Proposta inadequada

Camping para moradores de rua é deboche, diz o padre Julio Lancellotti

Para o vigário para o Povo de Rua, proposta da secretária dos Direitos Humanos e Cidadania Soninha Francine é inadequada. “Morador de rua espera acesso a moradia. A cidade já está cheia de barracas”

Marcelo Camargo/ABr
Marcelo Camargo/ABr
Exclusão nas ruas, já dominadas por barracas, aponta para necessidade de medidas estruturais

São Paulo – A proposta de criação de camping para moradores de rua, apresentada pela secretária de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Soninha Francine, não resolve o problema das pessoas em situação de rua, rebate o padre Julio Lancellotti. “Camping em cidade como São Paulo é deboche, ironia. O povo já está cheio de barracas pela cidade, que a própria prefeitura retira com truculência, tirando remédios, comida, roupa”, disse hoje (10) o vigário para o Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo em entrevista ao Uol News.

“O próprio secretário da Assistência Social está implementando maior utilização de leitos na rede hoteleira e também planejando projeto de moradias provisórias, no Projeto Recomeço. Na verdade nós teríamos de utilizar mais a locação social e com isso o secretário mostra que esse governo (Ricardo Nunes) não está em sintonia. Ele fala uma coisa e a secretária de Direitos Humanos fala outra. A população de rua espera acesso a moradia, locação social, rede hoteleira e não camping”, disse Lancellotti.

A polêmica ideia anunciada pela secretária, que assumiu o cargo no começo do mês, é criar um espaço para barracas com banheiro, chuveiro, local para lavar roupa e fazer refeições. Em 2017, na gestão de João Doria (PSDB), Soninha apresentou o mesmo projeto, que da mesma maneira foi duramente criticado e arquivado.

O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP) é outro crítico da proposta de enviar os moradores de rua para outro local. “Ao invés de investir em programas habitacionais e na geração de empregos, tudo o que querem é esconder a população em situação de rua para as próximas eleições”, escreveu o parlamentar em sua conta no Twitter. “Quem propõe algo assim acha que ocupar um cargo público é passeio!”

Presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara paulistana, a vereadora Erika Hilton (Psol) também criticou. “Gente… Porque não construir um plano para resolver definitivamente o problema? Moradia, emprego, direitos!? Vamos mudar tudo para não mudar nada? Tirar as pessoas das ruas e praças apenas para esconde-las em campings?”

Ao jornal Folha de S.Paulo, a coordenadora-geral do Instituto Pólis, Danielle Klintowitz também criticou. E falou sobre a necessidade de uma proposta definitiva para acolher a população de rua, que cresceu 31% somente nos últimos dois anos. “É fundamental que a gente tenha uma política permanente. Não adianta ter uma política transitória que faça ilusão de atendimento. Elas vão continuar passando frio, estando desassistidas às variações climáticas, condições precárias, em uma moradia improvisada.”

Censo da população de rua de São Paulo não mostra a realidade, contesta movimento