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São Paulo tem 1.085 propriedades ociosas na mira do plano diretor

Do total de imóveis que podem ser parcelados ou desapropriados para moradias de interesse social em áreas valorizadas, 636 foram notificados para serem enquadrados no IPTU progressivo

CC / Lukaaz

São Paulo – Um ano e quatro meses após a entrada em vigor do Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE), a cidade tem 636 imóveis ociosos ou subutilizados que foram notificados para serem enquadrados no IPTU progressivo, informou nesta quarta-feira (25) o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Mello Franco. A cidade conta também 1.085 imóveis cadastrados e 170 em análise para notificação, segundo balanço da implementação do PDE, apresentado pelo secretário no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo.

A notificação para o IPTU progressivo é um instrumento para baratear o custo de terrenos que serão voltados à construção de habitações de interesse social. Segundo o PDE, esse recurso, chamado de Parcelamento, Edificação e Utilização Compulsórios (PEUC), envolve áreas do centro e da Água Branca (zona oeste) que são objetos de operações urbanas – concessões de potencial construtivo que o poder público faz à lei de zoneamento, recebendo da iniciativa privada contrapartida financeira que é aplicada em melhorias urbanas. Também são alvos das notificações os imóveis em Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis).

Esse instrumento que obriga o proprietário a dar uma função social ao imóvel se não quiser cair no IPTU progressivo é a forma que a sociedade e o poder público encontraram para tentar proporcionar moradias populares perto dos locais de trabalho, reduzindo a necessidade de deslocamentos. “Se a pessoa tem de pagar um IPTU mais alto, ela vai ficar estimulada a construir ou a se desfazer do terreno, aumentando a oferta de imóveis. Um dos maiores problemas para a produção de moradia é o preço da terra”, afirma o secretário de Cultura da cidade, Nabil Bonduki, que foi relator do PDE na Câmara Municipal.

Se a implementação do PDE na habitação social der certo, será revertida uma tendência histórica, resultado da especulação imobiliária, que é empurrar os trabalhadores para a periferia da cidade. “O desafio é aproximar a habitação do emprego. Temos de levar emprego para a periferia e trazer habitação para o centro”, disse Bonduki, para quem a política habitacional é questão central no desenvolvimento da cidade.

Daniela Zilio
Fernando Mello Franco e Nabil Bonduki: debate sobre a apropriação de um novo modelo para a cidade

O plano diretor também define a destinação de 30% dos recursos do Fundurb para os projetos de moradias. O Fundurb é o fundo mantido com recursos da venda de potencial construtivo, também chamada de outorga onerosa, proveniente das operações urbanas. Desde 2008, esse fundo arrecada mais de R$ 100 milhões por ano, e em 2014 e neste ano tem arrecadação acumulada em R$ 323,7 milhões.

As operações urbanas, como outros instrumentos de política urbana adotados na cidade, são anteriores ao PDE e foram criadas em 1995 nas regiões da avenida Faria Lima e Água Branca. Mas a partir das discussões em audiências públicas para a elaboração do plano diretor foram criadas as “cotas de solidariedade” para permitir outra fonte de recursos à habitação de interesse social. Essas cotas são obtidas como contrapartidas do licenciamento de grandes empreendimentos imobiliários e projetos urbanos. Sua regulamentação foi publicada por decreto (56.538), em julho deste ano.

Para a professora de planejamento urbano da FAU-USP Paula Freire Santoro, uma das maiores conquistas do plano diretor foi a destinação de recursos do Fundurb para a habitação de interesse social. “Ampliamos também as áreas de Zeis (áreas demarcadas para assentamentos habitacionais de população de baixa renda). A gente teve um debate sobre as cotas de solidariedade e conseguimos driblar um pouco a política de terras caras no centro da cidade”, afirmou. “Conseguimos também resgatar o conceito de área rural para a agricultura ecológica”, diz ao destacar essa intervenção do PDE na região do extremo sul da cidade.

Mobilidade como vitrine

Mas se as iniciativas habitacionais ainda estão nos planos burocráticos, a mobilidade é a grande vitrine do plano diretor, já que ele consolida as experiências dos corredores de ônibus e da prioridade para pedestres e ciclistas. “O PDE definiu uma proposta de um processo que já vinha acontecendo e se acelerou, que é estimular o transporte coletivo e a mobilidade não motorizada. A gente percebe hoje quando a prefeitura lança o Programa Cidade Aberta (voltado a dar transparência às ações do executivo municipal) que existe um diálogo com essa proposta de racionalizar o uso do carro. As ciclovias também vão ajudar a mudar o padrão de mobilidade e o PDE foi marcante nessa reversão”, disse Nabil Bonduki.

Dos recursos do Fundurb, a maior parcela, de 48%, vai para as obras de drenagem e corredores de ônibus. Mas o que para Bonduki é importante é a apropriação dos conceitos do plano diretor pela sociedade. “Se isso acontecer, fica difícil ser revertido”, afirma, em referência às alternâncias de poder executivo. “Se o governo quiser mudar o plano de mobilidade, terá oposição da sociedade”, disse, lembrando que a ampliação das marginais, feita pelo então governador José Serra, eleito em 2006, hoje seria uma obra que não passaria pela aprovação da opinião pública sem corredores de ônibus e ciclovias.