Reclamações

Trabalhadores relatam as dificuldades de sacar auxílio emergencial: ‘Não liberam o dinheiro’

Pessoas se expõem ao vírus em filas gigantes nas agências da Caixa Econômica Federal, em busca dos R$ 600

FOTOS PÚBLICAS
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Para a presidenta da (Contraf), Juvandia Moreira, todo esse processo demorado é culpa do governo federal

São Paulo – O auxílio emergencial está disponível para saque. Entretanto, milhares de pessoas relatam a dificuldade para ter acesso ao benefício. As longas filas, a falta de explicação e de orientação do governo Bolsonaro são as principais reclamações de quem necessita dos R$ 600.

Aprovado pelo Congresso Nacional em março, o auxílio emergencial foi criado para ajudar as famílias de trabalhadores prejudicadas pela pandemia do novo coronavírus. Porém, quase 43 milhões de pessoas ficaram de fora e ainda não conseguiram sacar nem transferir o dinheiro.

Pai de três filhos e desempregado, Marcelo Barbosa Vieira se diz revoltado com a falta de respostas dos canais de comunicação oferecidos pelo governo federal. Morador de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ele relata dificuldades desde a execução do cadastro.

“Desde o primeiro dia estou com a expectativa de receber. Olha essa fila aqui, é tudo pessoa esperando o dinheiro. Não estão liberando (o dinheiro) de jeito nenhum. Não adianta criarem um aplicativo e deixar todo mundo (com o status) ‘em analise’. Eu tenho filho, não dá para esperar. Eu vou ficar na fila para tentar resolver o problema, mas tem gente que vai voltar pra casa, sem resolver o problema, por conta do tanto gente”, afirmou, ao repórter Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual, enquanto aguardava atendimento em uma agência da Caixa Econômica Federal. Desde a semana passada, muitas pessoas têm sido expostas ao contágio pelo coronavírus em filas nas agências.

Correntistas reclamam

O saque do auxílio em dinheiro direto da poupança digital da Caixa para quem se inscreveu pelo aplicativo ou site começou na última segunda-feira (27). Ele está sendo liberado em etapas, de acordo com o mês de aniversário da pessoa, para evitar aglomerações nas agências.

Jaqueline Silva Rocha, moradora de Diadema, também no ABC, esteve com sua mãe numa fila da Caixa e relatou as dificuldades com as quais se depara, há mais um de um mês, para conseguir o auxílio. “No mês passado, ela foi sacar o benefício em uma casa lotérica e ele estava bloqueado. Dias atrás, tentou novamente e disseram que não estava disponível. Depois de ligar na central, disseram que o Bolsa Família foi sacado em Mauá e o auxílio também havia sido retirado.”

Segundo Jaqueline, o excesso de deslocamentos acaba trazendo ainda mais gastos. “É difícil, tem o problema do dinheiro, tendo que pagar passagem de ônibus pra vir, ela já está passando dificuldade em casa. Quando chegamos aqui, ninguém resolve nada.”

Janaína Trindade, moradora de Parelheiros, extremo sul da capital paulista, diz que o dinheiro está disponível em conta, mas a Caixa exige uma nova senha para ativar o cartão. Ela diz não entender as dificuldades impostas pelo governo federal, mesmo para quem é correntista do banco.

“Ontem, fui até a lotérica, mas informaram que não havia dinheiro. Como não uso cartão, tive que vir até aqui só para mudar a senha. São quatro horas de viagem. Isso já deveria estar disponível para todo mundo, até correntistas”, criticou.

43 milhões estão fora

De acordo com a Dataprev, empresa responsável pela análise do Auxílio Emergencial, foram processados 92,85 milhões de pedidos de auxílio emergencial, incluídos os cadastrados no Bolsa Família e no Cadastro Único (CadÚnico).

Do total de pedidos, 50,3 milhões (54,2%) foram aprovados, outros 29 milhões (31,2%) estão inelegíveis e não poderão receber o auxílio e 13,6 milhões (14,65%) estão classificados como inconclusivos, ou seja, precisam de complementação nos cadastros.

Até o momento, foram atendidas 13,5 milhões de famílias do Bolsa Famílias, totalizando 19,2 milhões de pessoas. Já do Cadastro Único, foram mais 10,5 milhões de pessoas. Assim, 42,55 milhões de pessoas que se candidataram a receber o auxílio emergencial até agora não tiveram acesso ao dinheiro. 

Para a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Juvandia Moreira, todo esse processo demorado é culpa do governo federal. “Fez um decreto centralizando os pagamentos na Caixa e demora a passar as informações. Os trabalhadores estão fazendo um excelente trabalho, não têm culpa se o aplicativo não funciona totalmente, e ainda correm risco de morte e contágio pelo coronavírus, ao atender 50 milhões de pessoas.”


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