dia mundial sem carro

Prefeitura de São Paulo quer mobilizar a cidade para reduzir acidentes de trânsito

“Está na hora de construirmos um consenso na cidade, colocando a vida em primeiro lugar”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha, em debate hoje (22) sobre mobilidade urbana

Luanda Nera / Rede Nossa São Paulo

Padilha chega no debate no Sesc Consolação: consenso na cidade para reduzir as vítimas de acidentes

São Paulo – A necessidade de reduzir vítimas e acidentes de trânsito em São Paulo pautaram o debate realizado hoje (22), no Sesc Consolação, durante lançamento de pesquisa sobre mobilidade urbana feita pelo Ibope para a Rede Nossa São Paulo e FecomercioSP.

“Está na hora de construirmos um consenso na cidade, colocando a vida em primeiro lugar”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha, que foi ao evento de bicicleta para mostrar sua participação no Dia Mundial Sem Carro, celebrado nesta terça-feira em todo o mundo.

Padilha lembrou que a cidade tem por ano 9,5 mil pessoas internadas como vítimas de acidentes de trânsito. Nesse caso, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem uma despesa de R$ 16 milhões, valor que, segundo o secretário, dobra se considerado o período após a internação, para a reabilitação física dessas vítimas.

Mas não é o dispêndio com o sistema de saúde que move o interesse da prefeitura em esquentar esse debate e sim a valorização da vida e a transformação das relações entre os indivíduos na cidade. A prefeitura espera que essa discussão se torne mais intensa daqui por diante, com maior aceitação da redução de velocidade nas marginais e em outras vias estruturantes do trânsito.

Na quinta-feira (24), as secretarias municipais de Saúde e Transportes assinam a criação de um observatório comum entre as duas pastas para estudar e propor intervenções necessárias para aumentar a segurança no trânsito.

A pesquisa divulgada hoje, que ouviu 700 moradores da capital entre 28 de agosto e o último dia 5, aponta que 53% são contra a redução de velocidade, enquanto 43% são favoráveis. A aceitação da medida é maior entre as pessoas de baixa renda (52%) e que usam o automóvel raramente (54%), e diminui entre as pessoas de maior poder aquisitivo (33%).

Mas frente à redução de 35% nos acidentes já apurada pela prefeitura nesta fase inicial, o secretário dos Transportes, Jilmar Tatto, acredita que a aceitação vai melhorar na próxima pesquisa. “A redução de velocidade exige uma mudança no comportamento das pessoas, é algo que mexe com o cérebro da pessoa”, afirmou.

Entre os especialistas em saúde e trânsito que estavam no debate não há dúvida de que o prefeito Fernando Haddad agiu certo ao anunciar a redução de velocidade. “A redução da velocidade deve crescer em aprovação”, concordou o especialista em trânsito Jakow Grajew, para quem o trânsito mostra como a sociedade se comporta e respeita o seu semelhante.

Grajew lembrou que o Brasil é signatário de uma campanha da Organização Mundial de Saúde (OMS) para reduzir as vítimas de acidentes à metade até 2020. Em outubro, haverá uma reunião da campanha em Brasília para fazer um balanço das ações de cada país até agora. Mas Grajew acredita que o Brasil está perdendo essa corrida.

Apenas para comparação, ele disse que Espanha e o estado de São Paulo tinham no início da campanha índices de acidentes bastante próximos, de 13 vítimas por 100 mil habitantes e 16 vítimas por 100 mil habitantes respectivamente. Mas hoje, depois que a Espanha se engajou seriamente na campanha, esse índice caiu para três vítimas por 100 mil habitantes, enquanto São Paulo agora tem 17 vítimas na mesma base de estudo.

“Na Espanha, houve uma separação das autoridades de trânsito da política”, afirmou, destacando que as medidas necessárias, como a redução de velocidade, são impopulares à primeira vista. “Mas a primeira missão da campanha na Espanha é que as pessoas cheguem em casa sãs e salvas todas as noites”, disse, observando o caráter de educação do programa espanhol.

Diferença entre carro e ônibus

Um dos dados mais importantes da pesquisa divulgada hoje é quanto ao tempo médio de deslocamento na cidade para a atividade principal, como o trabalho, que ficou em 1h44, repetindo o resultado do ano passado. Dos entrevistados, 23% levam pelo menos duas horas para ir e voltar da atividade principal e 35%, entre uma e duas horas.

Considerando todos os deslocamentos na cidade, o tempo médio ficou em 2h38, um pouco menor do que em 2014 (2h46). Entre os que utilizam carro todos os dias ou quase todos os dias, o tempo médio ficou em 2h48. E entre os que usam transporte público todos os dias ou quase todos os dias, em 2h56. Essa diferença, de apenas oito minutos, surpreendeu os especialistas. “Isso ocorre devido à criação de faixas exclusivas”, afirmou Tatto. “O usuário fica menos tempo no sistema de transporte. A velocidade média dos ônibus subiu de 13 km/h para 22 km/h.”

A pesquisa constatou que 90% dos entrevistados são a favor da construção de faixas e corredores de ônibus. “Vamos precisar limitar cada vez mais a cultura do uso intensivo do automóvel”, afirmou o coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi.

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