Após 154 quilômetros e 15 dias, marcha contra corrupção chega ao fim no Piauí

Dez municípios tiveram suas contas auditadas na 10ª edição anual da força-tarefa

São Paulo – Chegou ao fim nesta semana a 10ª edição da Marcha contra a Corrupção, promovida pela Força-Tarefa Popular do Piauí. Dez militantes marcharam por 154 quilômetros durante 15 dias pelo interior do estado investigando casos de desvio de recursos públicos, em uma atuação que é tida como exemplo de controle social no país. Entre Pio IX e Picos, foram dez municípios que tiveram as contas apuradas pelo grupo.

“Em alguns municípios tivemos situações muito feias das obras”, afirma Arimatéia Dantas, coordenador da Força-Tarefa Popular. Em Bocaina, por exemplo, foi encontrada uma indústria de beneficiamento de peixe construída com dinheiro público que ainda não foi aberta, e cujo prédio já tem mais verba autorizada para reforma. No abatedouro do mesmo local, os cidadãos encontraram lixo e lama, embora tenha sido aprovada, quatro anos atrás, a liberação de recursos para a construção de novas instalações. 

“É injustificável para muitas pessoas que a gente esteja caminhando simplesmente para combater a corrupção. Isso fez muitos cidadãos refletirem a respeito”, conta Dantas. A cada cidade, os integrantes da marcha cruzavam as planilhas da liberação de verbas pelo governo federal com a realidade local para averiguar a possibilidade de desvio pelas prefeituras. “Tínhamos, nessas dez cidades em que passamos, uma aula de cidadania com o povo.” Todas as noites, militantes e moradores locais trocavam informações para saber de que maneira podem ajudar na fiscalização do poder público.

Foram registrados casos de cidades sem ambulância, mesmo gozando de uma arrecadação de impostos na casa de R$ 700 mil ao mês, e municípios ainda sem o balanço de gastos de 2009, o que vai resultar na apresentação de ações ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério Público no Piauí por crime de responsabilidade contra o prefeito. 

Os demais casos ainda serão analisados e será dado um prazo para que as prefeituras se expliquem. Os participantes da marcha lamentam não terem obtido o devido apoio das câmaras municipais, órgãos cuja missão, entre outras coisas, inclui fiscalizar o Poder Executivo. “Nesse período de recesso, todo o Legislativo fecha, então se quiser ter acesso à prestação de contas não se consegue. É um problema grave que a gente precisa resolver”, critica Dantas.