruas”, afirma Raul Costa, produtor do projeto Trilha da Memória, que, por meio de duas intervenções, quer refletir sobre a história.

Duas intervenções querem contar a história do movimento e do bairro (Reprodução)

Uma intervenção ganhou o nome de Queixadas Parade, inspirado no Cow Parade. Sete esculturas de porcos selvagens, customizadas por artista locais, serão expostas em locais públicos da cidade. “As obras simbolizam marcos históricos, ligados aos movimentos de luta do território”, lembram os organizadores. Os temas são: povos indígenas, movimento queixada, movimento negro, movimento MST, meio ambiente, moradia e vala comum. Em Perus também fica o Cemitério Dom Bosco, onde foi descoberta uma vala clandestina com ossadas, algumas de presos políticos.

A outra intervenção artística é o Reemplaca Memo(ria). O objetivo é “renomear” simbolicamente as principais ruas do bairro, com trinta placas comemorativas pelos 60 anos da greve. “As placas terão nomes dos e das queixadas. Desta forma, queremos despertar a curiosidade da população por saber quem são essas  pessoas e o que elas representam. Além disso, vamos provocar uma discussão: por que não existem ruas com nomes de lideranças populares, de movimentos sociais, de artistas locais?”, questiona Dede Ferreira, idealizador e coordenador do projeto. 

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