Violência pública

Com novo governo, polícia do Rio mata quase 50% a mais no primeiro semestre

Rede de Observatórios de Segurança alerta mais uma vez: governo Witzel necessita mudar lógica da política de segurança pública, com mais ênfase em inteligência e menos em confronto

FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
Falta de articulação entre as polícias civil e militar, depois da extinção da Secretaria de Segurança, também foi outro problema apontado

São Paulo – Relatório divulgado pela Rede de Observatórios de Segurança revela que o Rio de Janeiro teve aumento de 46% nas mortes envolvendo violência policial no primeiro semestre. A comparação é com igual período de 2018.

No primeiro semestre do ano passado, foram registrados 82 casos de mortes por ação de agentes de segurança. O número saltou para 120 óbitos este ano. Entre grandes operações e patrulhamento, foram mais de mil ações policiais monitoradas. A conclusão da pesquisa Operações policiais no Rio em 2019: existe um novo padrão? é de que elas se tornaram mais frequentes, letais e assustadoras para a população, sem efetiva diminuição da violência.

De acordo com Silvia Ramos, coordenadora do Observatório da Segurança e da pesquisa, o governador Wilson Witzel (PSC) não consegue frear o crescimento dos grupos armados, por conta da falta de política de segurança de seu governo. “A novidade é que os milicianos se proliferaram para toda a área da região metropolitana. A milícia é algo específico do Rio de Janeiro. Se você não desarticula, sem usar a inteligência, identificação e prevenção, você faz a operação, mas vira fuzil contra fuzil e um monte de gente morre. No governo Witzel, a polícia desinteligente multiplicou o número de operações desorganizadas”, explicou, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

A falta de articulação entre as polícias civil e militar, depois da extinção da Secretaria de Segurança, é um dos problemas apontados. Enquanto as operações conjuntas foram uma marca do período da intervenção militar no estado, hoje, representa apenas 3% das ações policiais.

“A operação não é para ser feita por polícia militar. Há um desgaste muito grande quando você faz operações sem uma base de inteligência e informação, porque não tem essa competência legal para fazer e utiliza muito mais dos improvisos. A atividade prioritária é a prevenção e patrulhamento, sem operações”, avalia o antropólogo Robson Rodrigues, à repórter Viviane Nascimento, da TVT.

Mais mortes por policiais

A morte em decorrência da intervenção de agentes de segurança representa quase 30% das mortes violentas registradas em todo o estado fluminense. Apenas no primeiro semestre de 2019, foram 731 pessoas mortas por policiais. Quando se trata de tiroteios, apesar da diminuição da frequência tornaram-se mais letais. E quando houve participação de agentes de segurança, o número de vítimas cresceu 36,1%.

“Se seguir essa tendência, a gente vai passar o número de registros do ano passado de tiroteios com presença policial, além de ultrapassar os registros de mortes e feridos. Quando olhamos a longo prazo, a gente já superou os registros de 2017, sendo que estou comparando o ano inteiro de 2017 com seis meses de 2019″, alerta Maria Isabel Couto, do laboratório de dados Fogo Cruzado.

Os pesquisadores alertam mais uma vez sobre a necessidade de mudar a lógica da política de segurança aplicada no estado, com mais ênfase em inteligência e menos em confronto. “Num país que a gente registra mais 60 mil mortes, a primeira coisa é ter um governador que afirme que a principal meta da segurança pública é reduzir as mortes violentas. É um absurdo que isso não seja uma meta clara e evidente, no Rio de Janeiro”, acrescenta Pablo Nunes, da Rede de Observatórios de Segurança.

Assista à reportagem do Seu Jornal, da TVT

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