Tensão

Apreensão e medo entre indígenas frente aos constantes ataques no Mato Grosso do Sul

Após novos ataques de fazendeiros armados na região de Dourados (MS), Cimi cobra celeridade em demarcações

Marcello Casal/Abr

Após assassinato de um índigena, na última semana, ataques se alastram no interior do MS

São Paulo – A tensão entre fazendeiros e indígenas segue elevada no interior do Mato Grosso do Sul, após novos ataques, agora na região do município de Dourados. Na semana passada, um índio foi morto a tiros, após uma tentativa desesperada de retomada de territórios que já foram demarcados. Uma ação no STF impede a conclusão da homologação das terras.

O secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cléber Buzatto, em entrevista à Rádio Brasil Atual, diz que o clima é de medo por parte das lideranças guarani-kaiowá frente aos constantes ataques e relata que, no último final de semana, um grupo organizado de ruralistas com cerca de 30 camionetes desferiu ataques ao tekohá (território indígena) Piracambi, que fica no município de Douradina, na região de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Não houve feridos graves. No sábado, após conversa com o vice-prefeito de Douradina, José Aílton de Souza Nunes (PSDB-MS), os ruralistas se evadiram.

A área já foi identificada como reserva indígena, mas, segundo Cléber, os procedimentos de demarcação ainda se encontram em fase inicial. Ele reclama da paralisação desses procedimentos e da morosidade do governo federal no envio de forças de seguranças que garantissem a integridade das populações indígenas frente às agressões dos fazendeiros. “Essa paralisação, como temos dito, acaba por potencializar os conflitos e a violência contra as comunidades.”

O secretário-executivo do Cimi lembra que, no caso do tekohá Paracambi, trata-se de uma pequena comunidade guarani-kaiowá, de cerca de 20 famílias que ocupam uma área equivalente a dois campos de futebol e, portanto, ainda mais vulneráveis ao assédio dos ruralistas. “O que nos preocupa muito é que a Força Nacional não esteve lá. Isso é preocupante, porque, se voltarem a acontecer casos semelhantes, as comunidades ficam à mercê desses ataques.”

“Como os procedimentos não têm andamento, as comunidades se sentem na obrigação de fazerem, elas mesmas, algumas ações no sentido de chamar a atenção das autoridades competentes”, afirma Cléber Buzatto, que destaca o desequilíbrio de forças entre indígenas e fazendeiros. Ele voltou a afirmar que os ruralistas abriram mão de recorrer às instâncias judiciais e atuam “no formato de ações paramilitares”.

Cléber avalia que só com ações mais céleres na demarcação das terras indígenas será possível pôr fim aos casos de violência e violação dos direitos dos povos indígenas.

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