arte x violência

‘Sonho que, quando ela tiver 12 anos, as coisas estejam melhores para as mulheres’

Vítima de abuso adere a protesto pelo fim da violência contra a mulher, acompanhada da filha de 6 anos. ONG Rio de Paz preenche vão livre do Masp com fotos artísticas de mulheres que foram alvo de violência

Agliberto Lima/Folhapress

Vinte banners com rostos de mulheres e calcinhas foram espalhadas pelo chão. Voluntárias pintaram o rosto em apoio a campanha

São Paulo – Uma dona de casa (que prefere não se identificar) caminhava pela Avenida Paulista para pegar um ônibus para o Morumbi, na zona sul paulistana, quando foi convidada a participara de um protesto. O ato promovido por integrantes da ONG Rio de Paz exige do Estado políticas efetivas no combate à violência contra a mulher. A mulher não pensa duas vezes e pinta de vermelho seu rosto e o da filha, de 6 anos, como as outras manifestantes. “Fui abusada quando tinha a idade dela e não quero isso para minha filha. Sonho que, quando ela tiver 12 anos, as coisas estejam melhores para as mulheres. Por isso entrei na luta.”

Das 6h até as 14h, o vão livre do Masp foi preenchido por grandes retratos de mulheres vítimas de violência, com uma mão vermelha pintada sobre a boca, do projeto Nunca me Calarei, do fotógrafo carioca Marcelo Freitas. Na frente do painel, manifestantes imitavam as fotos e pintavam o próprio rosto com uma mão vermelha. No chão, foram expostas 420 calcinhas, representando a quantidade de mulheres estupradas no Brasil a cada 72 horas. Por ano, 50 mil mulheres são vítimas desse crime no país.

“Muitas mulheres que passavam por aqui pararam para tirar fotos e contar casos de abuso de que foram vítimas”, conta a coordenadora geral do ONG Rio de Paz, Fernanda Valim Martos. “Temos uma subnotificação grande dos crimes contra as mulheres porque nem todas as cidades têm delegacias específicas e porque o agente do Estado que as atende nem sempre está preparado para acolhê-las. Elas têm medo e muita vergonha, principalmente porque em 70% dos casos o abuso ocorre em local conhecido, como no trabalho ou em casa.”

Os manifestantes exigem investigação e punição dos agressores, a implementação de políticas de educação e de proteção de mulheres pobres, que são as mais vulneráveis, e políticas de apoio psicológico às vítimas. O protesto já ocorreu no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, na última segunda-feira (6). Na próxima semana, a estrutura será montada em Brasília, na Esplanada dos Ministérios.

“Algumas horas depois que terminamos o ato no Rio de Janeiro, uma mulher foi estuprada naquele local. Isso tem que acabar”, desabafa o fotógrafo Freitas. A mãe dele está em uma das fotografias expostas, por ter sido vítima de uma tentativa de estupro em um táxi. “Não é só uma fotografia, as mulheres se abrem contando o que viveram. Uma delas foi assediada pelo próprio pediatra. Queremos convidá-las a não se calarem mais.”

A estudante de Direito Ana Carolina Lima chegou ao protesto às 7h. “Depois do estupro coletivo no Rio de Janeiro, a visibilidade para o tema tem sido maior”, avalia. “Esse protesto é uma forma de demonstrar apoio e de fazer as pessoas refletirem.”