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Pequeno agricultor distribui alimentos, mas não tem acesso a dieta saudável, critica fundo da ONU

Segundo relatório, pequenas propriedades têm 11% das terras e respondem por 31% dos alimentos produzidos no mundo

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Para fundo de investimento da ONU, pequenas propriedades são mais produtivas e têm maior diversidade de alimentos

São Paulo – “Os pequenos agricultores, trabalhadores rurais e empresários produzem, elaboram e distribuem grande parte dos alimentos do mundo. Mas muitos deles não podem ganhar a vida dignamente e não têm acesso a uma alimentação saudável.” A conclusão consta de relatório divulgado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), agência de investimento ligada às Nações Unidas. Assim, a entidade define os sistemas alimentares mundiais como injustos, inadequados e ineficientes. E sublinha que “811 milhões de pessoas passam fome e 2,4 bilhões sofrem insegurança alimentar, enquanto a obesidade e as carências de nutrientes crescem velozmente”.

Outro desafio, citado no relatório, é continuar alimentando uma população em contínuo crescimento. Para isso, estima o Fida, a produção agrícola mundial deverá crescer de 20% a 30% até 2050.

Pequenas propriedades

A organização ressalta a importância das pequenas propriedades (com até 2 hectares). “São mais produtivas e têm maior diversidade de alimentos, em comparação com as de maior tamanho. Segundo o relatório, esses locais “produzem 31% dos alimentos do mundo em menos de 11% das terras de cultivo”. Além disso, produzem alimentos “mais variados e ricos em nutrientes”.

Por isso, prossegue o Fida, “é necessário investir nos pequenos agricultores, especialmente aqueles que criam sinergias com pequenas e médias empresas que os põem em contato com serviços e mercados essenciais, além de oferecer oportunidades de diversificação, até emprego fora do setor agrário”. Assim, empresas devem dar prioridade, por exemplo, a alimentos produzidos na própria região. Outra recomendação é apoiar soluções “baseadas na natureza e estratégicas agroecológicas, assim como técnicas com baixas emissões de carbono e resilientes ao clima”. Os mercados, por sua vez, devem ser “acessíveis à população rural e a pequenas empresas, agrícolas e não agrícolas, em condições justas”.

Transformação constante

Dessa forma, será preciso uma “transformação sistemática” para modificar, como diz o Fida, “os profundos fatores estruturais de natureza econômica, política e cultural” que impedem o equilíbrio entre a população rural e sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis. Essa transformação “questionará suposições, mentalidades, procedimentos, interesses políticos e econômicos e as relações de poder”. E isso só será possível com colaboração entre governos, empresas, sociedade, organizações do setor rural e a comunidade científica.

No Brasil, a Contag lembra que a agricultura familiar responde por 70% da produção de alimentos consumidos. É, assim, um instrumento de desenvolvimento e criação de empregos. E o MST tem 400 mil famílias assentadas, em 160 cooperativas e 120 agroindústrias. Nesses tempos de pandemia, os pequenos agricultores ainda têm ajudado a população mais vulnerável com distribuição de alimentos.

Confira aqui o relatório, na versão em espanhol.


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