POVOS NATIVOS

Cimi alerta Funai para risco de genocídio de indígenas isolados recém-identificados

Comunidade possui sistema imunológico mais frágil e sofre com negligência da Funai

Fábio Nascimento / Greenpeace
Fábio Nascimento / Greenpeace
O povo isolado, até então desconhecidos, foi identificado durante uma expedição da Fundação Nacional do Índio (Funai) no sul do estado do Amazonas

São Paulo – O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) alerta que indígenas isolados recém-identificados no sul do Amazonas sofrem risco de genocídio. De acordo com a entidade, a Fundação Nacional do Índio (Funai) quer articular a abertura do território para realizar um contato direto com o povoado, o que pode resultar na transmissão de doenças e separação do grupo.

O coordenador do Cimi no Maranhão, Gilderlan Rodrigues, considera delicado o processo pós-identificação do grupo e não recomenda contato direto. “Há riscos, porque esses povos estão num processo de delicado, com risco de ter contato com doenças ou até perder o grupo. Essa política de contato é algo que a gente não recomenda implementar. Por isso, é a última instância”, explicou à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

O povo isolado, até então desconhecidos, foi identificado durante uma expedição da Fundação Nacional do Índio (Funai) no sul do estado do Amazonas. A comunidade fica na terra Ituna-Itatá, no município de Lábrea. Segundo estudiosos, o grupo formado por dezenas de indivíduos habita uma área de mata no município de Lábrea, próximo ao rio Purus. A informação foi repassada em setembro de 2021 para a Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados (GIIRC), vinculada à sede da Funai em Brasília, mas até hoje, cinco meses depois, o órgão não tomou as medidas necessárias à proteção do grupo.

Saúde de indígenas isolados

Segundo o especialista, o povoado está numa área fora da demarcação indígena da região, por isso precisa de um amparo legal e protetivo da Funai. “Quando você encontra um povo fora de uma área demarcada, a gente cobra que ela seja interditada para que o povo siga vivendo no seu território. Não faz sentido move-los para outra aldeia, seria uma violência grande contra eles. O ideal é que a Funai fizesse essa interdição, mas nada foi feito até agora”, criticou Gilderlan.

A proximidade com comunidades ribeirinhas expõe os indígenas ao contágio do coronavírus, em uma região onde a cobertura vacinal está abaixo de 30%. Por viverem isoladas, essas populações têm sistemas imunológicos mais suscetíveis a doenças infectocontagiosas.

“O sistema imunológico deles é diferente e não estão preparados para enfrentar as doenças da sociedade. Estamos numa pandemia e os territórios indígenas ainda sofrem com a covid-19, então nossa preocupação é muito grande”, explica o especialista do Cimi.

Uma nota intitulada “Negligência e risco de genocídio: a política da ‘Nova Funai’ voltada aos povos isolados”, assinada pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) e pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), alerta sobre os riscos da falta de ações da fundação. “A Funai deveria priorizar a construção de uma cordão sanitário no entorno da área ocupada pelos indígenas e elaborar plano de contingência, tanto para uma eventual situação de contato como para fazer a contenção do coronavírus na área”, prosseguem as entidades no texto. publicado na última quinta-feira (3).