Cidadania

Entidades consideram golpe comissão da verdade criada por reitoria da USP

Estudantes, professores e trabalhadores da Universidade de São Paulo reivindicam formato mais democrático e transparente

Fórum Aberto pela Democratiazação da USP

Ato marcou a entrega do abaixo assinado pedindo a criação da comissão da verdade da USP à reitoria da, em 7 de novembro de 2012

São Paulo – Representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Associação dos Docentes (Adusp) e do Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp) classificaram a Comissão da Verdade da USP, criada nesta semana pela reitoria, de “golpe antidemocrático”.

“A reitoria fez uma comissão que ignora todo o processo democrático construído pelas entidades das três categorias (estudantes, professores e funcionários)”, diz Magno de Carvalho, integrante do Sintusp.

A ideia de instaurar uma comissão da verdade interna é formulada há um ano em reuniões do Fórum Aberto pela Democratização da USP, frente que reúne entidades (DCE, Adusp, Sintusp e Associação de Pós-Graduandos), centros acadêmicos e membros da comunidade acadêmica não vinculados a esses grupos. Abaixo-assinado nesse sentido obteve 5 mil adesões. A comissão proposta pelo Fórum seria composta por três membros de cada uma dessas entidades e três representantes da reitoria.

“Tentamos marcar inúmeras reuniões para destravar o processo, mas a reitoria não dava respostas. E ontem anunciaram essa portaria, que não foi discutida com ninguém” , diz Pedro Serrano, diretor do DCE.

A comissão anunciada pela reitoria é composta por sete docentes e presidida pelo professor e ex-diretor da Faculdade de Direito Dalmo de Abreu Dallari. Essa comissão poderá requisitar documentos de todos os órgãos da Universidade, convidar pessoas para prestar depoimentos e determinar a realização de perícias. A comissão atuaria durante o período de um ano e elaboraria um relatório final a ser encaminhado para a Comissão Nacional da Verdade.

Para Helder Gomes, segundo secretário da Adusp que esteve presente na reunião com a reitoria, ontem, o sentimento é de decepção.

“A USP perdeu a oportunidade de protagonizar uma ação muito importante de esclarecimento e reparação do que foi feito na ditadura. Perdeu a chance de protagonizar um modelo democrático de comissão da verdade.”

Integrantes das entidades acreditam que a reitoria não quer investigar a fundo o que aconteceu na universidade durante a ditadura.

“Eles não querem investigar a fundo porque colaboradores e delatores da ditadura estão na universidade até hoje. O Rodas (João Grandino Rodas, atual reitor) inocentou militares envolvidos no caso da Zuzu Angel, morta por agentes da ditadura”, diz Magno de Carvalho. Rodas integrou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), criada em 1995, e “votou contra a culpabilidade do Estado pela morte e desaparecimento de vários presos políticos”, segundo Carlos Lungarzo, membro da Anistia Internacional, em matéria publicada no site Viomundo.

De acordo com Helder Gomes, a ideia não é criar uma comissão da verdade paralela à formulada pela reitoria. “Desde o começo, pensamos na importância da questão institucional. A ideia era construir uma comissão representativa, de forma transparente e democrática, que fosse reconhecida pela universidade. Uma canetada da reitoria acabou com isso.”

O Fórum pela Democratização da USP não acredita que a autonomia e independência, a escolha democrática dos membros e o acesso a todas as informações que permaneceram sob sigilo até hoje sejam premissas que possam ser mudadas, por portaria reitoral, sem graves consequências para o bom funcionamento da Comissão da Verdade da USP“, diz a frente em nota publicada hoje (9).

O Fórum fará uma reunião às 18h de hoje para discutir a portaria da reitoria.