vista grossa

Mulheres protestam contra formatura de estudante de Medicina acusado de estupro

Ao todo, 30 militantes ligadas a pelo menos três movimentos feministas levaram para universidade uma faixa dizendo “A FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) autoriza o estupro”

Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

“A faculdade criminaliza o aborto, mas autoriza o estupro”, bradou uma das manifestantes

São Paulo – Mulheres integrantes de movimentos feministas reuniram-se na tarde de hoje (9) em frente à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na zona oeste da capital paulista, pra protestar contra a formatura do estudante Daniel Tarciso da Silva Cardoso, acusado de dopar e estuprar pelo menos seis estudantes em festas universitárias. Cardoso concluiu o curso de medicina em 25 de outubro e pretende especializar-se em ginecologia e obstetrícia, segundo professores e colegas.

As mulheres levaram uma bateria para a porta da universidade e ergueram uma faixa com os dizeres: “A FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) autoriza o estupro. Chega de violência contra as mulheres”. A faixa foi levada para dentro da faculdade. A mesma frase foi escrita no muro do Cemitério do Araçá, localizado em frente.

Participaram do ato integrantes da Marcha Mundial das Mulheres, do Coletivo Geni, ligado à própria Faculdade de Medicina e do Coletivo Leila Gonzalez, das alunas das Ciências Sociais da USP. Pelo menos 30 mulheres estiveram presentes. “É uma contradição: a faculdade criminaliza o aborto, mas autoriza o estupro”, afirmou uma das manifestantes em microfone aberto, instalado na Avenida Doutor Arnaldo.

Professores e pesquisadores da Rede Não Cala USP, criada para acolher vítimas de violência sexual e de gênero, divulgaram nota de repúdio à decisão da universidade de permitir que o aluno cole grau. “O que compromete mais o nome da faculdade: revelar tais casos ou proteger quem cometeu uma agressão?”, questiona o texto.

A Faculdade de Medicina da USP não se pronunciou sobre o caso. A cerimônia de formatura da turma de Cardoso será no próximo dia 17, mas a faculdade não informou se ele participará ou não.

RBA
Em protesto, mulheres picham muro do Cemitério do Araçá, em frente a faculdade

Em 2014, o coletivo revelou casos de violência sexual, castigos físicos e preconceito na Faculdade de Medicina da USP, uma das mais importantes do país. Três das seis vítimas formalizaram a denúncia na faculdade e as outras três à Rede Não Cala USP.

Cardoso foi acusado pelo Ministério Público por dois dos casos de violência sexual, que correm em segredo de Justiça. Um deles diz respeito ao estupro de aluna do curso de Enfermagem que, em 2012, foi dopada em uma festa e acordou durante o estupro na Casa do Estudante, residência estudantil onde Cardoso morava.

O acusado foi suspenso por um ano e meio após determinação de um processo disciplinar instaurado pela faculdade a partir do parecer da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Trotes, realizada entre novembro de 2014 e março de 2015. Passado o período, o aluno fez a última prova que faltava para terminar o curso e poderá colar grau.

Professores e alunos repudiaram o fim da suspensão de Cardoso. “Queremos mostrar que a diplomação dessa pessoa não será feita por debaixo dos panos e nem impunemente. A diretoria tem uma postura de lavar as mãos com os casos de violência denunciados, como se não houvesse nada o que eles pudessem fazer. Eles querem silêncio, mas nós queremos justiça”, afirmou a estudante da faculdade Ana Cunha, em entrevista à Ponte Jornalismo.

Pesquisadores, alunos e professores chegaram a pedir a extensão da suspensão de Cardoso, mas a Procuradoria da USP não aceitou o pedido e declarou que ele está apto para se formar médico. A professora Maria Ivete Boulos, que coordena o Núcleo de Estudos e Ações em Direitos Humanos (Neadh), tentou impedir que Cardoso realizasse a última prova, porém, foi avisada por e-mail, em 17 de outubro, que estava afastada do cargo.

Entre 2004 e 2008, Cardoso foi policial militar e no seu primeiro ano matou um homem com oito tiros durante uma briga em um bloco de carnaval. Ele foi denunciado por homicídio doloso e condenado por homicídio culposo, após alegar que cometeu o crime em legítima defesa. Em 2012, no entanto, Tribunal de Justiça de São Paulo extinguiu a pena, após recurso.

Com informações da Ponte Jornalismo


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