Agora é lei

Rua Frei Tito: via paulistana que tinha nome de torturador será renomeada

Depois de mais de oito anos de projeto, rua da Vila Leopoldina que levava nome do torturador Sérgio Paranhos Fleury agora passa a homenagear o dominicano Frei Tito

Wikimedia CC
Wikimedia CC
O dominicano Frei Tito foi uma das centenas de vítimas das torturas lideradas pelo sanguinário Fleury

São Paulo – Depois de mais de oito anos de tramitação na Câmara Municipal de São Paulo, entrou em vigor na sexta-feira (24), a lei que altera para o nome de Frei Tito a atual Rua Doutor Sérgio Paranhos Fleury, na Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista. O projeto, apresentando inicialmente em 2013 pelo vereador Orlando Silva (PCdoB), havia sido aprovado há um mês. Com o tempo ganhou coautoria Arselino Tatto (PT), Antonio Donato (PT), Alfredinho (PT), Jamil Murad (PCdoB), Juliana Cardoso (PT), Reis (PT) e Toninho Vespoli (Psol). Um mês após aprovação, a lei foi sancionada pelo prefeito Ricardo Nunes e foi publicada no Diário Oficial do Município sob o número 17.648/21.

O vereador Antonio Donato (PT) celebrou a mudança em sua conta no Twitter:

Onde fica

frei tito
A Rua Frei Tito fica numa travessa da Avenida Imperatriz Leopoldina (Google Mapas)

O frei dominicano Tito de Alencar Lima foi um dos precursores da Teologia da Libertação no Brasil, onde parte da Igreja, impulsionada pelo Concílio Vaticano II, alinhou sua luta com as lutas sociais em prol da vida da população mais pobre. Tito participou de várias manifestações contra a ditadura de 1964 e, mesmo após o exílio, dedicou sua vida a denunciar as crueldades que pairavam pelo Brasil naquela época.

Preso por Fleury e torturado pela “equipe” de carrascos orientados pelo delegado, que também era admirador do torturador general Carlos Alberto Brilhantes Ustra, Tito teria recebido choques elétricos na língua. Os torturadores, por deboche, diziam que aquilo era a “hóstia sagrada”, chamavam de “comunhão”. Frei Tito foi encontrado enforcado no dia 10 de agosto de 1974, durante seu exílio na França.

Repressão sangrenta

A trajetória de Frei Tito e dos freis dominicanos na resistência à ditadura foi retratada no filme Batismo de Sangue (2007), dirigido por Helvécio Ratton, No filme, baseado em livro homônimo do também dominicano Frei Betto, Tito é interpretado pelo ator Caio Blat. Sérgio Paranhos Fleury também tem retrato marcante no cinema, em Pra Frente Brasil (1982), vivido por Carlos Zara e dirigido por Roberto Farias.

Preso por Fleury e torturado pela “equipe” de carrascos orientados pelo delegado, que também era admirador de Ustra, Tito teria recebido choques elétricos na língua. Os torturadores, por deboche, diziam que aquilo era a “hóstia sagrada”, chamavam de “comunhão”.

Sérgio Fernando Paranhos Fleury, mais conhecido como delegado Fleury, foi um dos ícones da tirania do regime militar. Ele atuou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) a partir de 1968 e é considerado um dos repressores mais sanguinários do período. Fleury chefiou esquadrões da morte que atuavam nas periferias de São Paulo, entre as décadas de 1960 e 1970. Chegou a ser condenado, mas acabou absolvido.  Ele também é apontado como um dos responsáveis da Chacina da Lapa, em São Paulo. E, ainda, pela tortura e assassinato de figuras importantes que atuaram na luta contra a ditadura, como Carlos Lamarca e Carlos Marighella

Com informações do Brasil de Fato