Degradação

Ex-presidente da Funai devolve medalha do Mérito Indigenista. ‘Bolsonaro ofende Rondon e Exército brasileiro’

“Transforma o algoz em herói”, lamentou Possuelo

Andressa Zumpano/Articulação das Pastorais do Campo
Andressa Zumpano/Articulação das Pastorais do Campo
Atual governo é conhecido por ataque a direitos das comunidades

São Paulo – Um dos mais conhecidos sertanistas do país, o ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) Sidney Possuelo decidiu devolver sua medalha do Mérito Indigenista, recebida 35 anos atrás. O gesto foi em protesto pela concessão da mesma honraria ao atual presidente da República. Uma “flagrante, descomunal, ostensiva contradição em relação a tudo que vivi e a todas as convicções cultivadas por homens da estatura dos Irmãos Villas Boas”, escreveu Possuelo em carta dirigida ao ministro da Justiça, Anderson Torres.

Ao repórter Rubens Valente, da Folha de S.Paulo, o sertanista disse que a homenagem perdeu a razão de ser. “Essa medalha, entregue a quem foi, transforma o algoz em herói. Porque essa medalha distingue aqueles que, de alguma forma, direta ou indiretamente auxiliaram aos povos indígenas na demarcação de terras, na saúde, na educação. E ela é totalmente imprópria e é uma forma não apenas de banalizar a medalha, é mais do que isso, é degradar a medalha.”

Possuelo protesta com devolução no Ministério da Justiça de medalha,recebida há 35 anos: (Reprodução/Arquivo pessoal)

O ativista não apenas anunciou, como protocolou a devolução no próprio Ministério da Justiça. “Quando deputado federal, o senhor Jair Bolsonaro, em breve e leviana manifestação na Câmara dos Deputados, afirmou que a ‘cavalaria brasileira foi muito incompetente'”, lembrou Possuelo. O então deputado acrescentou na ocasião que quem tinha sido “competente” era a cavalaria dos Estados Unidos, “que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”. Com isso, acrescentou o indigenista, o atual presidente ofendeu “a memória do marechal Rondon, e por extensão do Exército brasileiro”.

Além do presidente, vários ministros receberam a medalha, incluindo o próprio Torres. A medida causou revolta entre ativistas e representantes dos povos indígenas, que citam sistemático ataque do governo a seus direitos.


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