Comissão debate apoio de empresariado aos órgãos de repressão

Entre outros pontos, audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo discutirá suposto envolvimento da Fiesp e do consulado dos EUA

São Paulo – A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” realiza hoje (18), às 14h, audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo para debater o envolvimento do empresariado brasileiro e do consulado dos Estados Unidos com os órgãos de repressão na ditadura (1964-85). O deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), que preside a comissão, ressalta o papel do setor empresarial no apoio à repressão aos ativistas políticos da época. “É lógico que parte do empresariado brasileiro participou e se enriqueceu com o golpe”, disse à Rádio Brasil Atual.

Um documento encontrado pela comissão revelou uma suposta ligação da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do consulado com a repressão, conforme matéria publicada pela RBA no dia 8 de fevereiro.

As atas dos livros encontrados da portaria do antigo Portaria do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) mostra nomes como Geraldo Rezende de Matos, cujo cargo é identificado como “Fiesp”, e Claris Rowney Halliwell, cuja função é descrita como “consulado americano”. “Tudo isso tem que ser contado. Se não contarmos os fatos do passado, os grupos de extermínio e a tortura serão repetidos no presente”, afirma Diogo.

Ele ressalta outro ponto que será estudado pela comissão. “Tem uma coisa escabrosa que foi o fechamento da dompanhia Panair de aviação, pelos militares, para favorecer uma empresa militar do Rio Grande do Sul de origem germânica, a Varig. Este foi um dos maiores crimes, além dos crimes trabalhistas. Esta é uma história de um setor do empresariado contra outro. Precisamos aprofundar isso.”

A audiência de hoje vai ouvir também operários perseguidos pela ditadura militar. O objetivo é identificar como a repressão ocorreu dentro das fábricas, explica o deputado. De acordo com ele, a Comissão procura esclarecer o funcionamento do aparelho estatal na repressão. “A grande tese que estamos enfrentando agora é: a ditadura, a repressão, a tortura, o assassinato, o desaparecimento dos militantes políticos, foi uma coisa circunscrita a um grupo de civis e militares que estavam no poder ou era algo institucional do Estado brasileiro?.”

Diogo lembra que as Comissões da Verdade, tanto a Nacional (CNV) com as estaduais, têm como objetivo trazer a verdade à tona. “Onde estão os brasileiros desaparecidos, onde eles estão enterrados? Quem os matou, quem os sequestrou? Essa é a pergunta. A CNV e as Comissões estaduais não têm força de judicializar e responsabilizar, mas podem fazer com que pelo menos estes fatos venham à tona e sejam esclarecidos.”

O audiência de hoje será no auditório Paulo Kobayashi.

Ouça aqui a reportagem de Lúcia Rodrigues.