Ato em São Paulo

Em solidariedade a Vinícius Júnior, movimento negro protesta contra racismo no Consulado da Espanha

Ato ocorre nesta terça (23), a partir das 17h, no consulado espanhol em São Paulo, na região do Jardim América. “Essa tem que ser uma luta de toda a sociedade”, defende o deputado e pastor Henrique Vieira

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O protesto ocorrerá a partir das 17h, em frente à sede do Consulado da Espanha em São Paulo, na região do Jardim América

São Paulo – Contra o racismo frequente sofrido pelo jogador Vinícius Júnior, grupos do movimento negro e partidos políticos da centro-esquerda e da esquerda farão hoje (23) protesto em frente ao Consulado da Espanha, no Jardim América, bairro nobre da capital paulista. O ato está previsto para as 17h. Os manifestantes repudiam principalmente o ataque racista sofrido pelo atacante do Real Madrid neste domingo (21), durante uma disputa pelo campeonato espanhol.

De acordo com os organizadores, além de prestar solidariedade, a manifestação tem o objetivo de cobrar uma resposta do Estado Espanhol, acusado de omissão. Desde o ano passado, os casos de discrminação racial contra o brasileiro no país vêm se intensificando. Ao menos 9 processos, denunciando racismo, já foram movidos no país. Sete dessas acusações, contudo, foram arquivadas pelo Ministério Público daquele país. Um deles sob a justificativa de que o coro racista, vociferado durante uma partida, embora “inapropriado”, era parte da comemoração.

Neste domingo (21), o ataque se repetiu, dessa vez por parte da torcida do Valência. O próprio clube, porém, vem tratando mais essa violência racista como uma “ofensa”. “Basta de racismo. O movimento negro aqui de SP estará em campo, mais uma vez, em solidariedade ao Vini. Ele não está sozinho”, destacou em suas redes a representante do Movimento Negro Unificado (MNU), uma das entidades presentes, Luka Franca.

Presos na Espanha após cobrança

Os atos racistas têm mobilizado todo o país em solidariedade ao jogador. Nesta segunda (22), as luzes do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foram apagadas. Ainda no domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu coletiva de imprensa, no Japão, repudiando o ataque a Vini Jr. e cobrando medidas das autoridades espanholas. A mensagem de desagravo foi reforçada pelo Itamaraty. O próprio ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, citou a possibilidade de aplicar a legislação brasileira contra agressores do jogador.

Horas após o anúncio da medida, considerada extrema, a imprensa da Espanha divulgou que, ao menos sete pessoas, envolvidas nos atos racistas, foram detidas nesta terça. Três delas estavam em Valência, palco do ataque. E outras quatro em Madrid foram presas por suspeita de simularem o enforcamento do brasileiro com um boneco em um ponte na cidade.

O caso foi comentado pelo deputado federal e pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) durante a edição de hoje do ICL Notícias, transmitido pela TVT e a Rádio Brasil Atual. O parlamentar destacou a importância de Vini Jr. levantar sua voz contra o racismo. Mas frisou que o atleta “não pode e não tem que se tornar um herói”. “Essa tem que ser uma luta de toda a sociedade”, cobrou.

‘Sociedade precisa pressionar’

“Cada vez mais treinadores, jogadores se posicionando, diretores de clubes se posicionando. Cadê os patrocinadores da LaLiga? Foi a 10ª ação racista contra o Vini Jr. e por que grandes patrocinadores que financiam e ganham dinheiro com a Liga Espanhola, até agora, não se pronunciaram? E o pronunciamento recorrente do presidente da LaLaiga? Então não dá para colocar sobre o Vini toda a responsbilidade de agir contra essa violência, que é uma violência contra ele e uma violência contra o povo negro. O racismo historicamente, no passado e no presente, produz muita dor, sofrimento e morte”, acrescentou Vieira.

De acordo com o deputado, o jogador, com seu ato de coragem e resistência, está quebrando uma das facetas do racismo, que é de dizer “qual o lugar e postura que via de regra deve ser da população negra, de acomodação, obediência, submissão e docilidade”. “O Vini quebra a expectativa racista sobre o seu corpo e seu comportamento. Ele para os jogos, ele vai até o juiz, ele aponta o dedo em direção à torcida, ele quebra a lógica desse silêncio da branquitude que vai normalizando o racismo”, observa.

Para Henrique Vieira, o racismo não é só a produção do caos, mas a naturalização desse caos. De modo que ele mata e cria o ambiente que naturaliza, justifica e estimula essa morte. “Ficar em silêncio diante dessa violência, portanto, não é neutralidade, mas cumplicidade”, destaca.

Livro ‘O Jesus Negro’

O deputado e pastor se prepara para lançar, em São Paulo, no próximo dia 5 de junho, seu livro “O Jesus Negro: O grito antirracista da Bíblia”, (editora Planeta). A divulgação será na Livraria da Vila, na Vila Madalena, zona oeste da capital paulista.

A obra, fruto da teologia negra, mostra a tese de que Jesus sempre aparece na história, no rosto, experiência, grito e na esperança dos povos oprimidos. E questiona o incômodo em relação a imagem de Jesus negro.

“O cristianismo hegemônico institucional, não estou falando o Evangelho, do Cristo de Nazaré, mas temos que reconhecer que há um cristianismo colonizador que tem sangue do povo preto nas mãos, que fez parte de um processo de escravização e de genocídio. E que esses símbolos continuam muitas vezes na teologia cristã e hegemônica, criminalizando aquilo que vem da África, estigmatizando as religiões dos povos tradicionais de matriz africana”, afirma Henrique Vieira.

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