Repúdio e providências

Governo Lula aciona autoridades da Espanha contra racismo sofrido por Vinícius Júnior

Presidente Lula e ministros exigem providências, cobram patrocinadores e medidas efetivas para frear onda de episódios racistas envolvendo o craque brasileiro do Real Madrid

via @vinijr
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Craque do time espanhol e da seleção brasileira, Vini Junior é alvo principal de racistas com frequência sem que nada se faça de efetivo para combater esse crime

São Paulo – O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que vai pedir providências às autoridades esportivas espanholas e patrocinadores em defesa do jogador Vinícius Júnior, vítima de racismo. Neste domingo (21), o atacante do Real Madrid foi mais uma vez vítima do crime, por meio de cânticos racistas, durante a partida contra o Valencia, no estádio Mestalla.

 “O Governo Brasileiro lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo. Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à FIFA e à Liga a aplicar as medidas cabíveis”, diz trecho da nota divulgada na manhã desta segunda-feira (22), assinada pelos ministérios de Relações Exteriores, do Esporte, da Igualdade Racial, da Justiça e Segurança Pública e dos Direitos Humanos e da Cidadania.

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A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, reiterou que o Brasil vai notificar oficialmente as autoridades espanholas e a La Liga, responsável pelo torneio de futebol profissional espanhol.  “Repudiamos mais uma agressão racista contra o Vinícius Júnior. Notificaremos autoridades espanholas e a La Liga. O Governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”, disse a ministra, por meio de seu perfil no Twitter.

Anielle lembrou que esteve no início do mês na Espanha e firmou, com a ministra equivalente de sua área, Irene Monteiro, um compromisso bilateral de combate ao racismo, à xenofobia e a formas correlatas de discriminação.  Um dos destaques do acordo é exatamente a previsão de que os países “dediquem atenção especial à luta contra o racismo nas atividades esportivas”. A ministra afirmou ainda que trabalha com o Ministério da Relações Exteriores para avaliar os próximos passos que serão tomados. 

Liga, clubes, patrocinadores, imprensa e governos coniventes com racismo contra Vini Jr., disse ministro Silvio Almeida

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, cobrou firmeza das entidades esportivas, governos, da imprensa e de patrocinadores. Em especial depois que o presidente de La Liga, Javier Tebas, optou num primeiro instante não por se posicionar contra o ato de racismo do fim de semana, mas por acusar Vinícius Júnior. de criticar e injuriar a entidade.

“Em vez de se solidarizar com Vini Júnior, o presidente de La Liga resolve atacar o atleta pelas redes sociais. Para além do destempero do cartola, seria o caso de se perguntar como as empresas que patrocinam a La Liga se posicionam”, afirmou o ministro. Segundo Silvio Almeida, o racismo se tornou parte integrante do espetáculo esportivo, em que se pagam ingressos para odiar sem freios morais ou políticos.

“A La Liga, as entidades europeias de futebol, a FIFA, os clubes, as empresas patrocinadoras, parte da imprensa e os governos estão sendo coniventes e se servindo do racismo. Devem, por isso, ser chamados à responsabilidade juntamente com os agressores diretos”, escreveu em seu perfil no Twitter.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, adotou o mesmo tom de exigir ações concretas da cadeia de produção que move o futebol espanhol. “Minha solidariedade ao jogador. Isso é deplorável, inaceitável e deve ter consequências. Espero que essas empresas façam alguma coisa de sério e efetivo sobre o inaceitável e reiterado racismo contra Vinicius Júnior”.

Lula: Fifa tem de agir contra racismo sofrido por Vini Jr.

Neste domingo, em entrevista coletiva sobre balanço da comitiva brasileira do G7, no Japão, Lula foi solidário ao jogador brasileiro, que também defende a Seleção Brasileira. “Não é possível que, quase no meio do século 21, a gente tenha o preconceito racial ganhando força em vários estádios de futebol. Não é justo que um menino pobre, que venceu na vida, que está se transformando possivelmente num dos melhores jogadores do mundo, seja ofendido em cada estádio que comparece”, disse Lula.  

“É importante que a FIFA, que a Liga Espanhola, que a liga de outros países, tome sérias providências porque não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem contra dos estádios de futebol”, disse ainda o presidente.

Após a partida contra o Valencia, o jogador fez um triste desabafo nas redes sociais, e recebeu o apoio de centenas de milhares de atletas, técnicos, dirigentes e torcedores. “Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga.  A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”.

O Real Madrid divulgou nesta segunda-feira um comunicado oficial. O clube condena fortemente os eventos contra o atacante e indica que eles representam um ataque direto ao modelo democrático de coexistência de um Estado de Direito. “O Real Madrid considera que tais ataques também constituem um crime de ódio, razão pela qual apresentou a denúncia correspondente à Procuradoria-Geral do Estado, especificamente à Procuradoria contra crimes de ódio e discriminação, para que os fatos sejam investigados e apuradas as responsabilidades”.

Manifestações de solidariedade e pouca ação efetiva

A equipe espanhola emitiu um comunicado nesta segunda-feira em que promete identificar e banir para sempre todos os torcedores que atacaram de forma racista o brasileiro Vinícius Júnior no estádio Mestalla. Segundo o clube, as imagens estão sendo analisadas e os racistas serão identificados. Além disso, o time disse estar colaborando para ajudar a polícia a punir os criminosos.

A embaixada da Espanha também fez um post no Twitter em que condena o episódio deste domingo. “A Embaixada condena com veemência as manifestações e atitudes racistas e expressa total solidariedade ao jogador @vinijr pelos ataques intoleráveis e cobardes sofridos hoje que de nenhuma maneira refletem as posições antirracistas da absoluta maioria da população espanhola.”

“Toda a nossa solidariedade com Vinícius. Não há lugar para racismo no futebol ou na sociedade e a Fifa apoia todos os jogadores que o sofreram em sua própria carne”, disse o presidente da Fifa, Gianni Infantino.

Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), escreveu: “Até quando ainda vamos vivenciar, em pleno século XXI, episódios como o que acabamos de presenciar, mais uma vez, em La Liga? Até quando a humanidade ainda será apenas espectadora e cúmplice de atos cruéis de racismo? Até quando vamos precisar lembrar que é crime? Até quando vamos ter que lutar por atitudes concretas e eficazes dentro e fora dos campos? Não há alegria onde há racismo. Você tem todo o nosso carinho e de todos os brasileiros, @vinijr. Não só você, mas todos que sofreram e sofrem com essa doença mundial, que é o racismo. A cor da pele não pode mais incomodar”.

Confira coletiva de Lula, em que condena racismo