Violência sexual

Anestesista que estuprou grávida durante parto pode ter violentado pelo menos outras seis mulheres

Depoimentos de pacientes e parentes têm semelhanças com o crime de estupro filmado que levou à prisão em flagrante o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra

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Em um dos depoimentos à polícia contra Giovanni Bezerra (foto), mulher contou que quando acordou, após o parto, estava com um "gosto muito ruim na boca"

São Paulo – Pelo menos seis mulheres foram à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, no Rio de Janeiro, depor contra o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante pelo crime de estupro de vulnerável, no último dia 11 de julho. Elas são pacientes que relatam terem sido atendidas pelo especialista no Hospital Estadual da Mulher, no município da Baixada Fluminense, e no Hospital da Mãe, na mesma região. 

De acordo com reportagem do jornal O Globo, as novas denúncias trazem elementos em comum ao caso que Giovanni foi flagrado introduzindo o pênis na boca de uma paciente enquanto ela estava sedada, um dia antes de ser preso. Os relatos dos parentes e das mulheres também descrevem sedação excessiva ao fim do parto. Assim como pedido do médico estuprador para que os acompanhantes deixassem o centro cirúrgico, até o fato das parturientes saírem com o rosto e pescoço sujos. 

No caso da mulher vítima de Giovanni, que teve o crime filmado, ela estava dopada e passava por um parto cesárea. A gravação do crime só foi possível ser feita pela ação de enfermeiras do Hospital da Mulher que decidiram usar um aparelho celular escondido para registrar o que ele fazia durante as cirurgias. Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, ontem (17), a gerente de enfermagem da unidade de saúde, Maria Aparecida de Lima, contou que as funcionárias já estavam desconfiadas há cerca de um mês, devido à quantidade de sedativo aplicada pelo anestesista. 

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Vídeo tem um hora e meia

Além disso, Maria Aparecida diz que Giovanni também não seguia alguns dos protocolos que credenciaram o hospital como “amigo da criança”. Era comum que, sem o acompanhante da parturiente no centro cirúrgico e com o bebê já nascido, Giovanni ficasse em pé, colado à cortina que se erguia sobre a parte superior da mulher. Sendo que pelo procedimento padrão, o anestesista deve ficar sentado em uma cadeira, monitorando a paciente e seus sinais vitais. 

No vídeo, que mostra Giovanni estuprando uma paciente durante o parto, ele está à frente do pescoço e a cabeça da vítima, com o capote – avental médico descartável – usado de forma invertida para que ele pudesse esconder o ato. A gravação inteira do crime tem uma hora e meia de duração e só foi vista pela equipe de enfermagem quando a cirurgia terminou. O anestesista foi afastado do parto seguinte que faria e impedido de deixar o hospital. As imagens foram entregues  à polícia que o prendeu na madrugada em flagrante. 

Naquele mesmo dia, no entanto, Giovanni participou de outros dois partos. Em depoimento, divulgado pelo Fantástico, a mulher que deu à luz na primeira cesárea contou que seu roupão tinha caído e que o anestesista tinha olhado para seus seios. E, em seguida, perguntado se ela estava com frio. À polícia, ela disse acreditar que o enfermeiro notou os olhares de Giovanni porque pegou o roupão e jogou nos ombros dela. 

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Gosto muito ruim na boca

O marido da mulher que passou pelo segundo parto daquele domingo também relatou que pediu para voltar para junto da esposa, por volta das 13h, mas que só conseguiu vê-la perto das 19h. Ele disse que quando chegou na enfermaria sua sogra afirmou que a filha tinha dito umas coisas estranhas e que ele deveria saber. O marido foi então conversar com a esposa e ela descreveu que quando acordou estava com um gosto muito ruim na boca. 

A delegada Bárbara Lomba, titular da especializada, declarou que a cena do crime “foi a pior que viu em 21 anos de polícia”. Na sexta (15), o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) aceitou a denúncia do Ministério Público. Giovanni agora é réu pelo crime de estupro de vulnerável. Essa tipificação é prevista nos casos em que a vítima não tem necessário discernimento para a prática do ato sexual ou não é capaz de oferecer resistência. A pena prevista neste tipo de crime é de 8 a 15 anos de prisão. 

Giovanni Quintella Bezerra tem 32 anos e há cinco vinha atuando como anestesista em ao menos 10 hospitais públicos e particulares do Rio. Ele é sócio do pai, um ginecologista, em uma clínica em Vila Isabel, na zona norte da capital fluminense. O médico estuprador vivia num apartamento alugado na Barra da Tijuca, na zona oeste, de frente para o mar. 

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima