Assembleia Legislativa SP

Presidente de CPI defende que trote seja enquadrado no capítulo da tortura

Em audiência realizada hoje na comissão que apura violência nas universidades, médico formado na Unicamp contou experiências em festas de 'recepção' a calouros, como lamber o chão do banheiro

Roberto Navarro/Assembleia Lewgislativa

Os deputados Ulisses Tassinari (PV) e Adriano Diogo (direita) ouvem o médico Gines Villarinho

São Paulo – O deputado estadual Adriano Diogo (PT) defendeu hoje (5), em audiência da CPI que apura violação dos direitos humanos e trotes violentos nas universidades paulistas, que o trote precisa ter tratamento específico na legislação criminal. “O trote deveria ser enquadrado criminalmente no capítulo da tortura, e não como é enquadrado atualmente pela polícia, no máximo como atentado violento ao pudor”, disse o parlamentar, que preside a comissão.

A tipificação da prática como crime já havia sido defendida pelo advogado Fabio Romeu Canton Filho, da Comissão contra o Trote Universitário da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “A tipificação seria um elemento a mais contra o trote. O que a gente pretende é acabar com o trote. Se for elevado à condição de tortura, seria um avanço e um fator inibidor da prática nas universidades brasileiras”, afirmou, na sessão de 12 de fevereiro.

Na audiência de hoje, o depoente Gines Villarinho, formado em 2012 na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), deu exemplos de experiências violentas que poderiam ser enquadradas como tortura. Segundo ele, em uma festa destinada a recepcionar calouros, promovida por membros do centro acadêmico e da atlética numa chácara em Paulínia, a recepção foi bem diferente do que esperava. Recebeu cusparada de cerveja, foi obrigado a lamber o chão do banheiro e passar por corredor de veteranos sob socos e chutes.

“Um veterano mandou que eu deitasse no chão, como se eu fosse uma prancha, subiu em minhas costas e começou a pular. Aí comecei a pensar que isso não era só uma brincadeira, que estava passando dos limites”, contou.

Hoje médico, ele disse que devido a esse estado de coisas decidiu não participar da festa de formatura ao se graduar e proibiu que seu nome fosse incluído na placa de bronze dos formandos. Enquanto cursava a faculdade, Villarinho passou a ser discriminado por distribuir cartas aos recém-chegados à faculdade, com alertas para os riscos de trotes nas festas.

Com informações da Agência de Notícias da Assembleia Legislativa

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