'Delírio Racista'

Renato Freitas participa de evento em igreja onde fez protesto usado para cassar seu mandato

Advogado teve mandato de vereador (PT) cassado pela ala governista da Câmara de Curitiba, interessada em calar a luta antirracista

Facebook/Renato Freitas
Facebook/Renato Freitas
Freitas ao lado de Boff: Enquanto opositores de direita e extrema-direita o acusam de ter "invadido" um culto cristão, a Arquidiocese de Curitiba se manifestou em defesa de Freitas

São Paulo – Perseguido até ter seu o mandato cassado pela Câmara de Curitiba, após promover manifestação antirracista na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, na capital paranaense, o advogado Renato Freitas participou ontem (26) do evento “Religiões contra o Racismo”, na mesma igreja. Ele foi convidado pela Arquidiocese de Curitiba, que desde o início do caso se manifestou em defesa do agora ex-vereador pelo PT. “É muito louco pensar que, por conta de um ato antirracista que fizemos nesta igreja, parte dos vereadores entendeu que eu devo perder o mandato”, disse.

O templo é ligado historicamente à população preta curitibana. “Ao final, inauguramos uma placa com o nome original da igreja, e com isso, abrem-se novos tempos neste templo e na cidade. Tempos em que a luta contra o racismo passou a ser debatida na Câmara. Uma pena que a maioria dos vereadores, seguindo as ordens do prefeito, preferiu cassar quem luta contra o racismo, não quem o pratica”, afirmou o jovem, negro e periférico ativista.

Ao lado de Freitas, participaram do evento lideranças católicas. “Estavam lá várias lideranças religiosas, entre elas, o arcebispo de Feira de Santana (BA), Dom Zanoni, e o teólogo, filósofo e professor Leonardo Boff”, contou o ex-vereador. No início do mês, Boff havia participado de uma audiência pública organizada pelo mandato de Freitas, quando chamou a cassação iminente de “delírio racista”. “Uma coisa que tem que ficar bem clara é que não houve a profanação do espaço, mesmo desse espaço simbólico. Tudo isso que está acontecendo parece um delírio, um delírio racista, é um delírio desumano”, disse Boff na ocasião.

‘Delírio racista’

A defesa de Freitas tenta agora anular na Justiça a decisão pela cassação do mandato do parlamentar. O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) João Pedro Stédile esteve em Curitiba neste fim de semana e se encontrou com o ex-vereador. Ele disse esperar uma ação firme da Justiça contra o racismo. “Estive em Curitiba. Participando dos muitos debates e trocas de experiências da Jornada de Agroecologia. E pude manifestar nossa solidariedade ao companheiro Renato Freitas, vereador cassado pelo racismo dos seus colegas. Espero que o Judiciário faça justiça e recupere seu cargo, que é do povo trabalhador das periferias de Curitiba”, disse.

Freitas foi cassado por 25 votos a sete. “Todos os vereadores declarados negros da câmara de Curitiba votaram contrários à cassação do Vereador Renato Freitas. Será que é sobre racismo institucional ou não?”, questionou sua companheira de partido, a vereadora Carol Dartora. “A cassação do mandato do vereador Renato Freitas é vergonhosa e enfraquece o sistema democrático já que teve motivação exclusivamente racista”, reforçou o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP).

A também deputada federal Fernanda Melchiona (Psol-RS) se levantou contra o processo. “Foi votada a cassação em primeiro turno do mandato do vereador Renato Freitas em Curitiba. Um jovem negro e de esquerda perseguido pelas posições políticas. O racismo se expressando mais uma vez. Toda nossa solidariedade a Renato e repúdio aos que votaram por esse absurdo”, disse.