Mobilidade em risco

Fechamento de bilheterias e novo cartão desagradam passageiros e funcionários do Metrô e CPTM

No ano passado, o governo Doria anunciou novas formas de acesso aos trens da CPTM e ao Metrô, como a criação do cartão Top. Mas, o que veio para “facilitar”, na verdade, complicou a vida dos cidadãos

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Passageiros se queixam sobre o não funcionamento do novo cartão nas catracas, problemas no aplicativo e falta de papel para imprimir o bilhete nas estações

São Paulo – Em outubro do ano passado, o governo João Doria (PSDB) anunciou o fechamento das bilheterias das estações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Na época, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) do estado de São Paulo explicou que a mudança visava economizar R$ 100 milhões por ano. Como parte do processo de fechamento das bilheterias, cerca de um mês depois foi lançado o cartão Top, que vem substituindo o Bom gradativamente para, segundo a gestão estadual, modernizar os meios de pagamento dos transportes metropolitanos. 

Após as mudanças, o passageiro que fosse embarcar nas linhas intermunicipais da EMTU, nos trens da CPTM ou no metrô, deveria retirar o novo cartão. Ou então comprar os bilhetes digitais pelo aplicativo da empresa, WhatsApp ou pelas máquinas de autoatendimento instaladas nas estações. Mas o que veio para facilitar, na verdade, complicou a vida dos cidadãos. 

Os passageiros têm diversas reclamações. Entre elas, o não funcionamento do novo cartão nas catracas, problemas no aplicativo e falta de papel para imprimir o bilhete. Após as queixas, o governo Doria adiou o prazo para desativar as bilheterias e ainda não definiu uma nova data. Mas os problemas persistem para muitos usuários. 

Problemas aos passageiros

Coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria detalha os impactos das mudanças aos passageiros. A consequência mais grave, segundo ele, já está acontecendo: a impossibilidade de transferência de créditos do Bom para o cartão Top. Calabria afirma ainda que o fechamento de bilheterias leva o risco de afastar e até expulsar os usuários. O Idec avalia falhas na proteção de dados fornecidos pelo passageiro no aplicativo. E vê risco de endividamento com a possibilidade do uso de cartão de crédito para a compra das passagens

“Além de uma exclusão digital das pessoas que não têm acesso ao meio. (…) Então tem vários riscos que estamos avaliando, como eles estão impactando os usuários. E o mais grave que já está exposto é que o governo está tentando evitar que as pessoas tenham acesso aos créditos anteriores do Bom. O que é um abuso, porque as pessoas têm o direito adquirido de ter acesso a esse recurso e seria um erro se o governo não deixasse as pessoas acessarem o crédito anterior no novo bilhete Top”, garante Calabria.

Funcionários ameaçados

Não só os passageiros são prejudicados com as mudanças, como também os funcionários do Metrô e da CPTM. Em nota publicada no final do ano passado, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo afirmou que, com o fim das bilheterias, os trabalhadores que atuam nas estações estavam sofrendo ofensas e agressões de pessoas que não conseguiam acessar o sistema.

Um dos coordenadores da entidade, Altino de Melo Prazeres Júnior, lembra ainda que a mudança também ameaça os postos de trabalho da categoria. “Na prática, em meio a um processo de desemprego no país, aumenta ainda mais o desemprego. Ao tirar as bilheterias, você aumenta o desemprego, deixa pessoas passando necessidade, não atende a população, principalmente a mais pobre, de forma adequada. E os serviços que eles prestam, mesmo de cartão eletrônico ou essas máquinas de atendimento, poderiam ser feitos pelo Estado sem ter que repassar dinheiro para esses grandes empresários. Então é um prejuízo muito grande para os trabalhadores e também para a população. Porque, no fundo, acabamos sangrando o Estado para dar dinheiro a esses caras”, contesta. 

O que diz o governo

Rádio Brasil Atual questionou a STM sobre o novo prazo de fechamento das bilheterias e sobre os problemas enfrentados pelos passageiros. Em comunicado, a pasta afirma que a mudança do cronograma de substituição das bilheterias nas estações do metrô e da CPTM foi adotada buscando “ampliar o período de adaptação dos passageiros” aos novos canais abertos para a compra de bilhetes. 

O órgão alegou ainda que, além das bilheterias, os passageiros também podem adquirir os bilhetes nas mais de 800 máquinas de autoatendimento instaladas nas estações. Assim como nos mais de 8 mil estabelecimentos comerciais distribuídos por toda a capital e região metropolitana de São Paulo, ou pelos canais digitais Aplicativo Top e WhatsApp. Já sobre as dúvidas em relação aos canais de venda de bilhetes, a secretaria recomenda que o cidadão entre em contato com a central de atendimento do Top pelo número (11) 3888-2200.

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