Salve Zumbi

Cidades celebram a luta antirracista no feriado da consciência negra

Em São Paulo, extensa agenda cultural. Em Curitiba, em contraponto a evento de brancos da prefeitura, deputado Renato Freitas convoca audiência

Sec. Municipal de Educação de São Paulo
Sec. Municipal de Educação de São Paulo
Brasileiros de 1.260 municípios em seis estados, entre os mais populosos, tem este dia como feriado para guardar a memória e renovar a luta antirracista

São Paulo – Na próxima segunda-feira (20), o país celebra a Consciência Negra. Em meio aos eventos no mês, a data específica, 20 de novembro, marca a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 1695. Contudo, nem todos os estados consideram o dia como feriado. Mas praticamente metade dos brasileiros, 1.260 municípios em seis estados, entre os mais populosos, tem este dia para guardar a memória e renovar a luta antirracista.

Os estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo possuem decretos que valem para todo o território. Entre outras capitais, também consideram feriado João Pessoa, Florianópolis e Goiânia. Mesmo sendo considerada a capital mais negra do Brasil, Salvador fica fora dessa lista. É feriado em apenas cinco municípios do estado: Alagoinhas, Lauro de Freitas, Cruz Das Almas, Camaçari e Serrinha.

Consciência Negra em Curitiba

Algumas cidades e estados desconsideram a data, como o Paraná. Contudo, a prefeitura de Curitiba realizou nesta sexta-feira (17) um evento sobre o tema. Chamou a atenção dos internautas, contudo, que apenas brancos participavam. Entretanto, há o contraponto. Uma das maiores lideranças negras do país, o jovem deputado estadual Renato Freitas (PT), convocou a militância para audiência pública no dia 20 na Assembleia Legislativa. Em pauta, questões relacionadas ao ensino antirracista.

“Quando eu era criança, a escola nunca me entendeu e eu nunca entendi a escola. O colégio não percebia que os problemas que eu enfrentava vinham de fora do ambiente escolar como a pobreza, a falta de estrutura e o racismo. Eles falavam do meu cabelo. Da minha roupa. Me chamavam de beiçudo e eu ficava ali e observava também que o mesmo acontecia com os outros pretos da escola. Então, percebi que eles estavam como eu, invisíveis no fundo da sala torcendo para não serem vistos”, lembra Freitas.

Programação cultural em São Paulo

Fora de Curitiba, outras cidades marcam a Consciência Negra com festivais culturais relacionados com a luta antirracista. São Paulo, por exemplo, conta com uma ampla programação. Confira alguns destaques:

  • Festival Antirracista da Cidade de São Paulo: III Expo Internacional Dia da Consciência Negra terá mais de 15 atrações musicais gratuitas. Entre eles, Vanessa da Mata, Baco Exu do Blues e MC Don Juan, Mumuzinho. O evento começa amanhã (18) e vai até terça-feira no Memorial da América Latina, na Barra Funda, zona oeste da capital, bem próximo ao Metrô. O evento é gratuito, mas está sujeito a lotação máxima. Mais informações aqui.
  • 1º Encontro de Baterias: 500 ritmistas de dezenas de escolas de samba de São Paulo se apresentam no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, no domingo (19), às 14h. Gratuito.
  • 19ª Mostra Internacional de Cinema Negro: Centro Cultural da Fiesp, na Avenida Paulista, recebe mesas de discussão sobre ações afirmativas e antirracistas e exibe uma seleção de 14 curtas e nove filmes, entre eles, os documentários sobre os legados da sambista Beth Carvalho, do cantor e violonista João Gilberto e da vereadora Marielle Franco.
  • Baile do Simonal: Max de Castro e Wilson Simoninha reunidos para celebrar a memória de seu pai, o cantor Wilson Simonal. Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá, Jabaquara, zona sul. Gratuito.
  • 28ª Festa do Imigrante: No Museu da Imigração, na Mooca, tradicional bairro da zona leste de São Paulo. O evento próximo à estação Bresser do Metrô contará com 36 horas de programação cultural, com muita música, dança, gastronomia e artesanato, de diferentes comunidades. Vai de hoje até segunda, das 10h às 18h. Cobra-se ingresso de R$ 10 a R$ 20.
  • USP Filarmônica: A orquestra da Universidade de São Paulo apresentará um repertório que traz compositores pretos e pardos no concerto matinal na Sala São Paulo, no centro da capital. O evento está marcado para domingo e tem vagas limitadíssimas. Gratuito.
  • II Ocupa MAB, Festival de Música e Gastronomia Africana e Afro-brasileira: Museu Afro Brasil Emanoel Araujo terá apresentações musicais e de cultura popular com musicalidades. Desta vez, terá parceria com o Museu das Favelas, na segunda, das 9h às 18h. Entre as atrações, estão: Kemetic Yoga de Ana Sou, Roda de Jongo do Grupo Jongo Filhos da Semente, Capoeira do Mestre Limãozinho, Roda do Samba de Dandara e muito charme no Resenha Black Bom. Gratuito.
  • Áfricas no Brasil. Por uma história afro-brasileira: Palestra no Museu Catavento, próximo ao Mercadão, no centro. Na palestra, o historiador Dr. Douglas Araújo, tratará sobre como a historiografia brasileira tem tratado a presença africana no Brasil. Existe ou existiu alguma homogeneidade discursiva nos estudos clássicos sobre esse tema em nossa sociedade? Análises foram feitas “tendenciosamente” ou foram erros sistemáticos apenas?, entre outros pontos, no dia 25, das 14h às 16h. Gratuito.
  • Válvula: No Teatro Sérgio Cardoso (Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista), segunda-feira, 17h.  O concerto de hip-hop guia o público por meio de palavras e desenhos criados a partir dos riscos que caçadores-coletores fizeram nas rochas há 30.000 anos, pelas anotações dos romanos nas paredes das casas em Pompeia e pelos murais mexicanos de mais de 100 anos atrás. O espetáculo é composto, ainda, pelo MC e ativista Flávio Almada aka LBC Soldjah, que usa palavras e música para refletir sobre as contradições sociais das nossas cidades.

Artes visuais de Dinas Miguel contam histórias de resistência

consciência negra

Um exemplo dessa conscientização vem do artista visual Dinas Miguel, cujas obras transcendem as telas para contar histórias de resistência, pertencimento e transformação social por meio da representatividade dos povos negros e indígenas. Com formação em Artes Visuais e pós-graduação em Educação Ambiental, Dinas também é arte-educador e um agente de mudanças sociais.

Ainda criança, o artista iniciou sua trajetória artística e começou a dar aulas de grafitti já aos 15 anos, em um projeto sociocultural, sendo esse o impulso que o levou à universidade. Sua extensa carreira como arte-educador abrange desde escolas públicas e privadas, e até instituições de reabilitação, destacando a arte como uma ferramenta poderosa para a educação e empoderamento.

O artista utiliza sua obra para amplificar a mensagem de que tudo, incluindo o “descartável”, tem potencial para beleza e significado. “Entender que meio ambiente não é só planta, não é só árvore, não é só Amazônia, não é aquilo que está longe de nós. Meio ambiente somos nós, a forma como a gente cultua, como a gente partilha, como a gente se constrói, como  respeitamos o outro e o espaço de convívio, é equidade, todas essas coisas, tudo que envolve nossas vivências,  tudo isso é meio ambiente”, afirma.

Para saber mais sobre o artista, confira neste site.